Não podemos negar que a pandemia desafiou cineastas, diretores e atores a serem criativos para continuarem produzindo. Higiene Social, filme canadense que deu a Denis Côté o prêmio de melhor direção na seção Encontros do Festival de Berlim, é um bom exemplo de como a necessidade pode ser a mãe da invenção: sem efeitos especiais, sem cenários fechados e mantendo a distância de 1,5 metro entre seus personagens, o longa se pauta unicamente em seus diálogos, bastante inteligentes.
Ainda que Denis Côté afirme que seu roteiro foi escrito anos antes da produção, é impossível não manter a sensação de que esta é uma obra de seu tempo. Talvez em outra vida ele tivesse sido feito em um diferente cenário, com mais recursos, e provavelmente o resultado não teria sido o mesmo. Mas essas são apenas especulações.
No centro da história temos Antonin (Maxim Gaudette), um daqueles homens que literalmente leva a vida, ladrão e poeta, fugindo de responsabilidades e problemas. E que usa sua habilidade com as palavras para tentar escapar quando cinco mulheres de sua vida resolvem confrontá-lo.
Se em alguns momentos as roupas ou palavras usadas pelos personagens nos indicam que o filme se passa em algo como a idade média, os diálogos tratam de problemas comuns em qualquer tempo. E um ou outro personagem usa roupas que poderiam ser usadas hoje, mais uma demonstração de atemporalidade.
A falta de movimento e a fala um tanto declamada pode desafiar o espectador a manter a atenção, principalmente nos diálogos menos empolgantes. O ritmo pode servir para forçar alguma reflexão: o quanto realmente falamos quando confrontamos alguém? E quando o fazemos estamos realmente dispostos a ouvir ou apenas precisamos desesperadamente falar o que queremos?
E, mais: quanto realmente somos protagonistas de uma história? Antonin pode estar presente em todas as cenas e em teoria tudo gira em torno dele, mas ele pode ser apenas um detalhe na história das mulheres aqui apresentadas.
Higiene Social faz parte da seção Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. que acontece entre os dias 21 de outubro e 03 de novembro em formato híbrido. Nem todos os títulos a serem apresentados nos cinemas serão exibidos nas plataformas digitais e a decisão de exibir ou não no on-line coube única e exclusivamente ao produtor e ao distribuidor de cada filme. Assim, alguns títulos serão exibidos apenas nos cinemas. Para mais informações acesse o site.