Opinião: Colônia

Nesta sexta, dia 25 de junho, chega ao Canal Brasil e aos serviços de streaming da Globo (Globoplay e Canais Globo) Colônia, produzida por Sombumbo e Tc Filmes, em coprodução com a Gullane, a série é estrelada por Fernanda Marques, no papel da jovem Elisa, e joga luz sobre a história do Hospital Colônia na cidade de Barbacena, Minas Gerais.

Criada e dirigida por André Ristum, que também assina o roteiro com Marco Dutra e Rita Gloria Curvo, sua trama é livremente inspirada no livro Holocausto Brasileiro, de Daniela Arbex, e na história real das pessoas que passaram pelo Hospício Colônia, ao longo de seus quase 100 anos de existência.

Em instalações em que perderam a vida mais de 60 mil pessoas, muitos acabaram presos por se colocarem contra o que a sociedade considerava aceitável: prostitutas, mulheres que engravidaram antes do casamento ou traíram seus maridos, mulheres que questionavam o que se esperava delas, adversários dos políticos no poder, mendigos, homossexuais, alcoólatras ou pessoas consideradas difíceis. Apenas um atestado, algumas vezes nem assinado por um médico, era suficiente para garantir a internação – na maioria das vezes sem volta.

O nome do livro de Daniela Arbex encontra sentido ainda nos primeiros minutos da série: os “pacientes” eram jogados dentro de um vagão de trem de forma muito parecida com o que acontecia com os judeus levados aos campos de concentração alemães, muitas vezes sem saberem para onde estavam indo ou mesmo porque.

O antigo Hospital Colônia, parte de um complexo de sete instituições que fizeram com que a cidade de Barbacena recebesse o nome de Cidade dos Loucos, hoje abriga o Museu da Loucura, enquanto os sobreviventes do antigo instituto foram transferidos e passaram a receber indenização do Estado.

Por este motivo, Colônia foi filmada em locações em Campinas e São Paulo, onde tentou-se retratar da melhor forma como funcionava o antigo hospital.

E foi filmada integralmente em preto e branco. O que pode incomodar no primeiro contato com a série, mas você simplesmente não consegue imaginar que ela fosse feita de outra forma à medida que os episódios avançam e você se vê envolvido por uma história dramática com toques de terror.

Elisa (Fernanda Marques), tem apenas 20 anos quando chega ao Hospício Colônia. Os anos setenta estão começando e a menina está grávida de 4 meses, tendo sido enviada para lá por seu pai, que pretendia casá-la com um homem rico. Com a inocência de uma menina de interior, ela acredita que tudo tenha sido um erro e passa seus dias agarrada à esperança de que seja resgatada enquanto se depara com as mais diversas loucuras.

E eu não falo da loucura dos pacientes, que existe em certa medida, mas a loucura de saber que Gilberto (Arlindo Lopes) foi mandado para lá por sua mãe porque o pastor disse que lá ele será “curado” e deixará de ser homossexual; saber que a linda Valeska (Andréia Horta) foi colocada lá por seu amante, um político que escolheu silencia-la para calar a ameaça de que ela contasse sobre o envolvimento dos dois para sua esposa ou para a imprensa, mas que ainda a visita todas as semanas dizendo amá-la.

Algumas histórias são tão antigas que nem os próprios pacientes sabem mais porque estão ali, como o alcoólatra Raimundo (Bukassa Kabengele) e dona Wanda (Rejane Faria), todos para lá enviados por serem considerados incômodos para a sociedade.

Pouco a pouco, a primeira temporada conta com 10 episódios de pouco mais de 20 minutos cada, vamos conhecendo mais desses personagens e, assim como Elisa, nos apegando a eles, criando laços de amizade. Elisa tenta sobreviver ao horror que tomou sua vida, e sua esperança diminui pouco a pouco.

Com direção firme, ótimas atuações (todos do elenco estão perfeitos) e ambientação que nos remete ao passado, a série mostra como as produções brasileiras do gênero não devem nada às produções internacionais. E o final deixa aquela vontade por mais que todo fã de série adora sentir.

A série ainda com as participações especiais de Stephanie de Jongh, Rafaela Mandelli, Christian Malheiros, Eduardo Moscovis, Marat Descartes e Nicola Siri, entre tantos outros.

A série Colônia, que estreia neste  25 de junho, é um esforço ficcional inspirado pelos fatos reais. Os episódios buscam retratar a realidade de diversas personagens que representam os grupos sociais vítimas desta violência. Os registros históricos, ainda que lacunares, serviram como base para a criação da série. Trata-se de uma adaptação que busca um olhar crítico em relação à sociedade patriarcal e conservadora do país, que tinha como hábito livrar-se dos indesejados jogando-os nestes depósitos humanos. Através de Elisa, filha de fazendeiro, uma “estranha no ninho” enviada para internação pelo próprio pai, o público é convidado a conhecer alguns dos dramas humanos que se desenrolaram no Colônia, e também a projetar futuros possíveis – futuros pelos quais devemos lutar.

André Ristum afirma: “Quando eu imaginava a série, eu não conseguia enxergar de outra forma que não em preto e branco. A vida dessas pessoas era tão sem cor, sem brilho, que, para mim, não fazia sentido rodá-la colorida”.

Escrito por Simone Miletic

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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