Não costumo falar de minhas posições políticas por aqui, mais por falta de paciência com o bando de gente que vai vir até o MEU blog reclamar que não concorda com a MINHA opinião do que por qualquer outro motivo. Até porque eu curto muito tudo isso, fico acompanhando a eleição americana como se fosse aqui e acho que as pessoas precisam se posicionar, tipo, apoiar alguém, saber em que está votando e depois cobrar resultados. Isto tudo acaba acima da minha falta de fé no sistema.
E eu não quero aqui falar de política, mas de falar de algo que me deixou feliz, me pareceu simpático demais, porque foi feito sem obrigação, porque foi feito por polidez (e polidez vem acima da obrigação).
E o que vou transcrever aqui eu li no blog do Reinaldo Azevedo, jornalista que admiro demais, não só por suas posições políticas, mas por causa de seus muitos artigos sobre educação e cultura. Admiro pessoas que realmente se envolvem, que lêem, que falam com conhecimento de causa. E ele faz tudo isso.
Uma mãe compartilhou com ele, que compartilhou com a gente, a experiência que ela viveu ao levar sua pequena filha a um evento com o candidato a reeleição Gilberto Kassab, veja só:
Rei, sei que é um tanto off-topic, mas decidi contar. Será que é possível fazer com que os brasileiros comecem a se interessar pelo país desde cedo? Acho que sim. Relato uma experiência pessoal, mas que me deixou muito orgulhosa. Como havia mais gente presente, vão saber que não é só coisa de mãe…
Na terça passada (16-09) fiz um convite para a minha filha, Sophia, ir ao debate do Kassab no Teatro Augusta promovido por associações de produtores teatrais (estavam presentes Odilon Wagner, Irene Ravache, José Renato, Beatriz Segall, Zulaiê Cobra… umas 80 pessoas).
Sophia aceitou, a despeito do horário do debate (20h).
Já no carro, em direção ao teatro, ela começou a pensar em que pergunta faria ao prefeito. Ela queria saber quanto ele gasta com cultura.
Kassab começou sua explanação falando do tema. O orçamento para o ano que vem será de 2%. Este ano foi de 1,25%, um aumento expressivo.
Então, falei baixinho para a Sophia que a pergunta dela já havia sido respondida.
Pensei que ela ficaria chateada ou frustrada por não ter mais o que perguntar. Mas não! Ela ficou prestando cada vez mais atenção.
Passaram-se 30 minutos e a Sophia me cutucou: “eu tenho mais uma pergunta”, disse toda contente.
Ela me contou o que iria perguntar e levantou a mão. Quando chegou a vez dela (ela era a única criança), ela foi ao microfone e perguntou seriamente: “quanto você gasta nos CÉUS e quanto gasta nos teatros?”
Kassab disse que não sabia a resposta de cabeça e que ela desse o número de telefone para ele. No dia seguinte ele ligaria para ela.
Ela voltou a sentar ao meu lado e, quando o relógio marcava 22h, Sophia me cutucou para dizer que gostaria de falar novamente.
Ela pegou meu caderno e ficou escrevendo porque percebera que muitos levavam uma colinha para perguntar.
Foi lhe dada a palavra pela segunda vez: “eu queria que você fizesse escolas de teatro, circo e dança em todos os bairros para que todas as crianças de escolas particulares e públicas se misturassem.”
Ela foi até aplaudida.
O prefeito disse que, se ela perguntasse aos avós, ela saberia que as escolas públicas no passado eram freqüentadas por todos.
(bem… aí o Kassab errou, pois os pais da Sophia são velhos e estudaram em escolas públicas).
Ao final ela levou um papel com o número de telefone de casa para o prefeito. Escreveu a pergunta que não havia sido respondida, colocou o nome (Sophia Tagliaferri) e finalizou o recado: “ligar na sexta às 10h”. Eu pedi a ela para colocar a palavra “por favor”. Ela me obedeceu.
Depois de várias tentativas (já que a Sophia é muito ocupada), o prefeito conseguiu falar com ela no sábado (20-09). Primeiro ligou o assessor e quando a encontraram (nem eu nem o Fabio estávamos do lado dela) o prefeito falou diretamente com ela. “O gasto é de 400 milhões para os CÉUS e 18 milhões para os teatros da prefeitura”. O prefeito elogiou a reunião que ela participou e perguntou “o que ela quer ser quando crescer”. Ela respondeu: JORNALISTA!
Eu falei: “jornalista, hein?”
Ela me respondeu: “Eu ia falar prefeita, mas eu achei que seria chato…”
Na escola ela não contou para ninguém. Ela me disse: “meus colegas não se importam com isso”. No que ela tem toda a razão.
Eu já contei para a professora e para a diretora da escola. Mãe coruja…
Desculpe-me se o comentário ficou muito longo,
Um beijo.
Jeanne
Achei sensacional. Pelo exemplo da mãe que levou sua filha para ver a política sendo feita e por Kassab, que não tinha obrigação nenhuma de ligar para a menina. Muitos não o fariam. Ele fez por polidez e, acredito, fez porque ele é assim. Então nem me importo quando ele ignora repórteres, porque ele deu atenção à pequena pergunta de uma pequena garota, que um dia vai fazer o futuro deste país.