Para quem, como eu, espera com enorme expectativa por Hebe – A Estrela do Brasil, baseado nos trailers divulgados e na caracterização de Andréa Beltrão para o papel, meu conselho é que se acalme.
Na tentativa de evitar ser superficial ao contar os mais de 50 anos de carreira e 70 anos de vida da radialista, cantora, apresentadora e até atriz, o roteiro de Carolina Kotscho escolhe focar em apenas uma década.
Ao invés de vermos a luta de Hebe pela sobrevivência, a ouvimos citar que um dia passou fome. Ao invés de ver como ganhou fama no rádio acompanhada de suas melhores amigas, Nair Bello (Claudia Missura) e Lolita Rodrigues (Karine Teles), vemos as três em um momento de descontração, dividindo a paixão pelo rei Roberto Carlos (vivido no filme por Felipe Rocha).
A década escolhida para o filme é a de 80 e o motivo é interessante: após o final oficial da ditadura o Brasil ainda vivia um período de muitas incertezas, principalmente nos meios artísticos, já que a censura havia sido muito pesada e não sumiu de um momento para o outro.
O roteiro então conecta estes acontecimentos à decisão de Hebe de deixar a Bandeirantes por não aceitar que seu programa noturno fosse gravado. A emissora se sentia ameaçada pelo governo, onde os censores não aceitavam deixar de opinar, e, acredito, não esperava que Hebe deixasse o palco ao invés de aceitar o novo acordo.
Hebe foi, na época, bastante criticada pela população mais conservadora e, com anos de carreira, realmente temeu não voltar a trabalhar – medo que o filme trata de forma superficial – até receber a proposta de Sílvio Santos para fazer seu programa no SBT.
Incapaz de cobrir o valor que Hebe recebia na Bandeirantes, Sílvio traria algo inteiramente novo ao mercado nacional, dividindo com a apresentadora os valores de patrocínios que o programa obtivesse.
O filme acerta ao demonstrar que Hebe era uma mulher de muitas faces: falava tudo que pensa na tela, desafiava a igreja católica ao falar de gays e transexuais, mas não falava com o próprio filho, Marcello (Caio Horowicz), sobre sua orientação sexual. Criticava o governo e defendia os pobres, mas recebia em sua mesa de Natal Paulo Maluf e sua esposa, amigos pessoais dela e do marido.
Porém a abordagem é sempre superficial.
A força de Hebe era tão grande que a gigante platinada Globo permitia que suas estrelas maiores, como o já citado Roberto e o apresentador Chacrinha, participassem de seus programas quando isso era completamente proibido.
O mesmo acontece na abordagem de sua vida pessoal: a relação com o segundo marido, Lélio Ravagnani (Marco Ricca), apaixonada e obsessiva, acaba incompleta. Não sabemos como os dois se encontraram e, quando o filme acaba, temos a impressão de que os dois teriam se separado, enquanto o relacionamento foi marcado por idas e voltas, mas manteve-se até a morte.
A direção do filme é de Maurício Farias (O coronel e o lobisomem), marido de Andréa, para quem fez o projeto. Talvez seja por isso que, apesar de perfeitamente caracterizadas, ainda enxergamos a atriz interpretando o papel – ao contrário das biografias de músicos que vimos mais recentemente.
Se as escolhas de roteiro e direção podem ser justificadas, a verdade é que a sensação de frustração quando o longa termina é real. Ou pelo menos a sensação de que ele é uma obra “ok”, longe de ser a homenagem que a estrela do Brasil merecia, mas que consegue emocionar quem era fã em vários momentos.
Hebe – A Estrela do Brasil chega aos cinemas nesta quinta-feira, dia 26 de Setembro, com distribuição Warner Pictures, direção de Maurício Farias e roteiro de Carolina Kotscho.