Não sou freira, nem sou….

“Puta. Porque nem… Toda feiticeira é corcunda. Nem… Toda brasileira é bunda… Meu peito não é de silicone. Sou mais macho que muito homem.” – trecho de Pagú, música de Rita Lee

Sempre adorei essa música de Rita Lee, depois regravada por Maria Rita. Sempre adorei a forma como ela fala de todas nós, com mil lados, mil forças, mas quase nunca olhadas da forma como deveríamos.

Pensei nela logo cedo, enquanto lia o excelente texto da Gabi Bianco falando sobre o #lingerieday no Twitter. Depois pensei de novo, quando vi que o assunto do dia era o fato de que Sandy, em uma entrevista para a revista Playboy, havia respondido que se pode ter prazer no sexo anal.

Também não tive como não pensar em um episódio em particular de Boston Legal em que Alan Shore fala sobre o estranho fato da maioria dos americanos achar pior seus filhos verem uma cena de sexo do que uma matança com cabeças voando e muitos palavrões.

Depois de ler o texto da Gabi e lembrar de Alan Shore eu ainda não conseguia entender porque todo mundo falava da tal declaração da cantora.Vejam bem, não conheço a moça e pouco sei da sua vida, talvez por isso eu não entenda essa obsessão que a maioria tem em não querer que ela cresça.

Sandy nunca me pareceu santa, talvez porque eu simplesmente ache absurdo se esperar isso de qualquer mulher, talvez porque eu apenas ache que ela é uma garota normal, que conseguiu, mesmo tendo uma carreira pública desde muito cedo, manter sua vida privada longe das câmeras, fez sucesso, parou de fazer sucesso, fez uma faculdade, arrumou um namorado, não perdeu a virgindade tão cedo, nem tão tarde, se casou, seguiu com a vida. Se ser santa é não ser fotografa sem calcinha e trançando as pernas de tão bêbada como a maior parte das jovens celebridades, bem, Sandy seria santa, mas para mim ela só é uma garota normal de uma família bem estruturada, que soube lhe dar apoio enquanto ela crescia.

Quando somos novos, mesmo que nada famosos, temos certa dificuldade de encarar certos assuntos. Pessoas normais se preocupam com a repercursão do que falam e de como isso vai afetar a forma como são vistas e como isso vai afetar sua família. Para boa parte de nós a parte da família preocupa mais do que a forma como vão nos ver.

A gente vai amadurecendo e percebe que certas omissões não são mais necessárias. A gente acha que pode falar de certos assuntos como adultos. E aí que eu fico com aquela impressão de que não querem que Sandy cresça. Porque o problema não é tanto o que ela falou – não é possível que um monte de moças já não tenha falado algo do tipo para uma revista que tem por função mostrar mulher bonitas peladas – mas porque foi ela falando.

E eu não consigo entender o incomodo todo disso. Já ouvi até que ela só teria falado isso porque sabia que buxixo ia causar (é buxixo ou buchicho?).

Eu acho que ela é apenas mais esperta do que muita gente pensa. Quando nova soube se preservar e preservar sua família, cresceu a achou que podia falar o que pensa ou sente de forma adulta.

E penso que ela é uma sortuda em conseguir falar de forma natural de um assunto que deveria ser natural para qualquer adulto normal.

O resto é o resto.

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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