Livros: Sobre Homens e Lagostas


Sinopse

As ilhas de Fort Niles e Courne Haven são inimigas há décadas, e os lagosteiros locais sempre estiveram em pé de guerra. É nesse mundo que vive Ruth Thomas, a jovem heroína deste livro. Herdeira de família milionária por parte de mãe, Ruth poderia ter escolhido uma vida de luxo e privilégios, em qualquer lugar do mundo. Mas é na simplicidade da ilha de Fort Niles, onde reside o pai pescador, que ela escolhe morar. Contrariando a todos da ilha, a jovem perspicaz e desprovida de qualquer romantismo acaba se envolvendo com um dos maiores inimigos do pai – o aspirante a pescador Owney Wishnell, cujo porte atlético e aspecto reservado fazem Ruth ceder a seus impulsos sexuais e aumentam ainda mais o seu desejo de permanecer na ilha. Em meio às guerras entre os pescadores e um relacionamento proibido, Ruth Thomas sobressai-se como uma mulher de personalidade forte que promete fazer uma revolução, não só na estrutura das duas ilhas, mas na forma como seus moradores veem o mundo a sua volta.

Sobre Homens e Lagostas primeiro me chamou atenção por sua capa, toda alegre e colorida (a capa americana tem uma lagosta enorme vermelha sobre fundo preto, é provável que eu ignorasse), que eu acreditei estar relacionada a uma história leve, numa paisagem diferente (e bonita). Além disso, contou ponto a favor a autoria de Liz Gilbert, mesmo eu só tendo lido, até hoje, Comer Rezar Amar – que tinha me surpreendido tão positivamente.

Eu não sei vocês, mas eu adoro histórias que se passam em paisagens características, como o Maine, ou as cidades litorâneas chiques dos EUA como Martha’s Vineyard ou Hamptons, tão diferentes de nossas cidades brasileiras – também gosto muito de ler histórias que se passam em cidades brasileiras tão diferentes da minha São Paulo – em que a cidade acaba se tornando um personagem da história.

Então Sobre Lagostas e Homens se passa em duas ilhas próximas à cidade de Boston, que sofreram uma colonização não muito “direita”. Suas populações são compostas basicamente de pescadores, mas durante anos eles também receberam a presença de operários que trabalhavam em uma fábrica de granito/ mármore que lá se instalou (parte em uma ilha, parte em outra). Não fosse por isso, as ilhas teriam moradores descendendo das mesmas famílias, sem mistura alguma, primos casando com primos e coisas assim. Para ser sincera, a mistura com os tais operários foi bem pouca, então sim, as famílias são ligadas por laços dos mais diversos.

Ainda mais se considerarmos que dificilmente os moradores de uma ilha se misturavam com os da outra, já que uns consideravam os outros inimigos, numa vida simples em que pequenos problemas podem gerar grandes raivas… Que algumas vezes resultam em verdadeiras guerras.

Essa vida simples permeia boa parte do livro de Gilbert: uma história que não flue da maneira que eu esperava. Nada da história leve e divertida anunciada pela capa. Ao invés disso uma discrição, em pormenores, do dia a dia dessas pessoas. Dias que se repetem a exaustão, rotinas nunca modificadas.

Talvez o tanto de discrição serviria para destacar as diferenças de Ruth, a tal heroína de que fala a sinopse, mas acabam por tornar a missão da moça quase impossível: trazer charme, leveza, beleza à paisagem.

Entendam bem: Sobre Homens e Lagostas não é um livro ótimo, mas não considero horrível. Acho que seu maior problema está na promessa, feita na sinopse e reforçada em seu início, de que Ruth nos arrebate como heroína, nos envolva em seus sonhos, nos faça torcer para que ela consiga o que quer.

A promessa não se realizou para mim, pelo menos. Ruth é sem graça, uma menina mimada que não sabe o que quer, mas repete a todo tempo que não quer aquilo que os outros acham que ela deveria querer. Só que ela não sabe nem isso, ela nunca parou para conversar com seu pai, sua mãe, seu avô, com ninguém sobre o que esperavam dela. Ela acha que sabe.

Essa prepotência não ajuda. A falta de sonhos não ajuda. E a virada final, no último capítulo, quando a vida dela dá uma guinada, quando ela consegue mudar o destino das pessoas que vivem naquela ilha, bem, o final não cabe. O final que se desenha não pertence aquela garota que conhecemos ao longo de todos os outros capítulos.

Sim, o final até corresponde à tal promessa do início, mas sua ligação com o resto da história ficou faltando.

Uma pena.

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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