O cinema está em guerra. De um lado, produções independentes com filmes menores, junto de improváveis sucessos em comédias românticas, conseguem lentamente conquistar seu lugar ao sol após serem eclipsados nas últimas décadas pelos enormes lançamentos de franquias de super heróis. De outro, estas grandes produções, de orçamentos gigantescos, seguem tentando provar seu valor para além do entretenimento pelo entretenimento.
E entre esses dois grandes oponentes, temos o público. Meio perdido, em franca mutação de hábitos e desejos depois de anos de isolamento e ainda reaprendendo a se comportar dentro de uma sala de cinema. Se for para gastar uma graninha considerável e “perder” algumas horas do seu dia em uma sala fechada com mais outras duzentas pessoas, que filme você vai escolher assistir? O filmão cheio de efeitos especiais ou o filminho indie carregado de sutilezas?
Dennis Villeneuve, diretor franco-canadense de pérolas como O Homem Duplicado, A Chegada e Blade Runner 2049, entre outros, não está alheio a essa discussão e mostra em seu mais recente título, Duna: Parte 2, que claramente escolheu seu lado nesse embate.
Esse é o segundo filme da franquia, que por sua vez é um remake da adaptação cinematográfica de 1984 do clássico livro de Frank Herbert. Duna: Parte 2 chega após muita espera e muita especulação, com Villeneuve mostrando a que veio. O primeiro filme, lançado em 2021, recebeu boas avaliações, ainda que tenha sido criticado pela cansativa abordagem introdutória dos personagens.
De lá pra cá, Villeneuve trabalhou calado, mas também hablou muito sempre que lhe deram a menor oportunidade. Durante a press tour de lançamento Duna: Parte 2, o diretor foi bastante vocal sobre como “a TV está matando o cinema” e como filmes com muito diálogo são “péssimos”, exaltando a supremacia da imagem em detrimento do texto.
É o que vemos em Duna: Parte 2. Nesta continuação do universo criado por Frank Herbert, vamos acompanhar a jornada mítica de Paul Atreides (Timothée Chalamet), agora ao lado de Chani (Zendaya) e dos Fremen, que pode levá-los até a uma guerra, se necessário for, para Paul se vingar dos conspiradores que destruíram sua família. Diante da difícil escolha entre o amor de sua vida e o destino do universo conhecido, é hora de Paul dar tudo de si para evitar o futuro terrível que só ele pode prever.
Para contar essa história, Villeneuve se vale de uma produção babilônica, para dizer o mínimo. É difícil não ficar de queixo caído durante todo o filme; e como o filme é longo, recomendo que você se cuide para não sair da sessão com a mandíbula deslocada. A fotografia é algo que não tem patamar na história do cinema, e eu digo isso com tranquilidade e o queixo ainda em recuperação.
Enquanto o primeiro filme beirou o didático, agora já conhecemos os personagens e temos muito mais espaço para a ação em si. Assim, as quase três horas do longa passam voando em meio a batalhas épicas, conflitos, barracos e pura adrenalina. Os dilemas do nosso herói Paul se tornam os nossos à medida que somos hipnotizados pela grandiosidade da trama que se apresenta diante dos nossos olhos.
Não tem como não dar razão a Villeneuve: este é um filme para assistir no IMAX. Além de plasticamente impressionante, a magnitude da história contada exige a maior tela possível.
Colaborando, e muito, para a enormidade da produção, temos um elenco que trabalha em uma sinergia palpável. Timothée Chalamet e Zendaya entregam as performances de suas vidas, e ainda temos nomes como Rebecca Ferguson, Austin Butler, Florence Pugh e Christopher Walken em atuações gigantes.
Estamos apenas em fevereiro, mas me sinto totalmente confortável em dizer que Duna: Parte 2 é o filme do ano. Pelo poder da história contada, pela magnitude da produção e, principalmente, pelo amor à arte que transborda do coração de Villeneuve e é representado a cada cena, em cada detalhe.
Na guerra do cinema, costumo ficar do lado das pequenas produções e dos filmes mais simples. Dessa vez, me dobro e preciso admitir: é possível fazer um blockbuster com alma. Villeneuve conseguiu.
Duna: Parte 2 é dirigido por Dennis Villeneuve a partir de roteiro co-escrito com Jon Spaihts, baseado no romance de Frank Herbert. O filme tem produção de Mary Parent, Cale Boyter, Villeneuve, Tanya Lapointe e Patrick McCormick. Os produtores executivos são Josh Grode, Herbert W. Gains, Jon Spaihts, Thomas Tull, Brian Herbert, Byron Merritt, Kim Herbert, com Kevin J. Anderson como consultor criativo.
A Warner Bros. Pictures e a Legendary Pictures apresentam uma produção da Legendary Pictures. Duna: Parte 2 chega às salas de cinema e salas IMAX a partir de 29 de fevereiro de 2024, com distribuição internacional da Warner Bros. Pictures.
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