CINEMA: O SENHOR DOS MORTOS

Navegando nos tons frios da impossibilidade de lidar com a morte sem penar em cada um dos estágios do luto, Cronenberg traz seu aguardado novo título, O Senhor dos Mortos. 

Na trama, temos Karsh (Vincent Cassel) um empresário renomado que, inconsolável desde a morte da esposa Becca (Diane Kruger), desenvolve a GraveTech, uma tecnologia revolucionária e controversa que permite aos vivos monitorar entes queridos em suas mortalhas. Certa noite, vários túmulos de seu empreendimento são violados, incluindo o da companheira falecida de Karsh. Ele então sai à procura dos culpados.

Elementos que formam a identidade da obra de Cronenberg estão presentes aqui: a alta exposição do corpo humano, a tecnologia como resposta a todas as perguntas e uma crueza quase macabra ao relacionar uma coisa com a outra. Ao falar da morte, em O Senhor dos Mortos, no entanto, o cineasta canadense se permite adicionar um tom a mais de sentimento, ao trazer sua experiência pessoal, ele mesmo tendo perdido sua esposa há sete anos.

É dessa dor que nasce o filme, onde o protagonista busca na tecnologia uma saída que subverta a morte, que a amenize e a torne menos drástica. Seja pela mortalha cuja tecnologia permite que se assista em 4K o corpo do seu ente querido se decompor ao vivo, seja pela assistente virtual que está presente 24 horas por dia na vida de Karsh, sendo a imagem e semelhança de sua esposa falecida.

A morbidez desses artifícios causa desconforto, espanto e até hilaridade ao telespectador. E até aí funciona, ao propor uma reflexão interessante e incômoda sobre simulações de extensão de vida que pretendem enganar a morte. Infelizmente, a trama se perde quando insiste no thriller na metade final do longa.

Como quem não quer encarar a morte, o protagonista inventa tecnologias, persegue inimigos imaginários e perde o foco. Essa confusão mental se reflete no filme como um todo e faz com que ele perca a força e credibilidade como narrativa.

Seja pela trama, seja pela metalinguagem involuntária de seu desenvolvimento, O Senhor dos Mortos de uma forma ou de outra nos mostra que a morte é inexorável.

Com direção e roteiro de David Cronenberg, O Senhor dos Mortos traz no elenco Vincent Cassel, Diane Kruger e Guy Pearce. O filme integra a 48ª Mostra Internacional de Cinema, que acontece de 17 a 30 de outubro em São Paulo.

Escrito por Tati Lopatiuk

Tati Lopatiuk é redatora e escritora em São Paulo. Gosta de romances em seriados, filmes, livros e na vida. Suas séries favoritas são Girls, The Office e Breaking Bad. Pois é.

Seus livros estão na Amazon e seus textos estão no blog.

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