Sessão de Terapia – Semana 1

Eu não assisti à versão original de Sessão de Terapia. Também não assisti a aclamada versão americana da HBO – na época eu não tinha o canal e o formato de um episódio por semana era desencorajador para quem já tinha uma agenda cheia de outras séries.

A agenda continua impossivelmente cheia, mas resolvi dar uma chance a produção nacional bastante elogiada antes de sua estréia. E, se falarmos somente de produção, ela realmente merece elogios: o formato de 30 minutos sem comerciais, o cenário acolhedor, a fotografia caprichada nos entregam um produto de qualidade comprovada.

Só que eu quase desanimei logo no primeiro episódio: a história de Júlia, anestesista que se “apaixona por seu terapeuta”, não me desceu. Sinceramente não acho que, como alguns disseram, Maria Fernanda Candido estivesse excelente, na verdade ela não conseguiu me vender seu sofrimento, sua confusão. O roteiro recheado de frases e palavras de impacto me parecia querer se mostrar moderninho, mas ao invés de chocar soou forçado, a agressividade na postura e na voz não estavam de acordo com o discurso. Quase desisti da empreitada.

Apesar de tanta decepção tentei novamente na terça. Consegui sentir certa melhoria, mas também não consegui empatia com Breno, um atirador de elite que acaba por matar um menino por acidente ao matar um traficante. Sérgio Guizé padeceu do mesmo mal de Maria Fernanda ao soar forçado demais.

O que mudou foi uma presença mais acertada de Theo, o terapeuta de Zécarlos Machado. Se no primeiro episódio ele praticamente desaparece sob o ataque de Júlia, aqui ele começa a mostrar a que veio, contrapondo os ataques do paciente de forma mais contundente.

Na quarta o seriado sofre uma virada: Theo encontra seu tom ao atender Nina (Bianca Müller), uma garota que sofreu um acidente de bicicleta, mas que pode esconder tendências suicidas. E o que cada paciente esconde e como Theo tenta baixar as barreiras que estes levantam é justamente o que leva a esta virada.

O Theo que parece assustado no primeiro episódio deixa de existir e não deve ser à toa que este seja o primeiro episódio em que a vida pessoal do terapeuta é mostrada, primeiro pelo aparecimento de seu filho caçula, depois pela citação de outra filha.

Na quinta-feira temos o meu episódio favorito quando Theo recebe um casal que discute a possibilidade de um aborto quando deveria estar avaliando melhor os problemas reais de seu casamento. Não sei vocês, mas eu tenho um bom tempo de cadeira divã e sempre considerei que os problemas descobertos assim, aqueles que negamos existir ou que simplesmente não conseguimos enxergar são os que realmente precisamos resolver.

E as mudanças em Theo também continuam: aqui ele já se mostra mais impaciente, mais seguro do que pensa ao mesmo tempo em que tenta não tornar a sessão de terapia em um confronto.

Finalmente, depois da explosão ocorrida na sessão com João e Ana – João o enerva a tal ponto que o terapeuta chega a dizer com todas as letras que o casal deve abortar -, Theo procura por ajuda e recorre a sua antiga supervisora, Dora. E, assim como com Nina ou Ana, percebemos que o problema que nos faz buscar a terapia nem sempre é o que nos leva a terapia de verdade.

Theo fala sobre sua falta de paciência ou sobre o que pensa de seus pacientes na maior parte do tempo, mas Dora, com quem ele já teve uma briga no passado, conduz para que ele revele que sua vida pessoal pode ser o real problema – um casamento não tão feliz, para ser mais exata.

Ao final da semana conclui que Sessão de Terapia teve mais acertos que erros, que podem ser inclusive atribuídos a uma certa falta de ritmo para alguns personagens e resolvi insistir mais uma semana completa. Sim, nada impede que eu acompanhe apenas no dia em que os pacientes já me ganharam, mas fiquei curiosa para saber se as rotas de Júlia e Breno podem ser ajustadas – caso os episódios tenham sido filmados na ordem em que estão sendo exibidos isso pode explicar o ganho de ritmo ao longo da semana, a relação criada por diretor e personagem principal.

Mais que isso fiquei curiosa pelo que poderá acontecer com Theo, como ele irá lidar com a difícil descoberta de que seu casamento possa estar bem pior do que ele consegue colocar em palavras, como ele irá lidar com os reflexos de sua vida que vê nas histórias de seus pacientes.

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

18 Comentários


  1. Se eu fosse analisar essa primeira semana, chegaria às mesmas conclusões – e, como você, também vou acompanhar a nova semana inteira, pra ver como a coisa se desenvolve.

    (Realmente, não dá pra entender os elogios a Maria Fernanda Cândido.)

    Responder

    1. Lu, acabei de receber um release informando que a série estará disponível no Muu – não sei se você tem – e isso vai facilitar um tanto pra mim, porque as 22h30 eu já tô caindo pelas tabelas. Sou daquelas que levanta as seis todo dia…

      Responder

  2. Olá!
    Concordo com vocês! Me agrada muito o formato de ser apenas meia hora e sem intervalos. A terapia de quinta-feira me deu até agonia. Já a de sexta-feira, foi muito reveladora e interessante. A atuação do ZéCarlos Machado e da Selma Egrei foi muito gostosa de assistir. Espero que a “Julia” e o “Breno” possam nos surpreender com algo novo nessa próxima semana.
    Boa semana para todos!

    Responder

    1. Oi Marcelle, com certeza os dois deram um show no episódio de sexta. Essa história e a de quinta devem ser as que eu vou acompanhar até o final, as outras eu vou arriscar mais um pouco, mas não sei se me ganham – ontem eu não curti de novo a Maria Fernanda, apesar dela estar melhor que na semana passada.

      Responder

      1. O episódio de dessa segunda-feira foi um pouco melhor do que o episódio de estreia. Já o de terça-feira com o Breno foi melhor. O diálogo foi melhor também.
        Tenho certeza que as quintas e sextas teremos shows de interpretação…
        Mas como ADORAMOS SÉRIES, somos persistentes e iremos aguardar os próximos capítulos.
        Bjs.

        Responder

  3. Simone, acho que o problema é a “mornice” da Maria Fernanda que não consegue transmitir a emoção necessária. Mas em compensação a atuação da atriz da personagem Nina achei muito boa, até emocionante. Do casal tb gostei, dando até vontade de dar um chacoalhada no homem. Não entendo nada de psicologia mas achei graça do comportamento do Theo, perante sua supervisora Dora, repetindo todas as falhas visíveis de seis pacientes. No geral, estou gostando.

    Responder

    1. Pode ser isso mesmo Cleo, você assistiu o dessa semana? De novo ela não me convenceu. E acho que ás vezes a gente esquece que terapeuta é humano tbm…

      Responder

  4. Olá

    Gostaria de saber algum site que eu consiga ver todos os episodios ja queperdi todos. no aguardo obrigada

    Responder

    1. Vanessa, o serviços Muu, disponível para assinantes da Net e algumas outras operadoras esta transmitindo os episódios por streaming. Eu tenho um post sobre o serviço publicado, dá uma olhadinha, quem sabe te ajuda.

      Responder

    2. Olá! Peço lincença para a Simone em complementar a resposta dela com a seguinte informação:tem reprise de todos os episódios da semana em dois dias: sábado a partir das 22:00 e no domingo a partir das 18:50. Boa semana para todas! Bjs…

      Responder

  5. Eu esperei meses pelo seriado, porém ando um tanto decepcionada e até mesmo incomodada. Sou psicologa clínica e fiquei me perguntando, porque a história como um todo está sendo contada com tanta agressividade? Parece uma guerra para ver quem se ataca mais… De um lado o paciente e do outro o psicologo enfiando “guela” abaixo possibilidades que seus pacientes ainda não estão preparados para escutar e talvez por isso estejam reagindo com tanta agressividade.Quinta feira realmente é a sessão que mais me instiga, gosto também da quarta feira… Acho que nesses dois dias existe uma demanda real, onde o público pode entender melhor os caminhos que estão sendo percorrido pelo Terapeuta Teo. Sexta é interessante, porém Teo se coloca no mesmo lugar que seus pacientes… ou seja atacando seu terapeuta. Entendo que as descobertas num processo terapeutico não precisa ser tão agressivas e muito menos no tempo do terapeuta e sim do cliente.
    abraços
    Clarice

    Responder

    1. Oi Clarice, isso que você colocou é realmente intrigante: numa relação paciente e terapeuta tem de ser de cumplicidade, mesmo quando ainda não nos abrimos totalmente precisa existir espaço para a confiança. No caso da sessão com a Julia eu até acho que a relação possa ter seguido um caminho não desejado, ele comenta que ela está tratando com ele há um ano, mas os demais são pacientes novos, é estranho de se ver.

      Responder

  6. Bem, interessante as considerações de Clarice, porém o porque de tanta agressividade não pode ser entendido neste momento. O perfil das personagens foi criado dessa maneira. Na minha visão, demonstra muito o que vários clientes procuram em uma terapia. Respostas urgentes, pontuais e o terapeuta deve lidar com esse tipo de situação, que, avalio não ser incomum. Também sou psicólogo.
    ps: Gostei da dica do muu.tv. Não conhecia!

    Responder

    1. Oi Saulo! Poxa, que legal seu comentário! Como eu respondi pra Lu, cheguei a discutir as minhas impressões sobre a série com minha psicanalista e ela também me deu uns toques bem legais. Falou sobre o perfil da Júlia, por exemplo, que estaria de acordo com profissionais como ela, ou sobre o fato de que a tal transferência é muito mais comum que se imagina. Estou aproveitando a série pra aprender bastante sobre tudo isso.

      Ah, tem tbm o Netflix, você conhece? Sou super fã desses serviços!!

      Responder

      1. ACho que a Júlia não me agrada justamente porque transferência é um tema banal demais. Talvez se fosse OUTRO tipo de transferência, que não a erótica (tão óbvia), seria mais interessante…

        Aliás, talvez haja uma transferência em movimento na terapia da Nina, calcada na relação pai-filha. A verificar. 🙂

        Responder

  7. Achei muito interessante a série. Confesso que surpreendi-me com a produção brasileira. Como não entendo muito de psicologia, aliás, sou uma leiga neste assunto, não posso falar muito sobre as situações de cada paciente. Devorei a primeira temporada em praticamente dois dias. Cheguei meio atrasada, e como não sou muito de ficar em frente à televisão, perdi a chamada da série.
    Abraço.

    Responder

Deixe uma resposta para Simone MileticCancelar resposta