Estreia hoje nos cinemas o novo e 50° filme de Woody Allen, “Golpe de Sorte em Paris”, um suspense elegante, mas previsível.
Woody Allen, o mestre do cinema neurótico e intelectualizado, retorna às telas com “Golpe de Sorte em Paris”, um thriller psicológico ambientado na Cidade Luz. O filme acompanha Fanny (Lou de Laâge) e Jean (Melvil Poupaud), um casal aparentemente feliz e bem-sucedido cuja vida dá uma guinada inesperada após um reencontro fortuito com Alain (Niels Schneider), um antigo amor de Fanny.
O filme se destaca pelas atuações impecáveis do trio principal. Lou de Laâge entrega uma performance memorável como Fanny, capturando a complexidade de uma mulher dividida entre a paixão reavivada e a lealdade ao marido. Sua interpretação é sutil e carregada de nuances, transmitindo o conflito interno da personagem sem cair em exageros. Melvil Poupaud, por sua vez, encarna Jean com maestria, revelando a fragilidade por trás da fachada de sucesso e segurança. Seu ciúme crescente e a obsessão por controlar a esposa se manifestam em gestos e olhares, criando uma tensão palpável na tela. Niels Schneider completa o trio com uma atuação enigmática, deixando o público em dúvida sobre as verdadeiras intenções de Alain.
A atmosfera de suspense é outro ponto forte do filme. Woody Allen utiliza a fotografia e a trilha sonora de forma magistral para criar um clima de mistério e apreensão. A Paris mostrada em tela é ao mesmo tempo bela e sombria, refletindo o estado de espírito dos personagens. A câmera passeia por ruas charmosas e apartamentos luxuosos, mas também se detém em becos escuros e olhares furtivos, prenunciando a tragédia iminente.
Os diálogos, marca registrada de Allen, estão presentes em peso, com tiradas irônicas e reflexões filosóficas sobre o amor, a moralidade e o acaso. As conversas entre Fanny e Alain, em particular, são carregadas de erotismo e nostalgia, contrastando com as discussões tensas entre Fanny e Jean. O roteiro, no entanto, peca pela previsibilidade. A trama, embora envolvente no início, se desenrola de forma linear, com poucos desvios ou surpresas. O espectador atento pode antecipar os principais acontecimentos, o que diminui o impacto do suspense.
Outro ponto fraco do filme é a falta de profundidade dos personagens. Apesar das ótimas atuações, suas motivações e conflitos internos poderiam ser explorados de forma mais aprofundada. Alain, em particular, permanece um enigma até o final, o que pode frustrar alguns espectadores. O final, por sua vez, parece apressado e anticlimático, deixando algumas pontas soltas e questões sem resposta. A resolução do conflito central carece de impacto emocional, e o destino de alguns personagens secundários fica em aberto.
“Golpe de Sorte em Paris” é um filme que seduz pela elegância e pelo talento do elenco, mas decepciona pela previsibilidade da trama e pela falta de profundidade dos personagens. É uma obra que entretém, mas não deixa marcas duradouras. Para os fãs de Woody Allen e de suspenses psicológicos, vale a pena conferir, mas não espere um filme inovador ou surpreendente.
Com direção e roteiro de Woody Allen, “Golpe de Sorte em Paris” é uma produção de Gravier Productions, Dippermouth, Perdido Productions e Petite Fleur Productions, é distribuída no Brasil pela O2 Play e chega aos cinemas em 19 de setembro.