Após trabalhar por boa parte da vida na igreja da cidadezinha de interior onde mora, Anke finalmente se aposentou, e com isso espera ter mais da companhia dos filhos. Viúva e independente, passa uns dias com a filha, mas se ressente da falta do filho mais velho, Max, que mora em Hong Kong e não conseguiu viajar para a Alemanha para vê-la. Disposta a aproveitar seu tempo livre, Anke coloca uma mochila nas costas e viaja até a China para encontrar Max, iniciando uma jornada solitária de descobertas pessoais.
Madeira e Água, longa de estreia do diretor Jonas Bak, é o que chamamos de um slow burn: em ritmo lento, vai construindo uma narrativa aparentemente sem grandes acontecimentos, mas que culmina em uma catarse emocional que envolve o espectador. Perdida entre as avenidas barulhentas de Hong Kong, Anke parece ser apenas uma velhinha indefesa com quem nos preocupamos (e até questionamos a sanidade), uma figura simples que não combina com os excessos visuais da cidade grande.
No entanto, Anke é mais safa do que imaginamos. E é aqui que vemos o crescimento da trama, que nos surpreende ao cozinhar em fogo baixo a amplitude da personalidade daquela senhorinha fofa a quem a gente se apega já nos primeiros minutos de filme.
Sozinha, já que se desencontra de Max, que está fora em uma viagem à trabalho, Anke aos poucos vai construindo sua existência naquele lugar tão diferente. Solidão é a grande palavra aqui, sim, mas também esperança, um bom tanto dela, em um filme delicado e silencioso, onde o estranhamento de Anke é também o nosso. Assim como a sua esperança se torna nossa também.
Madeira e Água integra a 45ª Mostra SP de Cinema e concorre na categoria Novos Diretores. Este ano, a Mostra SP terá formato híbrido, onde diretores e produtoras escolheram entre veicular seus filmes on-line ou nas sessões presenciais do evento. Para saber mais, acesse o site.