CINEMA: SOMBRAS NO DESERTO

Quando se trata de Nicolas Cage, a gente já sabe que o projeto mais inusitado dele vai ser sempre o próximo. Essa máxima se mostra verdadeira com o lançamento de Sombras no Deserto, um improvável longa de terror baseado em apócrifos biblícos que foi censurado em diversos países ainda na fase de produção. Mas qual a razão de tanta polêmica?

Transitando entre o profano e o sagrado, Sombras no Deserto traz uma trama onde, no Egito antigo, uma família vive escondida, tentando escapar de um passado que não pode ser revelado. O Carpinteiro (Nicolas Cage), sua esposa (FKA twigs) e o Menino (Noah Jupe) sobrevivem entre a fé e o medo de serem encontrados. Quando uma presença sombria cruza seu caminho, o Menino começa a questionar tudo o que acredita, despertando forças que nem ele é capaz de compreender. À medida que seu dom cresce, o confronto do sagrado com o desconhecido se inicia.

Baseado no evangelho apócrifo Pseudo-Tomé, o longa mergulha em um capítulo obscuro e quase esquecido da tradição cristã. Diferente dos evangelhos canônicos, o Evangelho da Infância segundo Tomé retrata um Jesus adolescente dotado de poderes divinos que ainda não compreende.

Essa figura contraditória e ainda em formação inspira o filme a construir um retrato radicalmente novo do messias: não como o salvador plenamente consciente de sua missão, mas como um garoto confrontado com dons que não entende, cercado pelo medo e pela incompreensão dos que o rodeiam, inclusive de seus próprios pais.

Além de se passar no Egito, o filme foi escrito e dirigido por um cineasta egípcio cristão, Lotfy Nathan. Desde o anúncio, a produção gerou forte reação pública no Egito, com muçulmanos e cristãos considerando a obra ofensiva à Sagrada Família. Diante da controvérsia, o governo egípcio negou autorização para as filmagens, e a equipe precisou transferir a produção para a Grécia.

Outro detalhe de bastidores é que o filme surgiu como oportunidade e só aconteceu porque Nicolas Cage pediu ao seu agente que encontrasse um roteiro que se parecesse o máximo possível com algo que Robert Eggers faria — tudo porque o diretor havia comentado que não conseguia imaginá-lo em um de seus filmes. Ofendido, Cage decidiu provar o contrário da melhor forma que sabe: atuando.

Afinal, se tem outra coisa que sabemos sobre Cage, além de que ele entrega o inusitado, é que ele também costuma entregar talento. A atmosfera sombria e mística de Sombras no Deserto casa perfeitamente com a atuação do astro, que consegue se destacar em um filme onde o protagonista é outro. Falando no protagonista, Noah Jupe, o Menino, também é uma boa surpresa. E se você nunca pensou que um dia veria FKA Twigs e Nicolas Cage contracenando juntos, bom, saiba que essa é mais uma improbalidade maravilhosa que Cage traz para as telonas.

Ou seja, entre a curiosidade e o profano, Sombras no Deserto vale o ingresso e garante o entretenimento.


Sombras no Deserto estreia nos cinemas em 13 de novembro com distribuição nacional da Imagem Filmes.

Escrito por Tati Lopatiuk

Tati Lopatiuk é redatora e escritora em São Paulo. Gosta de romances em seriados, filmes, livros e na vida. Suas séries favoritas são Girls, The Office e Breaking Bad. Pois é.

Seus livros estão na Amazon e seus textos estão no blog.

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