Coisas da quarentena

O último dia em que fui para o escritório foi 16 de março. Saí de lá no meio da tarde, carregando parte das minhas coisas porque não voltaria no dia seguinte. A direção da empresa nos colocava em quarentena poucos dias do governador de São Paulo fazer o mesmo com todos os demais. Na véspera, um domingo bonito de sol, eu teria dado a minha última corrida de rua sem saber disso. Quase não corri, na verdade, porque o marido foi junto então caminhamos pelas conhecidas ruas do bairro que chamamos de nosso há tanto tempo.

Desde então saí três vezes para o mercado – a última nesta sábado que passou, horrível, mercado cheio, gente usando a máscara no queixo, a tensão no ar -, para ir ao pet shop, acho que umas três vezes também, para buscar comida ou pão na padaria perto outras poucas e com a cã para um passeio na quadra mesmo quase todo dia. No começo eu a levava duas vezes por dia, agora levo uma, sempre pela rua ao invés da calçada, carregando álcool gel no bolso, abrindo portão com o pé, evitando os vizinhos.

Tirando toda essa parte horrível e a raiva que me atravessa de vez em quando por causa do asno em exercício ou por causa dos sem noção em grande quantidade – e as espinhas que parecem ter resolvido voltar com tudo, seja pela tensão, seja pela falta de sol – temos ficado bem. Vantagem de sermos três introvertidos na mesma casa – a Tequila é quem mais sofre com a falta de rua mesmo.

Sentimos falta do cinema e do teatro, de comer fora de vez em quando (a carteira tem agradecido, por outro lado), mas vamos driblando tudo isso com muito filme e servi;os de streaming e delivery de lugares queridos do bairro mesmo – uma pena que a Marguerita não fique aqui no bairro. Não tenho lido tanto quanto gostaria, parece que a mente não para um minuto.

Não posso correr e, nossa, nunca pensei que sentiria tanta falta disso. Na verdade sinto falta de ir e vir nas ruas e completar com honra meus 8.000 passos de todo dia ainda antes do final da tarde. Para manter a mente sã tenho usado a Ioga no aplicativo Nike Training de manhã e feito os treinos da equipe do Adidas Running em lives no Instagram a noite. De vez em quando vou de Just Dance mesmo, porque não sinto a hora passar, porque me sinto bem, porque cansa o corpo e garante que a noite de sono será mais fácil.

De vez em quando fico olhando em volta pela sacada. Sete e meia da manhã um silêncio de feriados prolongados. No prédio da frente um casal colocou a bicicleta na sacada com um daqueles rolos de treinamento. Pena que quando vi estes rolos já tinham sumido da internet. Em duas ou três janelas garotas ensaiam e gravam seus “tiktoks” – e eu agora entendo o vício fácil, não existe lugar melhor para fugir dessa realidade que nos castiga com vídeos bobos de dança, bichinhos de estimação fofos e dicas de fotografia.

Saudades do grupo de amigos que jurava que se veria todo mês, demorava três para finalmente se encontrar e agora simplesmente não pode. A gente a espera de que o mundo realmente pare enquanto a maioria continua fingindo que não é tão sério e aproveitam que não estão no trabalho como se estivessem em férias prolongadas (o isolamento está em menos de 50%).

De vez em quando fico pensando se esse fingimento todo é por medo, porque é difícil aceitar a nova realidade… Mas aí eu fujo pro Tik Tak mesmo porque cansei de pensar neles e porque acho que eles não merecem.

E porque tem tanta coisa mais interessante para fazermos: na Amazon Prime tem Little Fires Everywhere (o livro é sensacional, estou na metade da minissérie), Upload e Tales From The Loop. Na Netflix tem duas temporadas de Dark, logo vem a terceira, um monte de série de curiosidades como Na Rota do Dinheiro Sujo, The Last Dance sobre Michael Jordan, e Explicando (que eu adoro) e a quarta temporada de The Last Kingdon (revi a terceira para cumprir a promessa de falar dela aqui, só verei a próxima depois de escrever). O Telecine Play tem uma lista deliciosa de filmes franceses e quase todos os Harry Potter (só falta um), perfeito para deixar rolando enquanto você trabalha porque você já sabe os diálogos de cor.

Acabei maratonando Sex And The City no HBO Go. Eu na verdade nunca tinha visto a série, assim de verdade. Via um ou outro episódio perdido na programação da HBO quando mais nada estava passando e sabia a história em linhas gerais. Já tinha me irritado muito com a Carrie e dado risada de alguns de seus looks icônicos e não tinha entendido porque ela não escolhia o Aiden – agora eu entendi – e variava entre Miranda e Charlotte como minhas favoritas.

Elas continuam minha favoritas, continuo achando a Carrie imatura (Miranda inclusive ressalta isso nos episódios da última temporada), mas as entendo melhor e entendo melhor o impacto da série na televisão ao trazer quatro protagonistas tão diferentes do que era o padrão que se encontrava na época. Ela provavelmente nunca será uma série que eu vejo e revejo e que sempre acho “fresca” (na verdade achei que vários de seus episódios infelizmente acabaram datados, apesar da clara luta de seus produtores para que isso não acontecesse) como Coupling UK ou Mad About You, mas com certeza eu a olho com outros olhos. Ah, curiosidade: o filme Sex And The City (que vale a visita) está disponível no Telecine Play apesar de ser uma produção HBO.

Falando nisso: também aproveitei e revi todas as temporadas de Mad About You na Globoplay. Como essa série é maravilhosa!!! Não tem um episódio que não seja ótimo. E acho que poucas vezes vi uma relação mostrada de forma tão verdadeira na TV. Em 2019 a série ganhou uma nova temporada, que infelizmente ainda não desembarcou em nenhum serviço de streaming por aqui.

Na verdade, olhando agora, tenho revisto muita coisa entre as poucas séries que ainda tem episódios que eu ainda não vi (a maioria teve suas produções paralisadas antes mesmo de terminar essa temporada), mas isso tem sido bom. Com tanta coisa nova, com esse mundo novo, rever algo nos leva ao aconchego do que nos é conhecido.

Inclusive decidi: depois de rever todos os Harry Potter (o que falta no Telecine, tem na Netflix e eu criei o #harryoffice), vi os 3 Hobbits, agora estou na trilogia Batman de Nolan, depois temos a trilogia Senhor dos Anéis e quero rever os três Matrix. Falando em franquias: O Telecine Play fez uma página das franquias que vai da Marvel a Piratas do Caribe, tem os três Uma Noite No Museu que eu amo e Jogos Vorazes (que provavelmente vou rever também).

Bom, parece que nessa quarentena o que tem me salvado é a arte… E uma cachorra salsicha muito carinhosa e que dorme aos meus pés enquanto trabalho.

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

2 Comentários


  1. Verdade Simone. Estou lendo muito e assistindo séries. Atualmente This is Us que me leva às lágrimas e tem uma trilha sonora maravilhosa! Last Kingdom é ótima. Tenho todos os livros do Bernard Cornwell. Eles estão sendo muito fiéis. Outra que vem dos meus livros e vale muito a pena é Outlander, Diana Gabaldon é uma escritora magistral.
    Só quando perdemos as coisas simples é que percebemos seu grande valor.
    O combustível é ter muita fé, pois tudo passa.

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  2. Great minds… estou com um rascunho de post parecido, um apanhado dos últimos meses. Resta saber se vou terminar e publicar, hahaha.

    Sex and the City já foi minha série favorita (eu não conhecia Friends). Tive todos os boxes e revi muita coisa, mas a última vez foi em 2005, mais ou menos. Lembro de uns trechos maravilhosos, como o “Eu tenho o valor de um apartamento em sapatos” (Carrie, claro), “Eram as paraolimpíadas da infertilidade (Miranda) e meu episódio favorito ever, o da Curly Girls (casamento do Big). Medinho de rever e não gostar tanto, por ter crescido ou por estar datada. Personagem favorita? Miranda forever (tinha um abuso enorme da Charlotte).

    Pronto, agora quero rever…

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