CINEMA: A SUBSTÂNCIA

Imagine poder acessar uma versão fisicamente melhor de si mesma. Ainda é você, só que melhor. Mais jovem, mais bonita, mais perfeita. Não existe risco algum, contanto que você siga as regras: a cada sete dias, precisa voltar para o seu corpo original. Antes disso, pode viver sete dias em um corpo perfeito e jovem. É possível repetir o ciclo eternamente. Você teria coragem?

É partindo dessa premissa que temos A Substância, longa de terror que teve excelente estreia em Cannes e aterrisa nos cinemas brasileiros no dia 19 de setembro.

Na trama, Elisabeth Sparkle (Demi Moore), uma ex-celebridade que já passou do auge, se vê tentada pela oportunidade de ter de volta sua juventude por meio de uma droga chamada A Substância. Ao fazer a transição, surge Sue (Margaret Qualley), uma beldade deslumbrante capaz de conquistar tudo o que Elisabeth sonha. Da intrincada dinâmica entre a “original” e a “versão melhorada”, temos um conto moderno de terror sobre a nossa desesperada necessidade de ser amados.

Histórias sobre troca de corpos e renascimento por meios sombrios não são novidade no entretenimento. A busca pela perfeição é um tema recorrente também. Com sua direção afiada, Coralie Fargeat acrescenta algo de novo à discussão em seu A Substância ao inserir na narrativa um comentário social sobre o que é ser mulher depois dos 50 anos.

Um filme desse poderia ser estrelado por um homem. Mas não teria nem metade do apelo. Durante a sessão, foi fácil perceber os momentos insuportáveis pelos quais a protagonista passava que causavam risadas entre a platéia masculina e profundo pavor entre a feminina. Existe um ponto de dor nessa história de uma mulher desesperada por aceitação e amor através de sua aparência física que só quem é mulher vai entender. E vai sentir da mesma forma.

E por isso, Demi Moore e Margaret Qualley são as âncoras dessa históra, em atuações que mais do que engrandecer o filme, o tornam astronômico. É uma batalha épica de titãs, e nenhuma deixa a desejar. Incômodo, visceral e brutalmente sincero, A Substância é o palco para que essas atrizes nos levem além do body horror pelo body horror para entrar em outro nível de reflexão.

Saí do cinema nauseada. Tanto pela exposição explícita ao horror dos corpos mostrados, como por tudo o que essa história me fez pensar. Há alguns anos falamos aqui, todo ano, sobre uma retomada dos filmes de terror. Relegados a subcategoria pelas grandes premiações, títulos onde o medo é o gatilho costumam ser esquecidos nas celebrações da indústria. Mas esse ano, juro, com títulos como A Substância, Pisque Duas Vezes e até Alien: Romulus, começo a ter esperança de que finalmente esse gênero terá seu lugar ao sol.

Nem que pra isso precise trocar de corpo, se degradar e se expor de uma forma tão sufocante como Coralie Fargeat fez por todas nós com assombrosa maestria em A Substância.

Com direção e roteiro de Coralie Fargeat, trazendo no elenco Demi Moore, Margaret Qualley, Dennis Quaid, A Substância é distribuído pela Mubi e Imagem Filmes, e chega aos cinemas brasileiros no dia 19 de setembro.

Escrito por Tati Lopatiuk

Tati Lopatiuk é redatora e escritora em São Paulo. Gosta de romances em seriados, filmes, livros e na vida. Suas séries favoritas são Girls, The Office e Breaking Bad. Pois é.

Seus livros estão na Amazon e seus textos estão no blog.

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