O caráter traiçoeiro das dublagens
Quem gosta de séries quer estar o mais próximo possível do universo ali delineado
Por Bia Abramo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0909200724.htm)
DUAS NOTÍCIAS recentes chamam a atenção para certa ta imprevisibilidade do gosto do público, no qual esta coluna costuma insistir e para o qual a sensibilidade dos executivos da TV parece estar embotada.
Na semana passada, a coluna de Daniel Castro revelou que os primeiros números divulgados pelo Ibope indicam que a decisão de exibir séries dubladas pode ter sido equivocada para a Fox. Como o instituto não divulga audiência da TV paga, trata-se do alcance, ou seja, do número de televisores ligados pelo menos um minuto naquele canal: em julho, mês em que a Fox passou a exibir todas as suas séries dubladas, o alcance diário do canal caiu 10% em relação ao mês anterior.
No caso da versão brasileira de “Desperate Housewives”, da Rede TV!, a coisa é ainda mais dramática: em três semanas de exibição, a audiência caiu 40%. Saiu de um patamar de cinco pontos, considerado razoável dada a emissora e o horário, e caiu para três.
A opção da Fox pela dublagem parece ser uma simples tentativa de atingir uma audiência maior, que seria, nessa concepção, menos afeita a ler legendas. Legítimo, claro, mas talvez pouco perspicaz em relação ao que constitui um dos maiores apelos das séries. As séries são atraentes pelas tramas e pelos personagens, claro, mas quem gosta de séries também quer estar o mais próximo possível daquele universo ali delineado -e isso inclui a língua.
A rejeição à dublagem não se deve apenas às perdas eventuais da graça de certas expressões (que fatalmente ocorrem), por melhor que ela seja feita. O problema é que ela se interpõe, lembrando constantemente ao espectador que ele está excluído daquele universo, daquele modo de vida, daquilo que as séries sugerem como modelos de consumo e atitude.
Na língua original, mesmo com as legendas, fica mais fácil para o espectador se sentir parte de uma espécie de uma certa comunidade global imaginária, sintonizada nas mesmas questões e em maneiras semelhantes de expressá-las.
Se a proximidade do espectador com a série fica, digamos, relativamente comprometida com a dublagem, o que dizer de uma versão que faz uma espécie de dublagem de corpos e objetos de cena, como em “Donas de Casa Desesperadas”? A produção argentino-brasileira seguiu todas as instruções ao pé da letra, mas isso não conseguiu transformá-la exatamente numa série.
Nos dois casos, parece que as apostas em direção a uma certa facilitação -dublagem, versão com atores brasileiros- não têm relação direta com um maior apelo de público.
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Entendo. 😉
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Acho que o que se perde com a dublagem é parte da alma do personagem. Cada personagem é único e importante de ser apreendido integralmente. Como compreendê-lo, como empatizar com ele se não podemos ouvir a inflexão de sua voz? A questão nem é a língua que ele fala mas como ele fala. Na dublagem, temos uma simbiose desagradável, temos a aparência, a gesticulação, a movimentação e a expressão facial de um ser com a entonação e expressão vocal de um outro ser. No mínimo, bizarro… e para mim, péssimo. Inaceitável.
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A questão eh muito polêmica. Não acho que o expectador se conecta mais com uma série legendada, a não ser que ele tenha o hábito de ver série legendada. Talvez seja uma questão de hábito. É muito difícil uma dublagem competir com a voz original, isso é óbvio, mas se lembra q a Fox durante um tempo realizou uma programação legendada na semana e dublada no sábado e domingo?
Um expectador que vê sua série preferida legendada e depois sem perguntarem a ele tem que assistir dublada é horrível (eu parei de assistir Bones por causa disso) mas em contrapartida, para mim foi um sacrifício ter q me acostumar com as vozes originais do Mulder e da Scully quando assinei a Fox (e a dublagem desse seriado nunca foi tachada de ser horrível soh pelo simple fato de ser dublada). Como eu disse eh uma questão polêmica, e difícil de se chegar a uma conclusão.