CINEMA: BATEM À PORTA

Eu realmente não acho, pelo menos não todas as vezes, que quando o M. Night Shyamalan vai criar um novo filme a primeira coisa que ele pensa é “hmmm…. esse aqui a Tati vai gostar”. No entanto, eventualmente, é sempre isso que acontece. Eu sempre gosto de tudo o que o Shyamalan cria, até mesmo quando, de inicío, o filme não tem aquele impacto que os filmes dele costumam ter.

É o caso de Batem à Porta, novo título do cineasta indiano, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (02). Já me adianto nessa resenha contando que gostei do filme, sim. Mas fiquei meio assim. Acho que é o tema.

Batem à Porta conta a história de uma família que é feita de refém por quatro estranhos armados. Presa nessa emboscada e com acesso limitado ao mundo lá fora, essa família, formada por dois pais jovens e uma filha pequena, precisa fazer uma escolha impensável para evitar o fim da humanidade. O papo é “ou vocês fazem esta coisa terrível aqui ou o mundo acaba”. 

Não sou uma pessoa derrotista, pelo contrário, amo viver. Mas sou bastante pragmática e, nesses papos de fim do mundo, me conecto muito com aquele meme do profeta dizendo “estamos perto do fim!” e o cara na rua respondendo “tomara!”. Honestamente, se o mundo vai acabar, porque me desgastar cometendo um ato terrível contra a minha família? Eu hein, que acabe logo de uma vez! Não sou insensível, porém os anos de pandemia e desgoverno me tiraram um pouco o brilho. A gente precisa ser prática.

Apesar de me conhecer como ninguém (não nos conhecemos), Shyamalan parece desconsiderar essa possibilidade e aposta neste viés de que todo mundo vai querer evitar o fim do mundo, em seu novo filme. Interessante. Mesmo não se conectando, em um primeiro momento, com a urgência da premissa, você acaba gostando do que a envolve porque, sendo quem é, o diretor sabe exatamente como jogar com nossas crenças e nos colocar em dúvida. Em suspenso. Sim, mais uma vez, Shyamalan brilha entregando um suspense de primeira, que nos faz pensar e coloca em cheque o que acreditamos ao trazer outras questões para costurar o tema principal, fazendo com que você o analise sob diversos prismas.

E aí, até a mais pragmática das pessoas começa a se perguntar… Eu deixaria o mundo acabar? Ainda existe algo na humanidade que vale a pena ser salvo? São questionamentos que você se faz enquanto o pau tora lá na tela. Aliás, atuações incríveis: Dave Bautista, Jonathan Groff, Bem Aldridge, Nikki Amuka-Bird, Kristen Cui, Abby Quinn e Rupert Grint, só a elite em uma performance muito coesa, muito próxima, quase tudo acontece dentro da casa e é bastante intimista. E intimidador.

E, no fim das contas, você se rende. Existe essa sensibilidade, esse olhar mágico místico de fé em tudo que o Shyamalan faz que acaba conquistando, mesmo que o tema principal pareça longe do seu coração. Acho que é por isso que gosto tanto dele. Muitas vezes o cinema nos mostra não apenas o que sabemos, mas nos surpreende ao apontar o que esquecemos que somos e que podemos sentir. Shyamalan tem esse poder e, assistindo a Batem à Porta, fica ainda mais fácil acreditar que ele sabia, sim, que eu ia gostar desse filme.

Com produção Blinding Edges Pictures, roteiro e direção de M. Night Shyamalan e distribuição Universal Pictures, Batem à Porta chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, dia 02 de fevereiro.

Escrito por Tati Lopatiuk

Tati Lopatiuk é redatora e escritora em São Paulo. Gosta de romances em seriados, filmes, livros e na vida. Suas séries favoritas são Girls, The Office e Breaking Bad. Pois é.

Seus livros estão na Amazon e seus textos estão no blog.

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