Porque mudanças precisam de espaço

Eu comecei a trabalhar com dezoito anos, ainda como estagiária no final do colegial técnico. Dali em diante emendei duas faculdades e mais trabalho. Meu último diploma foi pego quando eu já carregava Carol na barriga. A jornada dupla trabalho-escola só foi abandonada pela jornada dupla trabalho-maternidade. Na primeiro o dia começava às seis e se encerrava às onze. Na segunda ele continuava se iniciando às seis… Mas nem sempre terminava às onze.

Questão é que eu me acostumei demais a trabalhar e mesmo a licença maternidade foi preenchida por cursos, mosaico, bijuteria, participando de feirinhas. Depois, Carol começou cedo sua vida de creche-escola integral.

Semana passada seria minha primeira semana de vida nova, mas na segunda ainda fui pro escritório, depois teve o feriado que deixou tudo meio confuso.

Nesta segunda, por volta das dez, dez e meia da manhã, a Carol me perguntou: “mãe, que que eu faço agora?” Esse foi seu primeiro dia de escola meio período, em que ela não acordou tão cedo, tomou café com calma, viu um pouco de televisão e ainda sobravam horas na manhã antes de ir pra escola. Não sei se eu a ajudei muito, porque eu mesma ainda estou me acostumando com as mudanças.

Ainda não conclui se é melhor escrever para os blogs logo pela manhã ou ao longo do dia. Tenho adiantado alguns seriados durante o dia. Somente as terças-feiras meus dias tem rotina fechada: é o dia em que vou para o antigo escritório, agora como consultora, e a Carol tem período estendido na escola.

Nos demais, de repente me vi com tempo para fazer tudo aquilo que eu sempre quis em casa, mas para o que não tive tempo. Um tal de arrumar armários e espaços, fazer meus próprios móveis e olha que eu ainda nem sai pintando paredes.

Hoje Carol enrolou horrores pra sair da cama, o que atrasou tudo, e então fizemos a lição juntas. A aula de violão foi perdida. Saímos a pé para a escola, voltei fazendo o caminho mais comprido e assim vou descobrindo coisas no bairro que não estão abertas nos finais de semana. Ali do lado, por exemplo, tem uma casa que vende coisas orientais, inclusive yakisoba pronto. Uma nova loja de tecidos.

Comprei um pedaço de cano e uns “joelhos” pro projeto da vez. Subi pela feira, comprei frutas e legumes. Dei uma paradinha na barraca do pastel e do caldo de cana.

Entre escrever pro blog e trabalhar no tal projeto, escolhi fazer o projeto primeiro. Enquanto os gatos corriam pela casa.

Na segunda meu pai ao telefone me perguntou se eu não trabalhava mais. Naquela hora certinha eu estava escrevendo pro blog. Então sim, eu estava trabalhando. De forma ainda amadora, mas trabalhando. Assim como meus trabalhos manuais, meus artesanatos, não deixam de ser amadores, mas agora ganham novo corpo.

Mas acho que eu mesma preciso me acostumar mais com a ideia de que tudo isso é trabalho sim.

Novas portas se abrem, novos projetos. Muita coisa mudando e mesmo mudanças boas precisam de tempo e espaço para se acomodarem. Talvez isso explique meu sumiço desse aqui, que é meu blog pessoal.

Vamos dizer assim que nos últimos anos eu mudei, minhas prioridades, gostos, só que a vida continuava a mesma. Aí, porque as coisas acontecem quando tem de acontecer, eu tenho a oportunidade de fazer minha vida, meu tempo, meu espaço, se ajustar a este novo eu.

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

4 Comentários


  1. Si,
    Gostaria de entender porque nós e todas as outras pessoas que conheço e discutimos este assunto, achamos que trabalhar é só em escritório, lojas, com jornadas apertadíssimas? Seria isso algo vinculado a algo que carregamos dentro de nós e que foi nos transmitido pelos nossos pais, avós, etc?
    A pergunta da Carol: “mãe o que eu faço agora?” vem de encontro a realidade que ela esteve vivendo durante todos estes anos que na escola/creche período integral existem as regras que ela ficou acostumada a cumprir para estar naquele ambiente. Não me assusta, mas da mesma forma que vc está buscando seu espaço, ela também irá reinventar o dela. A diferença é que a sua maturidade não lhe deixa ligar para sua mãe e dizer: “mãe o que eu faço agora?”, não é mesmo?
    Claro que a zona de conforto (as terças-feira) existe ainda e tem que fazer parte até o corte final a segurança de que vc fazia muitos trabalhos antes e mais o escritório e hoje você continua fazendo todos os trabalhos de antes, menos o escritório.
    Com tudo isso eu tiro a minha lição: O seu furão está sendo cuidado de acordo.
    Concordo com a Denise: “a oportunidade de fazer minha vida, meu tempo, meu espaço, se ajustar a este novo eu”, mostra o que acontece conosco na vida louca que nos consome, vamos nos afastando do que realmente somos, para dar espaço para o que não é importante e o que não nos faz feliz.
    Parabéns! Isso é só o começo.

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    1. Acho sim que é coisa que pai e mãe colocaram na nossa cabeça. No tempo deles era tudo tão diferente, ter carteira assinada era certeza de segurança, né?

      Sim, eu e a Carol estamos numa vida nova e acho que vai fazer bem pras duas, não só por termos mais tempo juntas, mas para lidar com as escolhas do que fazer com o tempo livre.

      Meu furão está bem, eu ainda estou estudando o que farei dele, que nome dou, mas ele já dominou seu espaço. Beijos

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  2. Fiquei feliz por você e desejo toda a sorte do mundo nessa nova missão… Seu artigo me serviu de inspiração… quero poder trabalhar em casa também… e vou guardar esse artigo para me inspirar…. super beijo…

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