Cinema: Luta Por Justiça

Ainda nos primeiros minutos de Luta Por Justiça temos a citação de Sol Por Testemunha, livro de Harper Lee que conta a história do advogado Atticus Finch segundo os olhos de sua filha mais nova. Na trama, Atticus decide defender um rapaz negro acusado do assassinato de uma garota branca. Brilhantemente escrito, ele se tornou um retrato sensível do racismo nos estados sulistas dos Estados Unidos.

No longa, que chega aos cinemas neste dia 20 de fevereiro, a citação surge porque a pequena cidade onde sua história acontece é o lar de Harper Lee, mas, na verdade, ela poderia ser citada por muitos outros motivos: o idealismo de seu personagem principal, a sensibilidade com que aborda a desigualdade social, a forma como nos lembra que a escravidão acabou ainda ontem, o drama vivido em silêncio (ou que, quando faz barulho, é ignorado como se não fosse ouvido).

Adaptado do livro de memórias de Bryan Stevenson, o drama dirigido por Destin Daniel Cretton conta a história de Walter McMillian (aqui um quase irreconhecível Jamie Foxx), condenado pelo assassinato de uma jovem branca tendo contra si apenas o depoimento de um criminoso condenado e com centenas de provas de que nunca esteve no local onde o crime aconteceu.

O ano é 1987 e o advogado Stevenson (Michael B. Jordan), recém-saído de Harvard, aceita o desafio de abrir um escritório no Alabama para atendimento gratuito aos condenados à pena de morte.

Determinado a mudar o mundo, Stevenson agarra o caso de McMillian (e de alguns outros) com coração e alma e enfrenta o poder público e a opinião dos moradores brancos da cidade.

“O oposto de pobreza não é riqueza. O oposto de pobreza é justiça.”

A frase proferida por Stenvenson já no terço final do filme é o que melhor exemplifica suas lições, enquanto vários personagens brancos fazem questão de dizer que o racismo e o preconceito não influenciaram suas decisões e atos.

McMillian pode ser o coração deste filme, mas o diretor (e o roteiro) em vários momentos se distância dele e nos permite ver o racismo e a corrupção em toda a paisagem – como quando o jovem advogado sai com seu carro primeiro pela vizinhança de casas bonitas e jardins bem cuidados em direção a comunidade em que o condenado cresceu e formou sua família.

Após assistir ao filme é impossível não se ressentir da ausência dos nomes de Foxx e Jordan na lista de indicados aos Oscars deste ano, ainda que a lista existente tenha ótimos nomes – talvez eles apenas tiveram o azar de exibir tão boas atuações em um ano cheio destas, talvez seja esta ausência uma amostra de que a invisibilidade de que o filme fala ainda existe, tantos anos depois.

A verdade é que a ausência de Luta Por Justiça em qualquer categoria acaba carregando um gosto amargo porque nos remete a vitória de Green Book no ano passado e é impossível não pensar que um filme em que a responsabilidade branca foi atenuada foi premiado e este, tão claro e tão importante, foi ignorado.

Além dos dois atores, vale destacar o menor, mas marcante, papel de Brie Larson como Eva Ansley, psicóloga parceira de Stevenson que colocou em perigo a própria família para trabalhar com o que acreditava – é interessante vê-la em um papel tão contido depois de Capitã Marvel.

O longa ainda conta com ótimas interpretações de O’Shea Jackson Junior e Rob Morgan como colegas de corredor da morte de McMillian no corredor da morte – em papéis que demonstram que culpa ou inocência nem sempre é a questão principal quando falamos da pena de morte. O que nos remete ao excelente Os Últimos Passos de Um Homem, de 1995.

Dica: mesmo que você consiga sair correndo ao final do filme – eu não consegui -, existem importantes histórias a serem contadas ao longo dos créditos. Não tenha pressa.

Tim Black Nelson, recentemente visto em Watchmen, aqui interpreta o homem que testemunhou contra McMillian e acrescenta ainda mais dramaticidade ao filme – nos lembrando que muitas vezes a injustiça não tem cor.

Michael B. Jordan (“Pantera Negra”, “Creed: Nascido Para Lutar”, “Creed II”) e os vencedores do Oscar Jamie Foxx (“Em Ritmo de Fuga”, “Django Livre”) e Brie Larson (“O Quarto de Jack”, “O Castelo de Vidro”, “Capitã Marvel”) estrelam Luta Por Justiça, um drama inspirador que traz às telas uma das histórias mais importantes de nosso tempo.

Cretton coescreveu o roteiro com Andrew Lanham (“O Castelo de Vidro”), com base no livro de Stevenson Just Mercy: A Story of Justice and Redemption. Publicado em 2014 pela Spiegel & Grau, o livro figura entre os mais vendidos do The New York Times há mais de 150 semanas e foi eleito um dos melhores do ano por várias publicações importantes, incluindo a revista TIME. Pelo livro, Stevenson também ganhou uma Medalha de Excelência Andrew Carnegie, um NAACP Image Award e o Dayton Literary Peace Prize na categoria de não ficção.

A equipe de Cretton nos bastidores inclui o diretor de fotografia Brett Pawlak, a desenhista de produção Sharon Seymour, o editor Nat Sanders e o compositor P. West, que colaboraram com o diretor anteriormente em “O Castelo de Vidro”. Soma-se a eles a figurinista Francine Jamison-Tanchuck (“Detroit em Rebelião”, “Roman J. Israel”)

A Warner Bros. Pictures apresenta, em associação com a Endeavor Content/One Community/Participant Media/Macro, Luta Por Justiça, uma produção de Gil Netter e da Outlier Society. Com lançamento no Brasil marcado para 20 de fevereiro de 2020, Luta Por Justiça será distribuído mundialmente pela Warner Bros. Pictures.

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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