A.P. e D.P.

Ontem sai de casa depois de 1 ano e 4 meses para dar um tchau “de cotovelos” a uma de minhas mais queridas amigas que está deixando S.P. Primeira pessoa fora do apertadíssimo círculo familiar que vi nesse tempo todo, ela também foi a última que eu vi antes de me trancar em casa por seis meses e depois disso só sair para a minha corrida solitária pelas ruas vazias do bairro.

Naquele dia A.P. (antes da pandemia), tomamos um café na Starbucks do shopping Paulista falando do exagero que era esse medo do vírus novo, apertadas entre mesinhas bem juntas, em uma livraria lotada em noite de evento de lançamento, e fomos ao cinema ver um filme francês. Depois voltamos andando pela Paulista, rindo alto, até o metrô.

Ontem sai de casa para a Paulista de táxi (menos exposição), nos encontramos na calçada, sem abraços, pegamos um café para viagem em outra Starbucks e depois ficamos horas conversando no escritório dela mantendo distância “regulamentar”. Pulamos de um assunto para o outro como sempre fizemos.

Vim para casa em um metrô já vazio, praticamente sozinha no vagão. Li seis mensagens no Whatsapp e fiquei muito enjoada – no período A.P. eu lia livros inteiros em pé, mal me segurando, em ônibus saltitante, vejam vocês. Tomei um banho e me deitei. Minha cabeça parecia ter mil vidas dentro dela.

Demorei horrores para pegar no sono, me sentindo esgotada e com os barulhos da avenida e do metrô ecoando em mim. Uma avenida para a qual fui durante anos, todos os dias, com muito mais gente.

Hoje acordei morta e fiquei pensando no preço que será retomar a vida “normal” para pessoas como eu, que já eram introvertidas antes.

Se é que vamos conseguir esse novo normal ou simplesmente vamos viver essa vida mais isolada mesmo quando – um dia – vivermos a era D.P. (Depois da Pandemia).

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

5 Comentários


  1. É desse jeito mesmo. A pandemia veio para ensinar o ser humano a olhar para dentro de si, uma análise profunda de quem somos. Infelizmente poucos vão aprender com essa experiência e, como nos acostumamos facilmente a tudo, a maioria deve voltar ao que era antes. Na torcida para que possamos evoluir.

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    1. De, eu sinceramente não acredito em “a pandemia veio para ensinar ao ser humano”. Ela veio porque é consequência de explorarmos cada vez mais o que não devíamos, por nos apossarmos demais do planeta, porque é da evolução.

      Não acho que a maioria mude em absolutamente nada, para os demais, acredito que repensaram o que realmente precisam, que tenham feito algumas escolhas diferentes.

      Agora, sobre o psicológico de quem realmente se isolou, não tenho dúvidas de que ela tenha tido um efeito imenso.

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  2. Em primeiro lugar, inveja por você poder se despedir dela e eu não. Quase deu dor de barriga, viu.
    E eu super te entendo, porque toda vez que preciso sair de casa, seja para ir simplesmente ao mercado ou buscar meu colírio na farmácia eu chego em casa morta, parecendo que corri uma maratona. Acho que não é nem pelo andar e carregar sacolas em si, mas sim o estresse psicológico que chega pelo fato de ter que andar prestando atenção em tudo e em todos. A máscara está bem vedada? Passei a mão nos olhos sem higienizar antes? Eu fico meio paranoica com essas coisas.
    Vai ser difícil viver como antes.

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    1. Eu estou assim também, A.P. eu não parava em casa em final de semana, churrasco, barzinho, festas, agora nem consigo me imaginar em um local cheio de gente. Como você diz, quem já era introvertida e tinha lutado muito para não ser,sair de novo do jeito normal vai ser bem difícil.

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  3. Acho que vou ficar ainda mais isolada que antes… não sei o que pensar sobre isso ainda. De todo modo, fiquei feliz demais por poder me despedir de você. <3

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