Direita, esquerda, nem tanto, de novo

Em tempos de internet sempre tem um assunto que vira “o” assunto: você olha no seu Facebook e estão falando dele. Você entra no Twitter, também.

Há algum tempo eu escrevi um texto inspirado por um ótimo episódio de The Newsroom em que eu falava da necessidade de lembrarmos de que entre esquerda e direita existem quilômetros de distância e milhões de opções. E de que nenhuma delas é um mal em si mesmo.

Dito isto, no mundo toda a imprensa tradicional sempre escolhe um lado, ou melhor, sempre tem uma  “tendência”. O jornal cujos bastidores são mostrados em The Newsroom é um exemplo disso: tanto o canal como o apresentador tem uma posição política firme.

Isso não impede de que eles critiquem quando o partido que apoiam erra, na verdade faz com que alguns erros sejam mais fortemente criticados. E isso reflete a realidade: canais e jornais nos EUA nunca esconderam qual seu lado, na verdade escolher um lado normalmente faz com que a audiência se alinhe a esta escolha.

No mundo todo é assim, exceção feita para ditaduras em que a imprensa só pode ter um lado e em que notícias contrárias simplesmente não existem. E isso não é certo porque existe manipulação da notícia – e não, criticar mais fortemente o erro de quem não apoiam não é manipulação, mas mentir sim.

De qualquer forma, hoje meu Facebook e meu Twitter amanheceram com textos criticando ou apoiando a decisão do editor de uma revista nacional de admitir quem ele apoia politicamente – não sei nem se é verdade e nem li o texto em que ele declara isso, já que para mim a “orientação política” do veículo em questão sempre foi bastante clara.

Os textos críticos falam disso como algo negativo. Eu, daqui do meu cantinho observador, acho que se toda a mídia assumisse seu “lado” seria muito melhor, vamos parar com o discurso de “somos imparciais” enquanto, em verdade, estão escolhendo o que e como vão divulgar isso ou aquilo.

Quem for da mesma “orientação política” – eu confesso que estou rindo do termo que acabei escolhendo – leia a revista. Quem não for, economize dinheiro. Ou, para quem acha legal ler pontos de vista diferentes, compre esta e mais aquela ali que você sabe ser parcial para o outro lado.

Algo que não muda, sendo a imprensa parcial ou não, é a necessidade de pensarmos sobre o que lemos, consumimos, assistimos. Sim, a crítica pode ser mais ferrenha ali e outros dados podem ser jogados em uma notinha acolá, mas quem vive, quem olha ao seu redor, é obrigado a ver o que está dando certo, o que está dando errado.

E essa é a base para perceber se aquela notícia ali é tendenciosa ou não e então dar um desconto, filtrar um pouco ou concordar apaixonadamente.

E isso é importante para lembrarmos que partido político não é time de futebol e que, se tem algo para que todos nós, independentemente de orientação política, precisa torcer, é para que o país dê certo.

Isto posto, não tiro a responsabilidade que cada veículo tem sobre o que veicula e que aqueles provadamente “enganadores” devem ser tirados do ar pela justiça – não a minha ou a sua, mas aquela que deve proteger a todos.

Aproveitando, dê uma olhadinha neste vídeo do TED sobre o assunto, que fala da responsabilidade da mídia em ser imparcial, opinião que difere da que eu expus aqui, mas que nem por isso eu vou desprezar, porque ele tem ótimos argumentos:

P.S. Sinceramente me preocupa muito mais que a orientação política de um editor de revista famosa a existência de uma página como a da TV Revolta e seus equivalentes, de esquerda ou direita, que incentivam a violência, a intolerância, a ditadura ou a anarquia. Até porque eles não são responsabilizados pelas violências que causam e são substituídos por versões piores cada vez que um deles sai do ar.

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

2 Comentários


  1. O palestrante confunde um pouco as coisas no fim. Ele foca especialmente no dever de cuidado que, na mídia, está estreitamente ligado ao dever de checar as fontes e à responsabilidade em apresentar os fatos como eles são (algo em que o pessoal de Newsroom escorregou na temporada passada), e que deve mesmo ser levado a sério.
    O escorregão é quando ele diz, bem no finalzinho, que a entrega dos fatos deve ser feita livre de preconceitos: isso é impossível. Preconceitos, ou pré-conceitos, norteiam toda a produção artística, científica, cultural, jornalística, jurídica… na verdade, tudo que depende da criação humana trará certa carga de preconceito, de valoração, de escolhas (ele mesmo admite o poder da escolha minutos antes). Isso não é um mal em si, não é um defeito. O defeito está em querer fingir que não há qualquer valoração, ou pior, em tentar iludir o público sobre quais são as premissas e os valores que norteiam cada escolha.
    Por isso concordo contigo: é melhor uma mídia parcial que assume com todas as letras de que lado está do que uma mídia que se diz imparcial. Essa pretensa imparcialidade non ecsiste e só serve para confundir.

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    1. O que eu achei legal da palestra foi a parte do cuidado, mas reintero que não vejo defeitos na parcialidade da mídia. Você disse bem: ela é humana, jornalismo é uma ciência humana, direito é uma ciência humana, até contabilidade é. Porque sejam palavras, sejam números, nestes casos existem atos e opiniões, e não dá para fingir que alguém consegue ficar acima disso.

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