Segredos Oficiais é a prova de que dramas de espionagem não precisam se restringir a filmes de ação como Missão Impossível ou 007: trazendo a história real de Katharine Gun (aqui na pela da ótima Keira Knighyley), o longa mostra um pouco do funcionamento do serviço de espionagem da Inglaterra não focando em agentes correndo pelas ruas com dispositivos, mas nos funcionários responsáveis por ouvir e traduzir conversas grampeadas.
O ano é 2003 e o governo americano insiste em uma ação militar contra o Iraque após os atendados de 11 de setembro, pressionando aliados a apoiá-lo na obtenção de uma autorização da ONU para fazê-lo.
E a pressão não veio somente na forma de manobras políticas, mas, como Katherine Gun viria a revelar ao mundo, por usando espionagem para chantagear os membros do Conselho de Segurança a votar com ele.
Katherine era uma das tradutoras do serviço britânico e vaza para a imprensa o e-mail em que seus superiores pedem aos funcionários que obtenham segredos que possam seu usados.
Após a publicação pelo jornal Observer, Katherine acaba se entregando a polícia, confessando o que fez, encarando a partir daí não só o processo de investigação e acusação como também a possibilidade de ver seu marido, que não tem visto permanente, ser deportado.
Uma história pouco conhecida por aqui, o julgamento de Katherine, baseado na violação do Ato de Segredos Oficiais, não impediu que a guerra do Iraque tivesse início – afinal Bush cansou de ter de fingir que se importava com o que a ONU pensava -, mas afetou muito a opinião pública, quase derrubou um primeiro ministro e causou uma necessária reflexão ao papel que os jornais ditos sérios estavam tendo na época.
Boa parte disso por conta de quem Katherine representava: ela não era alguém em busca de fama, não era uma revolucionária, ou mesmo uma pacifista de primeira ordem. Ela era uma profissional extremamente comprometida, uma patriota idealista que acreditava que o povo inglês merecia saber o que realmente estava acontecendo. E é isso que você vê em Knightley.
O filme também retratada de forma apaixonada os acontecimentos no Observer, até aquele momento um jornal pró-guerra. O elenco escolhido provavelmente é uma dos maiores trunfos aqui: Rhys Ifans interpretada o repórter Ed Vulliamy, ferrenho crítico do governo; Conleth Hill interpreta o editor Roger Alton; Matthew Goode é Peter Beaumont, a voz da razão; Hanako Footman interpreta Nicole Mowbray, uma jovem jornalista cujo erro inocente coloca a credibilidade de toda história em cheque e Matt Smith é Martin Bright, jornalista que publicou o artigo original. Matt faz um bom trabalho, ainda que em alguns momentos ele esteja “Doctor Who” demais em cena e isso talvez tire um pouco da seriedade necessária ao momento.
Outro núcleo do filme é composto pelos advogados que defenderam Katherine. Ainda que tenham menos tempo de tela, este ganha importância não somente pelo elenco (Ralph Fiennes, como Ben Emmerson, o advogado principal), mas pelo idealismo que representam e que, no caso em questão, é tudo.
Ainda que hoje o assunto “vazamento de informações” possa ser controverso, dificilmente não enxergamos aqui uma conduta justificada e é impossível não sair um tanto reflexivo após vê-lo na sala de cinema – Katherine Gunn é o tipo de pessoa com quem eu adoraria ter horas e horas de conversa, aquelas que fazem com que o mundo mude.
O que eu aconselho que você faça o quanto antes: Segredos Oficiais estreia oficialmente nos cinemas brasileiros nesta quinta, dia 31 de outubro, mas já contou com exibições na Mostra Internacional de São Paulo.
Segredos Oficiais foi destaque da última edição do festival de Sundance, o filme estreia no Brasil em 31 de outubro, com distribuição da Diamond Films. O longa também está sendo exibido na 43ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.