Um dos mais prolíficos assassinos em série americanos, Ted Bundy tem inspirado livros, documentários, séries e filmes desde que foi preso nos anos 70. Diria eu, em verdade, que o material literário sobre ele é tão rico que deve ser bem difícil para estúdios e produtores resistirem a tentação de mais uma adaptação.
Ted Bundy: A Confissão Final (No Man of God), que chegou às plataformas digitais na última quinta-feira, tenta trazer algo novo ao tirar o foco do assassino e levá-lo para Bill Hagmaier (Elijah Wood), agente do FBI que teve acesso ao assassino pouco antes da execução de sua sentença de morte e responsável pelas fitas cassete que gravariam a confissão do assassino, que manteve-se em silêncio sobre seus crimes até seus momentos finais.
Ted Bundy (aqui vivido por um extremamente bem caracterizado Luke Kirby) foi responsável pela morte de dezenas de mulheres ao longo de aproximadamente vinte anos – até hoje não se tem certeza do número total e muitos corpos não foram encontrados – e tornou-se o objeto ideal de tantas produções por diversos motivos: o fato de ter vivido uma vida normal em paralelo aos seus crimes sem levantar suspeitas; suas duas fugas teatrais da polícia, uma delas do tribunal; sua atuação no julgamento, decidindo defender a si próprio ainda que não tivesse diploma e fosse desaconselhado; e, principalmente, a violência de seus crimes.
Ao mudar o foco da trama, o filme dirigido por Amber Sealey tenta mostrar o conflito vivido pelo agente Hagmaier, que em suas conversas com Bundy acabou por criar uma relação com o assassino, quase uma amizade, enquanto passou a ser assombrado pelos detalhes dos crimes que ele descrevia.
Ted Bundy passa anos na prisão antes da execução de sua sentença e durante todo esse período recusou-se a a admitir qualquer crime. Prestes a morrer, no entanto, ele resolve revelar os detalhes do seu crime para um agente do FBI com quem ele trocava cartas até ali falando de crimes cometidos por outros assassinos.
O roteiro, retirado das próprias fitas gravadas, acaba por trazer um Ted Bundy que pode causar estranheza em quem assistiu a outras obras sobre o tema: às vezes inseguro, em outros carente, ele difere daquele sedutor que tentou ser ao longo de todo o seu julgamento e que fez com que muitas mulheres se declarassem encantadas por aquele homem que, de outra forma, seria tediosamente normal.
Ted não era lindo, não era especialmente charmoso, nem tinha uma inteligência fascinante. Sua normalidade talvez seja exatamente uma das coisas mais assustadoras sobre o assassino.
Ainda assim, o novo filme carece de mais ritmo e profundidade – ou assim me pareceu porque eu sou uma das que devorou praticamente tudo sobre o assassino – e acaba servindo mais a curiosidade dos interessados no tema do que algo realmente novo ou que possa agradar aos fãs dos thrillers psicológicos,
Aleksa Palladino (“O Irlandês”), Robert Patrick (“Pacificador”) e W. Earl Brown (“Hacks”) são outros nomes que participam do elenco. O longa foi escrito por Kit Lesser e produzido por Bill Hagmaier, que após ter importante papel na confirmação dos crimes realizados por Bundy e ter ajudado a que muitas famílias tivessem a conclusão de que precisavam, se tornou um dos principais nomes no FBI, chegando a chefiar a área de profillers da agência americana.
P.S. Aí você assiste o filme e só consegue pensar: cadê temporada nova de Minhunters, Netflix?