Ciclovia, ciclofaixa, ciclorua, por uma cidade mais ciclável

Imagem de João Paulo Labeda/2Rodas – Publicação original do Vá de Bike

Hoje seria o dia da abertura da Ciclofaixa da Avenida Paulista, mas como você pode ver na foto acima, de João Paulo Labeda para a 2Rodas, e ler neste texto, a ciclofaixa da avenida mais querida e importante da cidade já aconteceu na semana passada por pessoas como eu e você, como essa mãe com  seu pequeno, que querem colocar sua bicicleta na rua.

A antecipação popular já havia acontecido antes, quando começaram a pintar a extensão da primeira ciclofaixa da cidade, e apenas mostra a carência da cidade de iniciativas como essa.

Porém, se um lado nosso comemora, outro ainda se ressente da dificuldade das autoridades de trânsito de entender que só isso não basta, que mais e mais bicicletas são vistas no dia a dia da cidade, nas mais diversas vias porque não existe mais tempo para esperar: a bicicleta é sim um meio de transporte válido e seus usuários tem direito a estar nas ruas.

A mais comum justificativa dos críticos da bicicleta é que São Paulo não foi planejada para bicicletas. Pois conto uma coisa a vocês: ela não foi planejada, ponto. Não foi planejada para o crescimento que teve, não foi planejada em termos de moradia e transportes, não foi planejada para o volume de carros que cruzam a cidade diariamente, não foi planejada para ter um transporte público que atenda de forma razoável seus usuários.

Outra novidade: Copenhague, que tudo mundo cita na linha “aqui não é lá” para ofender ciclista, também não era. Nova Iorque não foi. Londres não foi. Paris não foi. Hoje essas cidades se reinventaram e mudaram muita coisa para tornar as ruas mais seguras para os ciclistas, até porque não existe alternativa. Você, em seu carro, reclamando do trânsito e achando que essas pessoas em suas bicicletas são um bando de loucos: saiba que não existe alternativa.

A maior parte das empresas ainda irá demorar séculos para aceitar o home-office para seus colaboradores, elas ainda caminham lentamente para implementar horários diferenciados. Os investimentos necessários para a melhoria do transporte público são enormes, é preciso tempo para que novas linhas de metrô sejam planejadas, licitadas, construídas, então muita gente continuará, ao entrar no mercado de trabalho, colocando seu carro na rua, piorando o que se acreditava impossível de piorar.

É preciso tornar seguro que pessoas que moram próximo de seu trabalho possam usar a bicicleta, diminuindo assim a quantidade de carros nas ruas, enquanto se corre atrás do prejuízo no transporte público para que quem mora a distâncias médias possam usar metrô e ônibus em seu dia a dia sem achar que isso é um tremendo sacrifício. Assim, quem realmente precisa usar o carro não será torturado diariamente.

Esse artigo da Época é bem legal para quem não sabe como foi a virada na cidade das bicicletas dos tempos atuais e em sua parente Amsterdã – e conta com vídeos da Natália, do projeto Cidades Para Pessoas de que já falei aqui e que está em busca de dinheiro para sua segunda fase.

A verdade é que ciclovias são realmente importantes, principalmente em vias de grande fluxo e alta velocidade – sim, 60 km/h é alta velocidade; eu juro que nunca mais olhei para esse número da mesma forma depois que comecei a usar a bicicleta e senti no rosto o vento de velocidade bem menor -, mas é impossível cobrir uma cidade toda com elas, então a educação dos motoristas vem em primeiro lugar, compartilhar espaço é necessário.

O Código Nacional de Trânsito já possui hoje vários artigos voltados para a bicicleta, mas eu duvido que algum de nós tenha aprendido sobre eles na auto-escola. Eles, na verdade, são desconhecidos até mesmo da maioria dos agentes fiscalizadores, que não sabem que a bicicleta fica no bordo da pista, não na sarjeta, que o ciclista pode usar o corredor entre carros quando o trânsito está parado, que o uso do capacete não é obrigatório e que a distância que deve ser mantida pelos motoristas em relação às bicicletas é de 1,5m.

Falta vontade política para colocar em ação os mil planos que já existem no papel para tornar a cidade mais humana. Falta abrir a cabeça para entender que só porque se praticava apenas um caminho até hoje, não significa que não possamos mudá-lo, não significa que este seja o único caminho possível.

P.S. A Renata Falzoni foi infinitamente feliz em seu texto em que explica porque a ciclofaixa de lazer não faz felizes os ciclistas de todos os dias.

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

Deixe uma resposta