“A vida deve ser vivida olhando adiante, mas apenas será entendida ao olharmos para trás”, Soren Kierkegaard
Essa frase está escrita em um post it no mural que fica a minha frente enquanto trabalho. Neste momento eu não consigo recordar em que filme ou série ou livro eu a encontrei pela primeira vez – provavelmente de ficção científica.
No último episódio de Uma Questão de Química Elizabeth Zott usa uma frase bem parecida ao explicar sobre a imprevisibilidade da vida. Sobre como nossas vidas se entrelaçam as de outras pessoas, nossos rumos mudam, o quão pouco temos de controle sobre tudo isso e, justamente por isso, tudo é tão fascinante.
Brie Larson é Elizabeth Zott, protagonista desta minissérie da Apple TV que, da mesma forma que Slow Horses, parece não ter chegado ao grande público. O que, sinceramente, é uma pena.
Baseada em um livro que se tornou best seller – a autora é também produtora da série – em dezenas de países, a série traz uma protagonista que, mesmo sem poderes extraterrestres, lembra bastante a outra personagem que marcou a carreira da atriz, a Capitã Marcel: em plenos anos 60, ela tenta se encaixar em um mundo que está muito longe de ter uma visão igualitária de gêneros (continua longe) ao escolher como profissão a pesquisa química. Inteligente e bonita, ela sonha em mudar o mundo com suas descobertas, enquanto insistem em lhe perguntar sobre para onde sonha viajar em uma lua de mel que ela não tem qualquer intenção de ter.
Constantemente silenciada e menosprezada, Elizabeth se divide entre o trabalho no laboratório e a a cozinha de sua casa, onde aprimora dia a dia seus pratos.
A imprevisibilidade da vida acaba por colocar em seu caminho Calvin Evans (Lewis Pulman, lindo), um introvertido e brilhante pesquisador, considerado tão cheio de manias quanto a própria Elizabeth. Pouco dado ao que a sociedade cita como certo e errado, Calvin enxerga a inteligência de Elizabeth e os dois se aproximam. Com uma química palpável (não resisti a usar), se tornarão um dos mais lindos casais que a ficção trouxe para minha vida.
Infelizmente, como a frase que começa este texto diz, só entendemos realmente a vida ao olhar para trás, e as surpresas para Zott não serão todas boas – eu demorei semanas para retomar a série depois de sofrer verdadeiramente com o terceiro episódio.
A vida levará Elizabeth a criar uma filha pequena com a ajuda apenas de seu cachorro e de uma vizinha e, por mais estranho que possa parecer, a se tornar a maior estrela da TV ao apresentar um programa culinário.
Se o improvável domina o roteiro delicioso da série, a produção garante cuidado com todo o restante: o elenco é ótimo, com destaque para a participação de Kevin Sussman como diretor do programa de TV (ele fazia o Stuart em The Big Bang Theory, lembram?) e de Aja Naomi King como a vizinha Harriet.
A ambientação, cenários, roupas são um show a parte, nos fazendo viajar no tempo.
Um daqueles casos em que é impossível não ficar inspirado a mudar o mundo, nem que seja um pouquinho, quando os letreiros sobem na tela.
P.S. O cachorro é a coisa mais fofa do mundo também!