Cinema: Licorice Pizza

Carros e ternos brancos, vermelhos, rosas, verdes, azuis. Acho que por isso dizem que os anos 70 eram mais coloridos. Com certeza é por isso que Licorice Pizza tem uma paleta tão variada, afinal estamos falando de um misto das lembranças e sonhos do diretor Paul Thomas Anderson, e o nome nos remete a um doce tão doce, como as lembranças daquela fase em que descobrimos o mundo devem ser.

Cooper Hoffman (filho do inesquecível Philip Seymour Hoffman) é Gary, adolescente cuja carreira de ator infantil está naquele difícil cruzamento porque ele cresceu demais, e não pode mais ser considerado fofinho, e pronto para a sua primeira história de amor. Alana Haim (da ótima banda HAIM) é Alana Kaine. Se Gary está começando sua aventura, ela, aos vinte e cinco anos, não sabe ainda onde quer chegar, só tem certeza de que não quer continuar onde está, de que ela merece ser vista como alguém especial.

O destino os coloca juntos de forma improvável, com Gary se apaixonando a primeira vista e Alana se divertindo com aquele garoto tão diferente e encantada com a forma como ele olha para ela (lembra que ela acreditar ser especial?), e lhes apresenta uma aventura improvável – só possível com a liberdade e a trilha sonora proporcionadas pelos anos 70. Bowie <3

O improvável se apresenta em diferentes momentos: nos colchões de água que Gary resolve vender, no louco ator de filmes de ação pulando sobre o fogo, na filas nos postos de combustível com falta de gasolina, no envolvimento de Alana com cinema ou política. As coisas simplesmente acontecem com o casal e o grupo de amigos que Gary carrega consigo a cada plano infalível que cria.

Sem explicações desnecessárias, o roteiro de Paul Thomas Anderson vai pouco a pouco deixando a realidade e mergulhando na fantasia que seu colorido promete e, com isso, nos desliga do mundo real, do cinza dos altos prédios e dos carros cada vez mais parecidos (seja em formato, seja na paleta prata/preto/branco) de hoje em dia.

Em tempos que a volta ao cinema tem sido difícil para a maioria de nós, Licorice Pizza pode não ser o filme caro e cheio de efeitos especiais que usamos para justificar ter que ser visto em uma tela enorme, mas é o filme certo para nos desligarmos de tudo e só voltarmos à realidade quando os letreiros terminam, a música acaba e as luzes das paredes se acendem.

Licorice Pizza

O que acaba por conectar o estranho casal (amigos? algo mais?) é a confiança de Gary em si próprio, seu otimismo, sua certeza de que vai dar certo. A receita acaba por contagiar Alana e lhe encorajando a fazer suas próprias loucuras.

 

 

Licorice Pizza, nova comédia dramática da Universal Pictures, escrita e dirigida por Paul Thomas Anderson, estreia nos cinemas brasileiros amanhã, 17 de fevereiro. O filme recebeu três indicações ao Oscar: Melhor Filme (Paul Thomas Anderson, Sara Murphy, Adam Somner), Melhor Diretor (Paul Thomas Anderson) e Melhor Roteiro Original (Paul Thomas Anderson).

P.S. Apesar da minha brincadeira com o doce de alcaçuz no começo do texto, o Licorice Pizza que dá nome ao filme vem de uma rede de lojas de discos na Califórnia. 

P.S do P.S. A família de Alana na tela é a família de Alana na vida real. Suas irmãs, companheiras de grupo, e seus pais. Todos estreando no cinema.

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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