Cinema: O Preço da Verdade – Dark Waters

No jornal de ontem a manchete dizia “empresa volta a produzir telhas de amianto no Brasil apesar de proibição do STF”, mas não vi ninguém falando disso, ainda que não faça muito tempo que tenhamos olhado de frente para as consequências do que a ganância de uma empresa é capaz de causar ao testemunharmos a tragédia de Brumadinho (mais uma, na verdade).

É neste cenário que O Preço Da Verdade – Dark Waters, longa dirigido por Todd Haynes e estrelado por Mark Ruffalo (também produtor), chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 13 de fevereiro.

Inspirado em uma história verdadeira retratada em um artigo publicado em 2016 no jornal The New York Times, “O advogado que se tornou o maior pesadelo da Dupont”, o longa conta a batalha do advogado Rob Bilott (Ruffalo) para responsabilizar a DuPont pela contaminação da água de uma cidade na Virgínia Ocidental, o que afetou toda a população.

Bilott em verdade acabava de se tornar sócio de uma conceituada empresa de advogados conhecida por defender empresas químicas quando foi abordado por dois fazendeiros da pequena cidade onde ele havia passados as férias de verão de sua infância, conhecidos de sua avó.

Resistente a princípio, ele resolve ir até a cidade para não os deixar sem resposta e acaba sendo confrontado por uma realidade de morte e desespero. Animais mortos, pessoas doentes, crianças com dentes escurecidos.

Autorizado por seu chefe, interpretado pelo sempre ótimo Tim Robbins, Bilott acaba por juntar provas sobre o caso a partir dos documentos da própria empresa e, o que era um caso simples, acaba se tornando a missão de sua vida.

O roteiro, de Matthew Carnahan e Mario Correa, não economiza detalhes sobre a forma intencional que executivos ignoraram os efeitos do que estavam causando a funcionários e moradores da cidade – cujos efeitos ainda hoje são sentidos.

Ainda que o filme apresente alguns defeitos comuns aos filmes procedurais como a diferença de profundidade com que trata este ou aquele caso, esta ou aquela vítima, é inegável quão eficiente ele ao apresentar sua história e é impossível não deixar a sala de cinema compelido por um imenso sentimento de revolta.

Mesmo que o inimigo central de sua história seja apenas uma empresa, é fácil replicá-la para tantas outras que conhecemos; é fácil perceber que, ainda que cada uma delas perca alguns milhões cada vez que alguém consegue leva-las para o tribunal, conviveremos com efeitos de escolhas erradas, gananciosas, por muito e muito tempo ainda.

Os tais milhões perdidos, afinal, pouco representam dos bilhões que elas ganham até serem pegas por seus erros.

O Preço da Verdade – Dark Waters completa o trio de filmes denúncia de 2019 que se destacaram nos festivais intependentes – na companhia de O Relatório e Segredos Oficiais (os dois com resenha aqui no blog e hoje disponíveis no Amazon Prime).

E eu ficaria muito feliz de vê-lo causando o impacto que merece na audiência e, quem sabe, mudando o mundo pelo menos um pouquinho.

P.S. Nunca mais usarei uma panela de Teflon na vida e sugiro que você faça o mesmo.

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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