Quando O Escândalo começa – longa dramático que Paris Filmes leva aos cinemas a partir desta quinta – Megyn Kelly (vivida brilhantemente por uma Charlize Theron irreconhecível) fala conosco. Ela nos apresenta aos estúdios da Fox News e, principalmente no fala sobre Roger Allie (John Lithgown, magistral), todo poderoso do canal, e a forma como ela fala conosco nos faz querer mais.
É desta forma que o roteiro de Carlos Randolph (do excelente A Grande Aposta, disponível na Netflix) nos envolve na narrativa das denúncias de assédio que o maioral da FOX News foi alvo anos antes de qualquer uma de nós falar em #metoo.
Nos envolve com sucesso e, principalmente, nos faz torcer pelas três protagonistas – além de Charlize temos Nicole Kidman como Gretchen Carlson e Margot Robbie como a fictícia Kaayla Pospisil, todas excelentes – a despeito da dificuldade de torcer por mulheres loiras e lindas que vestem a camisa de uma emissora que despreza mulheres.
Ainda que o filme algumas vezes soe superficial, ele consegue apresentar o contraponto entre a ambição que moveu essas mulheres ao sucesso e a cultura que as fez muitas vezes ignorar humilhações enganando a si próprias sobre o real significado do que aceitavam ou lhes convencia que não tinham poder algum.
A pergunta como mulheres tão inteligentes e capazes ficaram quietas por tanto tempo com certeza passa por mais de uma cabeça na platéia enquanto, como no meu caso, para outros é impossível não sentir um embrulho no estômago e desviar o olhar em certas cenas. Não é fácil de identificar com algumas destas histórias.
Essa dicotomia está ali em vários momentos, seja quando vem o Meggy ser perseguida por eleitores de Trump após uma entrevista, e a palavra feminista sendo usada como xingamento e rejeitada pela própria protagonista, seja quando Jess Carr (Kate McKinnon) fala com naturalidade para Kayla que, após tantos anos na FOX News, ela é uma gay que não consegue emprego em nenhum outro lugar simplesmente por ter passado tantos anos trabalhando ali.
A dupla Kayla e Jess, é bom dizer, tem algumas das minhas cenas favoritas. Kayla, a novata, é a forma do roteiro demonstrar o conflito interno que uma garota criada em uma família tradicional que só assiste FOX News vive em uma situação extrema como essa. E Margot arrasa ao demonstrar isso de forma tão apaixonada.
Eu achei apenas uma cena “ruim”, ou no mínimo desnecessária, e fiquei pensando que uma diretora eou roteirista mulher não deixaria assar, mas nem mesmo essa cena consegue diminuir o impacto do que vemos na tela e nos faz pensar o quanto evoluímos por simplesmente falar disso hoje. Ainda que as “consequências” aos envolvidos não tenha sido nem perto das necessárias.
O Escândalo consegue não somente nos entregar uma história empolgante, com forte mensagem feminista, mas comprova que Charlize Theron é uma das melhores atrizes nos últimos anos. Um filme para ser visto e revisto.
Além do trio principal, o filme ainda conta em seu elenco com nomes como Mark Dunplass, Rob Delaney, Connie Britton, Allison Janney e Malcolm McDowell.
P.S. A Paris Filmes lançou, em parceria com a marca TSF, camisetas especiais por conta do lançamento do filme. Com frases feministas, elas são uma forma excelente de nos posicionarmos e sensibilizar os outros. Elas podem ser adquiridas na loja em São Paulo ou através desse link aqui.
P.S. do P.S. Mark Dunplass, que aqui interpreta o marido de Megyn, também está na produção The Morning Show, da Apple TV. Lá, como aqui, o assédio de poderosos no mundo da televisão também é abordado, mas o centro da história é o depois e os efeitos de um escândalo como esse para o assediador e para as pessoas que conviviam com ele de forma intima, muitas vezes preferindo não ver o que acontecia ou cegos porque “aquela era a cultura vigente”. Jennifer Aniston interpreta a colega de balcão do jornalista denunciado (vivido pelo ótimo Steve Carrell) e dádá um show na tela.
P.S. do P.S. do P.S. Megyn Kelly publicou em seu canal no YouTube um vídeo em que ela e três das vítimas de Roger Allie e Bill O’Reilly (também denunciado na mesma época) assistem a filme em uma sessão privada e depois discutem sobre o caso e os efeitos do filme sobre elas. Vale muito ver. Disponível aqui com legendas em inglês.
