Cinema: 45 do Segundo Tempo

É interessante escrever este texto hoje enquanto comemoro de coração o feito de meu time ontem, que conseguiu uma classificação para uma semifinal ao golear o Atlético de Goiás por 4×1.

Torcedor é essa coisa estranha, não é mesmo? Fica feliz pelo mérito do time, ainda que isso na verdade não faça diferença “de verdade na sua vida”. Faz tatuagem no corpo, viaja quilômetros desconfortável, gasta uma fortuna se tiver e puder ver alguma conquista ainda inédita.

No caso do Pedro, vivido pelo Tony Ramos, o Palmeiras é o último amor de sua vida, depois da cachorrinha Calabresa, quando sua cantina especializada em braciola está a beira da falência.

Seria fácil entender a nostalgia que um momento como esse trás para uma pessoa, mais ainda quando por acaso ele se vê ao lado de dois velhos amigos de adolescência: o padre Mariano (Ary França) e o advogado Ivan (Cássio Gabus Mendes), que não via há mais de 40 anos.

A gente pode considerar que 45 do Segundo Tempo, produção Paris Filmes que chega aos cinemas hoje, dia 18 de agosto, é quase uma biografia: a inspiração do diretor Luís Vilaça veio de um jornal paulistano que mostrava duas fotos de 4 amigos, separadas por 40 anos.

A tal reportagem o fez pensar sobre os sonhos que temos quando jovens e o que o tempo realmente nos entrega ao longo da vida – aquela coisa de ter de combinar com o outro time, né?

E se estes sonhos não são realizados, como a gente fica ao olhar para trás?

É um pouco isso que ele traz aqui no reencontro dos três amigos. Se Pedro sente que não existe mais porque viver, Ivan confronta o sonhos do jovem que queria ser advogado e ajudar os outros frente ao fato de que tem clientes ricos e corruptos.

Já Mariano, de forma bastante inesperada para os amigos, escolheu ser padre. Que hoje questiona sua escolha, sentindo um vazio de propósito.

Se os sonhos já não são os mesmos, o vínculo de amizade dos três parece o mesmo. Se não se viam há 40 anos, em 30 minutos de conversa é como se nunca tivessem se separado.

Essa amizade é o centro de nossa história e o fio condutor da reflexão de cada um deles. Muito por isso o filme me lembrou a produção francesa O Melhor Está Por Vir, um de meus filmes favoritos pra vida.

E a história do torcedor que eu falei lá em cima? Esse é o ponto final dessa reflexão toda: se o Palmeiras for campeão em três jogos, Pedro terá realizado seu último desejo e não terá mais porque viver. Pelo menos não antes desse reencontro.

45 do Segundo Tempo passa rápido e o trio principal dos atores está ótimo no papel. Seria fácil Pedro se tornar um personagem caricato, mas não com Tony Ramos o interpretando. E, claro, as paisagens da cinza São Paulo aquecem nosso coração (o meu, pelo menos).

Pena que ele perca um pouco de seu ritmo em seu terço final. Ainda que o fechamento destas histórias seja bem amarrado, fica a impressão de que ele tenha sido apressado, aquela sensação de “então é isso,  vamos encerrar o filme agora”. Fica, na verdade, a sensação de quero mais – acho que me apeguei aos três, só pode ser isso.

 

Com direção de Luiz Villaça (da série indicada ao Emmy Internacional de Melhor Comédia “A Mulher do Prefeito” e do filme “De Onde Eu Te Vejo”), 45 do Segundo Tempo estreia exclusivamente nos cinemas de todo o Brasil no dia 18 de agosto de 2022.

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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