Porque, afinal, eles não vem com manual de instruções

Ainda nesta semana uma reportagem do G1 falava sobre o fato de que mães disfarçam a verdade por medo do julgamento de suas “colegas”. Elas, então, diminuem o tempo em que as crianças passam na frente da TV ou sobre sua forma de disciplinar os pequenos.

Na reportagem o principal motivo para isso é o fato de que elas sempre buscam um ideal de perfeição, muitas vezes incentivados pela mídia, enquanto lidam com o dia a dia nem sempre muito fácil.

Eu já contei aqui uma vez minha opinião sobre as palmadas, já falei como tento participar da educação da minha filha e da importância que dou à convivência da família, aos programas conjuntos, mas estou longe de ser perfeita e muitas vezes fico realmente perdida quanto ao que fazer em determinadas situações.

Hoje foi uma dessas vezes: comentei aqui e no twitter que essas são as primeiras férias em que a Carol está de folga mesmo, sem escola, sem horário, podendo curtir os amigos do prédio e as brincadeiras sem planejamento. Antes disso ela passava as férias no clube da escola ou conosco na casa de praia dos meus pais.

Até hoje sempre fomos bastante rígidos quanto a rotina dela: em casa nada de usarmos palavrões na frente dela, só recentemente ela trocou o Discovery Kids pelo Cartoon e Nicklodeon e sempre tivemos muito cuidado com os exemplos que damos, pois sabemos que a criançada adora imitar os mais velhos.

Fui então pega de surpresa hoje quando uma das babás do prédio reclamou que a Carol estava fazendo gestos “feios” e usando palavras “feias” perto das demais crianças. Se a primeira reação é de surpresa, a segunda é de culpa.

Chamei a Carol para uma conversa sobre o ocorrido, sem bronca, tentando entender porque ela fez isso e da onde isso tinha vindo. A primeira reação de qualquer criança é pedir desculpas (pelo menos essa é a reação da Carol sempre que é pega fazendo algo errado), mas ela não me respondia porque estava fazendo e menos ainda com quem aprendeu.

Após alguma insistência e a promessa de que eu não brigaria com os amigos ela acabou por me contar que viu alguns meninos do prédio fazendo essas brincadeiras e repetiu na frente das meninas e suas babás.

Aí eu saí explicando que ela não devia fazer isso, que tais brincadeiras são feias e de que as meninas não gostariam de brincar com ela se ela continuasse repetindo isso. Logo eu, que vivo lutando contra estereótipos me vi explicando para ela que meninas e meninos são diferentes e que ela não deve repetir o que eles fazem. Acho horrível, mas o problema é que as outras mães, as demais famílias, pensam dessa forma, vão julgá-la se ela não for uma “menininha” ao invés de uma menina que age como um moleque.

Depois de muita conversa, deixei que ela descesse para brincar, mas continuei aqui muito chateada.

Como eu vivo dizendo: nasce uma mãe, nasce uma culpa.

E, se uma parte de mim se consola pelo fato de que, ao fazer isso na frente de babás e mães, Carol demonstra que não fez nada com maldade, que ela não tem malícia. Outro lado meu fica pensando se ao tentar preservar sua infância o máximo possível eu acabei por não prepará-la para conviver com outras crianças que já foram expostas a outras coisas e que sabem que determinadas brincadeiras não devem ser feitas na frente dos adultos, que cultivam a ilusão de que eles não fazem isso nunca.

A questão é que não existe fórmula, a gente não tem manual de instruções e a gente erra tentando acertar.

Meu maior medo? Que julguem minha filha sem conhecê-la, sem saber a criança doce que ela é. Ou melhor, medo de que ela se magoe por perceber que alguém agiu desta forma com ela, que alguém a desprezou.

Aí, me toquei, que além da culpa, nasce com a mãe o medo pela felicidade de seus filhos, e isso não tem nada a ver com dinheiro ou beleza, mas com o coração.

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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