Cinema: O Relatório

Em um dos capítulos de do livro Columbine, de Dave Cullen, o autor cita que, para um retrato mais próximo da realidade de uma tragédia é preciso esperar alguns anos. Relatos muito próximos dos acontecimentos tendem a deixar de lado detalhes capazes de mudar a narrativa original.

Será então que temos hoje um melhor retrato dos acontecimentos que marcaram o dia 11 de setembro de 2001? E seriam os possíveis heróis anônimos, aqueles que não buscam a glória pessoal, os melhores narradores?

Bom, na semana passada Segredos Oficiais nos contou a história de Katherine Gunn sobre os interesses e manobras que fizeram com que EUA e Inglaterra iniciassem a Guerra do Iraque. Em O Relatório temos a história de Daniel J. Jones (vivido aqui por Adam Driver), assessor da senadora Dianne Feinstein (Annette Bening), líder do Comitê de Inteligência do Senado responsável por investigar as ações da CIA relacionadas aos prisioneiros da guerra em questão.

Como se sabe hoje, a CIA possuía informações, antes dos atentados de 11 de setembro que, caso tivessem sido investigadas, poderiam ter evitado o que aconteceu. A investigação realizada por Jones, por mais de cinco anos, demonstraria que as ações da agência posteriores aos atentados também foram bastante questionáveis.

Só não menos questionáveis que a cortina de fumaça que tentaram colocar sobre o que realmente aconteceu.

E o maior mérito de O Relatório, depois da atuação de Driver (será que ele rouba o Oscar de Joaquin Phoenix ou acabará fora do páreo por conta da divisão de votos entre este filme e ?), é não esconder o quão sacrificado foi o trabalho do assessor e o quanto as forças políticas de esquerda e direita quase colocaram a perder todo o seu trabalho.

O roteiro é tão inteligente que consegue nos empolgar, elevando nossa adrenalina, mesmo sem apresentar qualquer cena de ação. Do outro lado, a simples descrição dos atos praticados contra prisioneiros sob o nome de “interrogatório melhorado“ é o bastante para causar enjoos – não preciso nem falar das cenas que demonstram o que foi feito.

E o roteiro mais a atuação de Driver garante que, por menos que saibamos de sua vida pessoal, de sua família, de seu passado, possamos acompanhar o seu desenvolvimento, entender de que forma o contato com tais informações – foram milhares e milhares e milhares de documentos analisados – o afetou e passou a ditar suas reações, de maneira a colocar em risco suas aspirações políticas iniciais.

Os detalhes do roteiro de Scott Z Burns, também responsável pela direção, são muitos e são eles que permitem uma construção tão eficiente de uma história que, de outra maneira, poderia apenas entediar o espectador – uma construção que garante brilho até às menores participações especiais.

E nas menores participações são de nomes como Jon Hamm, Maura Tierney, Corey Stoll e Michael C Hall.

Eu não sei vocês, mas como eu adoro encontrar algo tão inteligente para assistir.

O Relatório, thriller de Scott Z. Burns, foi destaque nos festivais de cinema independente de Sundance e Toronto, chega aos cinemas nacionais nesta quinta-feira, dia 07 de novembro, com distribuição Diamond Films.

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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