Cinema: Começou a 41ª Mostra Internacional de Cinema!

Chegou aquele momento do ano tão esperado pelos cinéfilos e admiradores de arte em geral. De 19 de outubro a 1o de novembro, acontece em São Paulo a 41ª edição da tradicional Mostra Internacional de Cinema. Durante duas semanas, serão exibidos 394 títulos de variados países e diversas cinematografias, contando os 30 curtas-metragens inseridos em retrospectiva, apresentação especial e programação de realidade virtual.

Os filmes serão apresentados em mais de 30 espaços, entre cinemas, espaços culturais e museus espalhados pela capital paulista, incluindo exibições gratuitas e ao ar livre. A seleção deste ano faz um apanhado do que o cinema contemporâneo mundial está produzindo, além das principais tendências, temáticas, narrativas e estéticas produzidas em todo o mundo.

Isso se observa desde o filme de abertura, Human Flow – Não Existe Lar Se Não Há Para Onde Ir, do qual falaremos mais adiante, do artista chinês Ai Weiwei, encabeçando uma lista de longas que abordam a grave crise mundial dos refugiados, até a homenageada pelo Prêmio Humanidade, a cineasta belga Agnès Varda. Ressaltando a presença marcante das diretoras, nesta edição a Mostra apresenta 98 títulos dirigidos por mulheres, entre os quais, Esplendor, de Naomi Kawase; Zama, de Lucrecia Martel; Mulheres Divinas, de Petra Volpe e 18 longas dirigidos por brasileiras.

Outra homenagem deste ano é para o diretor Paul Vecchiali, que receberá o Prêmio Leon Cakoff. E, como tradicionalmente faz nas últimas edições, destacando a produção cinematográfica de um país ou região, a 41a Mostra apresenta o Foco Suíça, com longas contemporâneos, uma retrospectiva da obra de Alain Tanner e a exibição de curtas do animador Georges Schwizgebel.

Difícil resumir em apenas um post toda a diversidade da Mostra. No entanto, é importante destacar que neste ano o evento realiza, em parceria com a Folha de S. Paulo e o Itaú Cultural, o I Fórum Folha-Mostra, que promoverá debates sobre o cinema do ponto de vista criativo, mercadológico e político. Outra novidade é a programação de curtas-metragens de realidade virtual que ganham exibições especiais em alguns espaços parceiros do festival. A tradicional programação apresentada no Vão Livre do Masp incluirá, nesta edição, títulos participantes das homenagens ao ator Paulo José, que também receberá o Prêmio Leon Cakoff, e aos 80 anos de Leon Hirszman.

Destaco aqui os quatro filmes que tive oportunidade de ver com exclusividade e que estarão na Mostra:

“4 Meres” – Grécia, 2017

4 Meres (4 dias)

Competição: Novos diretores | Grécia, 2017, cor, 80 min. Ficção.

Direção: Michalis Giagkounidis

Roteiro:  Michalis Giagkounidis, Eirini Karagiozidou

Elenco: Clairi Grammatiki, Yiannis Papadopoulos, Stergios Tzaferis

Em uma narrativa delicada, muito poética e bem curtinha, a produção grega conta a história de uma garota que combate o tédio tirando fotos de estranhos. Mostrando o cotidiano aparentemente morno dela, vemos sua trajetória se cruzar com a de outras pessoas e suas tentativas mudar a própria vida.

“Satã Disse Dance”, Polônia, Holanda, 2016

Szatan Kazal Tanczyc (Satã Disse Dance)

Perspectiva Internacional | Polônia, Holanda, 2016, cor, 97 min. Ficção.

Direção e roteiro: Kasia Roslaniec

Elenco: Magdalena Berus, Lukasz Simlat, Tygo Gernandt, Hanna Koczewska, Danuta Stenka

Impactante em argumento e realização, Satã Disse Dance é um filme de Instagram em tempos de selfies. O formato dele na telona é vertical, como em um stories, e a narrativa traz 54 cenas de 2 minutos cada –  o mais incrível é que colocadas em qualquer ordem elas contariam a mesma história. O que temos é um caleidoscópio de momentos da vida de Karolina, uma digital influencer  e também escritora, obcecada por festas, drogas, sexo e relações complicadas, em seu caminho à autodestruição. Simplesmente imperdível.

“Três Luzes”, Japão, 2017.

 

Mittsu No Hikari (Três Luzes)

Perspectiva Internacional | Japão, 2017, cor., 100 min. Ficção.

Direção e roteiro: Kohki Yoshida

Elenco: Ryo Ikeda, Hiroshi Suzuki, Kazuha Komiya, Emi Maki, Natsumi Ishibashi

Um retrato melancólico da solidão nas grandes cidades, Três Luzes traz de maneira doce e certeira a história de quatro pessoas na cidade de Tóquio unidas pelo seu amor à música. O destino os reúne em um armazém abandonado para trabalharem com sons experimentais, em um improvisado estúdio de gravação. Como não poderia deixar de ser, a trilha sonora é deslumbrante.

“Human Flow: Não Existe Lar Se Não Há Para Onde Ir”, Alemanha, 2017

Human Flow (Human Flow: Não Existe Lar Se Não Há Para Onde Ir) 

Filme de Abertura | Alemanha, 2017, cor, 140 min. Documentário.

Direção: Ai Weiwei

Roteiro: Chin-Chin Yap, Tim Finch, Boris Cheshirkov

Sem dúvida, a história mais forte contada nesta Mostra, não por acaso escolhido como filme de abertura. Filmado ao longo de um ano em 23 países, o documentário segue uma corrente de histórias humanas que se espalha pelo mundo em países como Afeganistão, Bangladesh, França, Grécia, Alemanha, Iraque, Israel, Itália, Quênia, México e Turquia. Uma busca desesperada por segurança, abrigo e justiça: dos campos de refugiados lotados a perigosas travessias pelo oceano e fronteiras delimitadas por arames farpados; é impossível não se emocionar com o retrato delicado e intimista que Weiwei faz dos refugiados, resgatando em grandes closes e depoimentos curtos a dignidade e a identidade de pessoas que perderam absolutamente tudo.

Com uma trajetória marcada pela questão dos direitos humanos em seu país e, nos últimos anos, pela crise global dos refugiados, Weiwei, que trabalha também com cinema e arquitetura, ganhou reconhecimento mundial pela sua abordagem do tema, como pode ser visto na obra Hands Without Bodies (2017) que estampa o pôster deste ano da Mostra. Weiwei veio a São Paulo para apresentar as sessões seu filme e, em coletiva, afirmou ser função da arte trazer à tona questões políticas como as que Human Flow aborda. Ele mesmo um expatriado, vivendo hoje em Berlim, Weiwei se mostrou à par das recentes polêmicas sobre censura à arte no Brasil e apontou que a mudança que queremos ver na sociedade precisa vir dos indivíduos, posto que esperar por soluções de políticos e instituições não virão, já que eles “não se importam”.  Coeso em seu diálogo e arte, o artista é um dos destaques desta Mostra, com a apresentação especial do documentário de Alison Klayman, Ai Weiwei – Sem Perdão, vencedor do Prêmio Especial do Júri no festival de Sundance de 2012.

 

A programação da 41ª Mostra Internacional de Cinema ocorrerá em 41 salas de 34 locais de exibição: Auditório Ibirapuera – Oscar Niemeyer (Área Externa), Cine Caixa Belas Artes (Sala 3), CineArte (Salas 1 e 2), Cinemateca Brasileira – BNDES, Cinesala, CineSesc, Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca (Salas 1, 2, 3, 5, 6), Espaço Itaú de Cinema – Augusta (Salas 1 e 4), Instituto Moreira Salles (IMS Paulista), Itaú Cultural, MIS, Playarte Marabá (Sala 1 ou 3), Playarte Shopping Pátio Paulista (Sala 2), Reserva Cultural, Spcine Olido, Spcine Paulo Emilio – CCSP, Spcine Lima Barreto – CCSP.

O circuito gratuito contempla: Instituto CPFL – Sala Umuarama (Campinas), SESC Belenzinho, SESC Campo Limpo, SESC Osasco – Cine Chaparral, Spcine – Biblioteca Roberto Santos, Spcine Butantã, Spcine Caminho do Mar, Spcine – Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes, Spcine Jaçanã, Spcine Jambeiro, Spcine Parque Veredas, Spcine Perus, Spcine Quinta do Sol, Spcine São Rafael, Spcine Três Lagos, Spcine Vila do Sol, MASP (Vão Livre), CINUSP – Auditório CTR – ECA USP.

A Central da Mostra para compra de ingressos fica no Conjunto Nacional (Av. Paulista, 2073) e as vendas vão até 01 de novembro, das 11h às 21h. Também haverá um stand da Mostra para troca de ingressos no Shopping Frei Caneca (3o andar, ao lado das bilheterias do cinema), atendendo de 19/10 a 01/11, das 12h às 21h.

Importante lembrar que para adquirir ingressos no dia da sessão, somente nas salas de cinema. A Central da Mostra não vende ingressos avulsos, apenas pacotes. No site veloxtickets.com o ingresso poderá ser adquirido com antecedência de três dias a um dia da sessão.

Você encontra mais informações sobre programação e lista de filmes no site e na fanpage da Mostra.

Escrito por Tati Lopatiuk

Tati Lopatiuk é redatora e escritora em São Paulo. Gosta de romances em seriados, filmes, livros e na vida. Suas séries favoritas são Girls, The Office e Breaking Bad. Pois é.

Seus livros estão na Amazon e seus textos estão no blog.

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