O que faz você feliz?

provérbio

A pergunta já virou até mote de campanha publicitária, afinal não é segredo nenhum que o maior sonho do ser humano é sentir-se feliz, sentir-se pleno – será que plenitude é sinônimo de felicidade?

Então, quando um estudo conduzido pela antropóloga Mirian Goldenberg pergunta O que quer a mulher brasileira? ele pergunta o que ela acredita ser necessário para ser feliz. E, na semana passada, eu tive a rica oportunidade de discutir este tema em uma encontro promovido pela marca Brilhante na companhia de Astrid Fontenelle, da jogadora Natalia Pereira, a chef Carla Pernambuco, da batalhadora Catia Farias e da consumidora Mônica Gonçalves, além da própria Mirian.

A pesquisa aponta como liberdade como a maior busca feminina e isso não é à toa: elas buscam a liberdade masculina com relação ao corpo, ao comportamento sexual, à capacidade de brincar, de rir e ter prazer sem a censura do outro. Ao mesmo tempo elas ainda apontam a necessidade de ser magra e ter um marido como muito  importantes para sua felicidade. Incoerente?

Nem tanto se considerarmos o quanto a mulher brasileira tem dificuldade em não ser 100%: ela quer ser a mais bonita, a mais realizada, a melhor esposa, a melhor mãe e, infelizmente, toda essa pressão gera o contrário do que ela busca, gera infelicidade. A super mulher não existe, mas enquanto em outros países a mulher pode fazer escolhas, por aqui ela se sente responsável por todos à sua volta.

Ciclo que só é quebrado após os 40 anos de idade, quando ela enfrenta o que a antropóloga chamou de “invisível”. Segundo Mirian, ao mesmo tempo em que enfrentam o choque de não ser mais aquela que chama a atenção nas ruas ela descobre a liberdade para ser ela mesma. Ela, mais madura e independente se sente mais segura para trilhar caminhos diferentes daquelas que a sociedade lhe dizia serem necessários.

Eu confesso que experimentei um misto de sentimentos ao longo da apresentação: é triste imaginar que as mulheres sofrem tanto por não atenderem este padrão que nem mesmo é garantia de sucesso ou felicidade. É triste imaginar que este é um modelo que se repete a exaustão e que é preciso tanto tempo para que ela se liberte da cobrança. Fatores como o Brasil ser o país em que mais se gasta com tinta para cabelos, remédios para emagrecimento e anti-depressivos é ainda mais tocante.

Descobri com surpresa que o simples fato de deixar meus cabelos sem tintura me torna objeto de um estudo antropológico: o Brasil é um dos raros países em que mulheres com cabelos brancos são representativa exceção.

Do outro lado, é interessante ver que isto está mudando. Segundo a antropóloga, muitas vezes os costumes mudam antes que a mudança seja percebida pelo coletivo, ou seja, os costumes mudam antes que a sociedade publique isso em suas respostas. Então, apesar de ainda se ver refém dos padrões, ao expressar seu desejo de ser mais livre a mulher anuncia que as coisas já estão mudando e eu não poderia ficar mais feliz por isso.

E a confirmação disso veio no papo que se seguiu a apresentação: as mulheres presentes ao encontro tinham tanto a falar de si, tantas conquistas, independentemente da idade ou do que os demais acham que elas devam fazer. Astrid falou da batalha contra o lúpus e da felicidade de ter podido mostrar seu rosto verdadeiro para as câmeras na companhia de seu filho; Carla falou dos desafios de se reinventar várias vezes, em diferentes cidades, de seu filho autista e das muitas alegrias; Natália falou de enfrentar a descoberta de um tumor na perna no auge da carreira, enfrentar o tratamento e recomeçar, voltando a acreditar na sua capacidade depois de vencer o medo de não conseguir, isso tudo em apenas um ano; Catia levou boa parte das presentes às lágrimas, eu inclusive, ao contar sua história em que perdeu tudo, tudo mesmo, e encontrou forças para iniciar algo totalmente novo e então encontrar o sucesso com seu bendito quindim – que eu fiquei morrendo de vontade de experimentar. E Mônica que falou de sua batalha diária para oferecer um futuro melhor para seus filhos – motivação que, na verdade, guia a maior parte das mulheres brasileiras.

Acho que a marca não poderia escolher melhores exemplos para as novas mulheres que quebram, dia a dia, o ciclo desses padrões irreais que tornam a vida da gente um tanto mais complicada sem necessidade nenhuma disso.

E a escolha está diretamente relacionada ao que eles esperam colocar no ar com o reposicionamento da marca, já que nesse nosso modelo 110% uma ajudinha com a casa não vai nada mal. Na verdade eu deixo um elogio aqui para a escolha não somente das representantes, mas do mote da campanha de valorizar esse lado lutador das mulheres que faz com que elas não desistam de seus sonhos.

evento mulheres brilhantes

P.S. E, de novo, eu só tenho a agradecer por este espaço aqui, que me proporcionou tão rica experiência. Estar com essas mulheres, conhecer suas histórias, aprender com suas experiências – quem disse que aprendemos apenas com os erros? – é daquelas oportunidades que marcam nossa vida e, torço eu, servem de ponta pé para novos rumos.

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

4 Comentários


  1. Simone!!!
    Seu post me fez pensar… adoro!! hehe
    Incrível como mudamos de papel para a sociedade ne? Mas o importante é saber quem somos (ou queremos ser) para nós mesmas…
    beijao
    Lele

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  2. Ah, Simone. Amei teu post, muito mesmo! Achei fantástica a abordagem que fizeram neste encontro e o encontro em si, claro. É tão complicado para nós mulheres, independentemente da idade, conseguir lidar com todas essas cobranças ou até de mostrar para a sociedade que não somos só aquilo que ela pensa de nós etc.

    Eu sou mulher, mas isso não significa que eu deva ser consequentemente mãe, ou magra ou seguir um padrão de beleza. Não significa sobretudo que não posso envelhecer em paz, decidir por me depilar ou não dentre tantas outras coisas. Mas não é tão simples assim, ser mulher não se resume a uma luta interna de descobrir quem somos e o que queremos,consiste também em uma luta externa com a sociedade para que ela nos deixe ser quem somos e fazer o que queremos. É difícil, viu?!

    Beijão!

    Ps.: Eu amo o teu cabelo de paixão!

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    1. Obrigada moça, de coração!

      Não é fácil não, eu ainda tenho a pequena aqui e juro que tento todo dia tornar pelo menos a vida dela mais fácil, mostrando que não precisa de tudo isso, mas vez por outra me pego me criticando. Derrubando. Péssimo isso, afff!

      Beijos

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