Ser mãe, estar mãe, acertar como mãe…

Eu nunca tive qualquer dúvida quanto a ser mãe. Eu acho que isso já estava em mim desde sempre, não era algo a ser resolvido, a ser discutido e eu não tinha grilos nem quanto ao quando: quando chegasse a hora.

Tive uma gravidez ótima, um parto fácil, dei banho na Carol sem medo e cuidei dela desde o primeiro dia sozinha, sem mãe sogra ou babá. Não por falta de oferecimento, mas eu nunca tive medo de não saber o que fazer. E sempre me considerei, ainda me considero, não vou usar falsa modéstia, uma ótima mãe.

Troquei carreira de sucesso em empresa grandona, por carreira de sucesso em empresa melhor mas com rotina mais fácil: meu tempo com a Carol é sagrado de segunda à sexta. Pediatra escolhido a dedo, e pago com muito esforço, sempre indicou como melhor cuidar e eu sempre segui à risca. Vou em toda reunião de escola e entre elas pentelho da professora à diretora querendo saber mais, participar mais, ajudar no que for possível.

Nos finais de semana é normalmente ela quem escolhe os programas, os momentos.

Carol nunca teve doença mais séria que um forte resfriado. Nas duas vezes em que parou no hospital foi para levar uns pontos por alguma arte feita. Come bem, dorme bem e é inteligente.

Apesar de tudo isso e de nunca ter duvidado de que fiz as escolhas certas, tem dias que se você me perguntar em uma escala de 0 a 10 como é minha vida, sendo 0 para um episódio da Super Nanny e 10 para comercial de margarina, eu diria a você que fico saindo do 05 pro 03 mais vezes que do 05 pro 08.

E a gente tenta: a gente lê um monte de livros e revistas, a gente assiste à Super Nanny (adoro a Jô Frost e tô feliz que teremos um novo programa, agora de conselhos dela, indo ao ar no GNT a partir do sábado dia 28 de Agosto, às 18h00), a gente conversa com todo mundo, eu faço terapia, o marido faz terapia e a gente vai tentando acertar o tom. Na vida de mãe, na verdade, a gente erra bastante, mas fica feliz cada vez que acha ter feito um acerto.

Amo minha filha acima de tudo e tanto esforço é na tentativa de vê-la feliz, saudável, crescendo capaz de realizar seus sonhos e, sim, convivendo bem em sociedade.

Como eu disse antes: me considero uma boa mãe.

E sou uma boa mãe que já deu palmadas na sua filha.

Não que em casa a gente ache que palmada soluciona tudo, normalmente ela vem depois do pedido pacífico, da conversa séria, da conversa séria em tom mais duro, da ameaça do castigo, do castigo em si. A palmada não é artigo de atacado e normalmente dói na gente também – lembro de uma vez em que até me tranquei no quarto para ela não ver que eu também estava chorando.

Sim, meu pai praticava a palmada também – na verdade ele tinha um relacionamento íntimo com uma cinta, coisa de espanhóis – mas ao contrário de outros não tenho trauma algum disso, na verdade nem lembro de quando eu levei umas palmadas, e não acho que eu tenha que fazer tão diferente deles, porque, no final das contas, até que eu dei bem certo na vida.

E por que eu estou falando tudo isso? Porque acho terrível eu e outras mães – numa boa, 80% das mães com quem convivo já deram suas palmadas – sermos colocadas no mesmo balaio que as pessoas que espancam seus filhos, que não tem respeito algum pelo ser humano, de qualquer tamanho ou idade, por conta da tal Lei da Palmada.

Quem ama seus filhos não precisa de leis para saber se está avançando o sinal que mostra quando estamos passando da linha e de que é preciso se afastar e repensar suas atitudes. E quem pratica a violência gratuita não será melhor por conta dessa lei, ainda mais se considerarmos que que já existem leis para coibir à violência.

Isso sem contar as dificuldades de fiscalização e das denúncias falsas que podem ser feitas. Imaginem casais separados e que já não tem um relacionamento saudável usando isso para afastar seu filho do ex, que pode até ser melhor pai que ele.

Escrevo isso sabendo que muitas pessoas discordam de mim, que algumas acham que a palmada é falta de controle, que existem outras maneiras. Escrevo isso porque olho para algumas mães que se sentem menos mães, e sei que são boas mães, porque um monte de gente levanta a bandeira da lei. Muitas delas se sentem incompetentes e culpadas, como se as culpas da maternidade já não fossem suficientes.

Escrevo para que saibam o que eu penso e aviso, que se eu sumir por aqui por um tempo depois que a lei fora aprovada, bem, eu posso estar na cadeia.

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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