Pobre pode receber imensa herança de parente desconhecido, desde que cumpra as exigências absurdas que o parente estabeleceu, neste caso gastar uma pequena fortuna, R$ 30 milhões, em apenas 30 dias sem acumular nada além do que tem no dia em que foi informado da herança.
Você acha que já viu esta história antes? Você não está enganado. A trama principal de Tô Ryca já foi contada e recontada – a primeira vez, vejam vocês, foi em 1914 -, desta vez ganhando como cenário o Rio de Janeiro e como provável herdeira Selminha, uma frentista que tem todos os motivos para reclamar da vida.
Bom, quem me conhece sabe bem que eu jamais reclamaria de um filme/série/livro contar uma mesma história de novo. Desde que a forma que ela seja recontada seja agradável, acrescente algo, traga algo inteligente, personagens cativantes, qualquer coisa que valha a pena ter reinterpretado algo.
E Tô Ryca não tem nada disso, apesar do indiscutível carisma da atriz Samantha Schmütz que interpreta Selminha e Katiuscia Canoro, que interpreta sua melhor amiga.
Entre clichês de como os pobres se divertem e de como ricos levam a vida, o roteiro é vazio, situações exploradas nos programas humorísticos de sábado a noite a exaustão. Piora o fato de que alguns podem assumir que ele representa adequadamente o que o Brasil é.
Se toda a história da herança e desafio é repetida, ao acrescentarem uma disputa política no meio – sim, dá para gastar fácil uma fortuna sendo candidato – perderam a chance de pelo menos nisso sair do comum.
Infelizmente o filme tem mais erros que acertos. Acho que fiquei ainda mais decepcionada, primeiro por ter gostado tanto de Desculpe o Transtorno, segundo porque uma direção mais solta e um roteiro um pouco modificado poderia gerar um filme bem mais interessante.
Uma pena que ele tenha sido a última produção a contar com a participação de Marília Pêra, em um pequeno papel, nada a altura de tudo que ela fez em sua vida profissional.
O filme estreia em grande circuito no próximo dia 22 de setembro.