Eu já disse a vocês que eu sou péssima em escrever sobre séries que não assisto na agenda nacional, não disse? Eu já tentei, mais de uma vez até, e acaba que eu me adianto e assisto a tudo e não consigo acompanhar escrevendo, como se o fato de ter o próximo episódio com data marcada na semana seguinte funcionasse como o gatilho para me manter nos trilhos.
Tanto é verdade que vira e mexe eu me atrapalho com finais de temporada: o episódio é exibido, se na semana seguinte algo acontece e eu não posso escrever sobre ele, o texto sobre o que vi acaba caindo em um imenso buraco negro do qual só é recuperado com muito, muito esforço.
Com a nona temporada de Doctor Who foi assim: sem data de estreia por aqui, comecei a acompanhar pela agenda britânica. Assisti a temporada toda e então ela ganhou uma data de estreia aqui. feliz da vida pensei: poxa, posso assistir aos episódios de novo e então escrever sobre eles no blog. Doce ilusão. Fui bem até o sexto episódio e então me perdi.
Meu controle dos textos é feito em um caderno: nome da série, número do episódio, data em que foi exibido. Mais de uma vez encarei a marcação de Doctor Who 9×07, que depois virou Doctor Who 9ª temporada (quando ela já havia sido toda exibida), que virou Doctor Who 10×00 24/12 quando o especial de Natal foi exibido. Ah, o especial de Natal da River Song!!!!!
Alguns podem falar que isso aconteceu porque Peter Capaldi não é um grande Doctor Who, mas eles não poderiam estar mais errados.
Acho que nunca uma evolução do doutor foi tão perfeita. Depois de tudo pelo que o 11º passou, um doutor um tanto mais desesperançoso e rabugento era a única coisa que poderia caber. Mais que isso: um Doutor rabugento e que entende, mais do que a maioria, o que sacrifício significa.
E a nona temporada, em verdade, foi sobre mais sacrifícios. E sobre verdades.
Na última vez em que estive aqui falando da série, o Doutor via em Me os efeitos da imortalidade que ele havia dado a menina que havia perdido tudo. Ele viu nela a solidão que ele mesmo carrega em si – afinal ele deixa seus companheiros para trás, conquista outros, mas carrega sempre um pedaço deles consigo.
Assim como carrega o peso das decisões que tomou cada vez que teve de salvar uma parte do mundo. A dupla de episódios The Zygon Invasion e The Zygon Inversion é sobre isso: seu arranjo para que os zygons continuassem vivendo em paz na Terra deixa de funcionar e ele precisa correr para salvar uns e outros. Na iminência da guerra o Doutor tem mais um daqueles seus momentos únicos e brilhantes que resulta em uma lição sobre guerra que nós, na vida real, ainda teimamos em não aprender:
“Quando você dispara o primeiro tiro, não importa o quão certo você se sinta, você não tem ideia de quem vai morrer. Você não sabe quais crianças irão gritar e queimar. Quantos corações serão partidos. Quantas vidas serão destruídas. Quando sangue será derramado até todo mundo fazer o que deveriam ter feito desde o começo. Sentar e conversar!”
Mas foi no arco do final de temporada que ele mais sofreu: a saída de Clara, já anunciada desde o início da temporada, foi dolorida porque não foi uma partida pacífica, mas sim uma questão de morte. Se lá em cima eu disse que alguns dizem que a nova temporada não foi boa por causa do Doutor, bem, para mim ela não foi boa por causa da Clara.
Quem me conhece e leu meus textos sobre a série sabe que minha relação com a companheira de nariz arrebitado já não vinha bem ainda quando ela fazia companhia ao 11º Doutor. Sua arrogância me incomodava, a forma como ela as vezes menosprezava o que ele dizia ou fazia. Não de um jeito curioso ou aventureiro, mas de uma forma que me parecia desrespeitosa.
Então sim, eu queria que a Clara deixasse a Tardis, só que para isso eu tive que aguentá-la ao longo do caminho. Por outro lado, sua saída acabou me parecendo adequada justamente por estar em linha com quem a Clara se tornou ao longo do caminho dela como companheira: ela escolheu sem pensar em mais ninguém. Ela escolheu porque ela se sentia mais esperta do que os outros. Porque talvez ela tivesse certeza de que o Doutor a salvaria novamente.
Só que, desta vez, ele não pode fazê-lo. Ainda que ela tenha conseguido algum tempo extra por conta do arranjo feito com Ashildr/Me – que no final das contas foi a verdadeira responsável pela morte de Clara… Ou seria o próprio doutor, afinal Ashildr se tornou Me porque ele lhe deu a imortalidade sem avaliar riscos também, não é verdade?
O arco final da temporada trouxe outras coisas: o retorno dos Senhores do Tempo, Galiffrey, os Daleks. Heaven Sent foi um episódio diferente de todos, apenas o Doutor e seu desafio, quase sufocante. O final da temporada deixando um gosto um tanto amargo.
Ainda tivemos a exibição de dois especiais de Natal: em 2015, The Husbands of River Song foi um episódio romântico, algo que não víamos na série desde a partida de Rose Tyler. Para mim uma homenagem à personagem que há muito conquistou meu coração. Além de Linda, River é aventureira e divertida. Ela desafia o Doutor, mas de forma diferente de Clara, ela o desafia como um igual, não se acha melhor que ele.
Devo dizer, ainda, que Alex Kingston e Capaldi tem uma química que mereceria uma temporada toda focada só neles. Resta, claro, a esperança que River voltar a aparecer em alguma curva do tempo, ainda que ela tenha se surpreendido em encontrar o Doutor com um rosto que ela desconhecia, e que ela achava impossível, já que não sabia que ele havia ganhado todo um novo “jogo” de regenerações.
Em 2016 tivemos The Return of Doctor Mysterio e eu me diverti tanto!!! Em uma inteligente brincadeira com super heróis e fantasia adolescente. Aqui ao contrário do peso dado à decisão do Doutor de dar imortalidade à Me, um garoto chamado Grant ganha super poderes ao engolir uma pedra extraterrestre e o Doutor esquece de dar uma passadinha para checar as consequências disso.
Eu achei tudo tão delicioso!! Talvez fosse o fato de ter ficado um ano todo sem episódios, talvez tenha sido o gosto amargo que eu tinha ficado com a reta final da nona temporada, mas eu assisti ao episódio pelo menos três vezes e amei cada uma delas.
Então o que esperar da décima temporada – não esqueça: hoje, Às 20h00, no SyFy – depois de um episódio doce como este? Hummm, eu confesso que estou louca para conhecer a Bill Potts (Pearl Mackie), a nova companheira. A garota que tem estrelas nos olhos. Como não gostar de alguém descrita desta forma?
E acho que alguém leve será a companhia ideal para nosso doutor depois do peso do final da temporada passada.
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P.S. Ainda me incomoda profundamente uma ponta solta deixada por Moffat: o descendente de Clara e Danny. Eu já havia ficado com uma pulga atrás da orelha quando Danny morreu, mas imaginei se em algum momento Clara poderia voltar ao passado ou mesmo se ela já estava grávida e não sabíamos – o que até serviria de motivação para ela deixar de ser a companheira do Doutor -, mas com sua morte essa ponta simplesmente sobrou. Moffat foi questionado sobre isso e desconversou, como se não houvesse nada de errado.
P.S. do P.S. Se posso apontar um defeito nesta temporada é o fato de não termos tido episódios no Doutor interagindo com personagens históricos, que sempre são os meus favoritos.
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Belo texto! Também estava louca e temerosa em conhecer a nova companheira, assisti ao episódio na estréia ontem e confesso que foi surpreendente. Os fãs de Doctor Who vão gostar com certeza!