TiTiTi acabou na semana passada consagrada como sucesso de público e crítica. A reedição da novela acertou muito, conseguiu dar nova roupagem para tramas já conhecidas e, com sucesso, inseriu novos personagens.
Eu bem que tentei, mas acabei não acompanhando toda a novela, principalmente em sua parte final, quando achei que alguns personagens acabaram tomando rumos bastante exagerados e nem sempre tão divertidos – Jacque Leclair e Jaqueline principalmente – e cansei um pouco. Mas voltei a acompanhar na última semana para conhecer o destino de seus personagens.
Se, de um lado, fiquei triste porque Marcela não ficou com o Renato, fiquei feliz da vida com a felicidade do casal Julinho e Thales e pela aceitação de Bruna. Pode soar brega, mas ver o sorriso da “mãe” de Julinho pelo casal eu fiquei com aquela sensação de que o amor triunfa no final, sabe?
E é por isso que estou aqui, escrevendo esse texto. Sim, o tal beijo gay ainda não ganhou espaço na telinha brasileira em uma produção nacional, mas não existem críticas possíveis a forma como Maria Adelaide conduziu a história de Julinho. A delicadeza com que seus relacionamentos foram tratados só não foi mais feliz que o próprio personagem em si.
Julinho era essencialmente bom e essencialmente bem resolvido. Melhor demonstração disso é o fato, a despeito de ficar triste, ele não ter raiva de Thales pelo fato do surfista não conseguir encarar as dificuldades de sair do armário.
Além disso, Julinho não era um personagem gay, ele era um personagem que, por acaso, era gay. Ser gay não o definia. E, com direito de réplica de alguém que entenda mais que eu, eu acho que a gente é assim. Não é nossa orientação sexual, a nossa profissão, o bairro aonde moramos, o nosso sobre-nome. Não são essas coisas que definem quem somos como pessoa. Elas fazem parte de nós. Ao mostra Julinho desta forma, Maria Adelaide fugiu de soluções fáceis ou caricatas e mostrou alguém tremendamente parecido com as pessoas que eu conheço de verdade. Ela fugiu de uma ideia quase padrão de que o personagem gay tem de ser afetado e engraçado para agradar ao grande público.
Ela pode até ter tratado de forma superficial a crise de Bruna, uma católica praticante, quando ela coloca na mesma balança o amor que sente por Julinho e o fato de que aprendeu que ser gay é errado. Mas, mesmo assim, soube honrar mulheres e homens que enfrentam seus próprios preconceitos para acolher seus filhos que não saíram exatamente da forma que eles sonharam.
Por tudo isso, Maria Adelaide merece parabéns e muito carinho e, acredito, Julinho sempre será um personagem marcante na história da televisão.
Enquanto isso, do outro lado do mundo, os seriados norte-americanos melhoram a cada dia quando o assunto é mostrar os conflitos de personagens gays. Brothers And Sisters é exemplo recorrente, e amplamente premiado pela GLAAD, associação que trabalha contra a difamação de gays e lésbicas nos diversos meios de comunicação.
Nesta temporada o seriado ganhou a companhia de 90210 – seriado adolescente que está na geladeira do Canal Sony por aqui. Em sua 3ª temporada o seriado abordou a questão não uma, mas duas vezes, e de forma muito feliz.
Logo no início da temporada uma das principais personagens femininas acaba atraída por uma amiga lésbica e resolve dar chance ao relacionamento, algo em que ela jamais havia pensado. A relação das duas termina por conta de um amor do passado mal resolvido, mas funcionou muito bem por vários episódios.
Já na metade da temporada é um personagem masculino que se revela gay e admite que tentava se enganar já há muito tempo por medo da reação dos amigos e do preconceito que iria enfrentar. Após assumir ele encontra amizade sincera, mas também enfrenta preconceitos.
Ainda que de forma superficial, afinal estamos falando de um seriado adolescente, 90210 soube trazer a tona a dificuldade de se assumir em uma fase de sua vida em que a aprovação de seus amigos significa mais que o amor de sua família e também merece reconhecimento.
No final das contas, são três exemplos de que nem sempre a causa gay precisa aparecer como bandeira de um programa de televisão, mas que os personagens gays podem ser tratados com igualdade e respeito.
Em momentos assim, eu tenho até orgulho de ser uma fanática por televisão.
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Menina, e o beijo do garoto-que-se-recusa-a-sair-do-armário no Kurt em “Glee”? Quase bati a cabeça no teto!
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Simone,
Acho bacana essa possibilidade de a TV ajudar a discutir assuntos “espinhosos” e a quebrar preconceitos. Eu mesma, há uns 10 anos, acharia muuuuuuito estranho ver um casal gay ter destaque em uma série de TV. Hoje, vejo com bem mais naturalidade as histórias de Scotty e Kevin, Callie e Arizona, talvez em parte porque ser gay não é o que define a presença deles nas séries, mas porque, entre outras muitas características, eles amam pessoas do mesmo sexo.
Nessa linha, eu sempre me surpreendo com a maneira como o tema foi tratado em Friends, lá nos idos de 1994! Claro que o casal gay da série, Carol e Susan, não são protagonistas, mas a relação delas com a turma, principalmente por conta de Ross e Ben, sempre trouxe à tona a existência do casal na série. E, mesmo sendo uma série de comédia, dificilmente houve momentos caricatos com a participação delas.
Claro que em mais de 15 anos nós (como sociedade) evoluímos muito e casais gays puderam aparecer mais e mais, e de forma mais leve e mais integrada nas séries. Gostei muito da análise que vc fez do Julinho, de não ser um personagem pura e simplesmente gay.
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Oi Alice,
Tudo bom?
Você fez bem em lembrar do casal Carol e Susan em Friends, eu tinha esquecido completamente. Ainda assim, além do fato delas não serem personagens principais, tem aquela coisa de seu uma comédia, o que permite tratar do assunto com mais leveza. De qualquer forma, na época foi realmente corajoso.
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Pois é, Simone, isso que eu acho bacana. Foi tratado com leveza e sem apelar pra caricaturas. E ainda assim há momentos de engasgar na garganta. Por exemplo, quando os pais da Carol não querem ir ao casamento e o Ross entra com ela na cerimônia. Muito bonito e mostra que os pais às vezes têm dificuldade de lidar com a situação, mesmo num caso, digamos, já consolidado…