Denis Villeneuve provavelmente estava muito feliz e despreocupado vendo seu colossal Duna: Parte 2 atingir tamanho sucesso a ponto de ser considerado o filme do ano em pleno fevereiro. Correndo pelas beiradas, George Miller tinha outros planos. E é assim, chegando para garfar a atenção de quem ama um bom filmão de qualidade, que chega aos cinemas Furiosa – Uma Saga Mad Max.
Afinal, assim como a história em Duna, todo o universo de Furiosa é velho conhecido do público. E embora seja previsível que os dois filmes concorrerão nas mesmas categorias técnicas nas premiações do próximo ano, entre um blockbuster e outro, temos pontos a considerar sobre o lançamento da vez.
Após anos lutando para colocar de pé uma produção onerosa e repleta de complexidades, George Miller finalmente traz o filme que vai contar como começa a história da Furiosa, que aparece com grande protagonismo em Mad Max: Estrada da Fúria, de 2015.
Com o mundo entrando em colapso, Furiosa, ainda criança, é sequestrada do Green Place das Muitas Mães e levada por uma horda de motoqueiros liderada pelo Senhor da Guerra Dementus. Vagando pela terra desolada, eles encontram a Cidadela controlada por Immortan Joe. Enquanto os dois tiranos lutam por poder e controle, Furiosa terá que sobreviver a muitos desafios para encontrar e trilhar o caminho de volta para casa.
Sendo a franquia Mad Max tão ampla que permite sagas múltiplas em seu universo, o que temos aqui é o foco em uma personagem em específico, em acontecimentos que precedem os vistos no filme de 2015. Furiosa – Uma Saga Mad Max é uma história de origem. E, como tal, nos presenteia com um contexto aprofundado que não tínhamos, mas também cai no risco de nos entediar diante do fato de que já sabemos como essa história vai terminar.
Buscando o meio termo entre essas duas possibilidades, Miller entrega um filme muito bem executado, onde a ação impera e diálogos não são prioridade. É um filme muito sobre testemunhar os acontecimentos dantescos na tela, sobre se impactar com a perversidade de tudo. É sobre o nosso olhar diante do caos e da desesperança. Sendo honesta, ninguém melhor do que Anya Taylor-Joy, com seus olhos enormes e expressivos, para trazer essa mensagem.
A escalação de Anya Taylor-Joy foi um escolha questionada pelos fãs da saga, porém. No filme de 2015, Furiosa foi interpretada com incomparável talento por Charlize Theron. Embora pareça natural, a ideia de trazer Theron novamente, neste filme dedicado à personagem, foi barrada por conta de ser justamente uma história de origem. A opção de usar inteligência artificial para adaptar o rosto de Charlize a uma versão muito mais nova sua foi considerada, mas dizem que o medo do efeito causar estranheza parecida com a que vimos em O Irlandês (2019) fez Miller procurar uma atriz mais nova.
Que seja. Anya Taylor-Joy dá conta do recado, a gente sabe que ela é boa. Aqui mesmo, ela está exatamente isso: boa, apenas. E provavelmente não contava com a estrela de Chris Hemsworth, que resolveu brilhar… Inesperadamente, o filme é todo dele, que rouba a nossa atenção com uma interpretação com tantas nuances e carregada de tanto carisma que é difícil não se apegar ao vilão da história, o histriônico Dementus.
Entre tantos estímulos, contextos e cenas lindas de CGI indisfarçável, parece mesmo que Furiosa – Uma Saga Mad Max é uma grande corrida para contar e explicar muitas coisas que envolvem seu mundo dentro e fora das telas. É feito para que nós sejamos testemunhas não só dessa história, mas do esforço hercúleo que foi necessário para realizá-la. São quase três horas de filme, um tempo que passa rápido na mesma medida que parece mal-aproveitado. Podia ter uns 40 minutos a menos, algumas voltas foram desnecessárias.
Então, se o embate é entre filmes grandiosos, sempre fica a pergunta: o mérito é pra quem fez ou pra quem tentou fazer? Arrisco dizer que Furiosa – Uma Saga Mad Max se esforça muito, mas fica apenas na tentativa. Villeneuve pode voltar a sorrir, despreocupado.