Brittany (Jillian Bell) escuta de seu médico que precisa perder peso e ser mais saudável. Algo que pode parecer fácil para a maioria, mas não para uma garota que sempre esteve acima do peso, acorda todos os dias na hora do almoço e passa praticamente todas noites em baladas regadas a bebidas e comprimidos.
Na verdade, ela só foi ao médico porque queria uma receita para os tais comprimidos.
Confrontada pela dura realidade de que pode não chegar aos trinta e sem grana para uma academia ela resolve fazer o que qualquer um faria: colocar o tênis, moletom e camiseta disponíveis no guarda-roupas e sair correndo na rua, o que é de graça.
E quando eu falo qualquer um é por uma razão simples: foi o que eu fiz há três anos, quando meu médico não me disse que eu estava à beira da morte, mas soltou um “já passou da hora de você começar alguma atividade física, não? ”.
Talvez essa seja uma das maiores qualidades de A Maratona De Brittany: o escritor e diretor Paul Colaizzo consegue tornar sua personagem principal e as situações que ela passa próximas de quem assiste. Se você não se reconhecer ali com certeza reconhecerá alguém próximo.
Isso não é à toa: o filme foi baseado na história da melhor amiga de Colaizzo, que um dia resolveu sair correndo pela quadra e acabou correndo a maratona de Nova Iorque.
Durante o filme, que tem pouco mais de uma hora e meia de duração, acompanhamos a luta física e psicológica de Brittany para sair do sedentarismo e chegar a uma das mais disputadas maratonas do mundo.
E quando falo de luta, acho que a psicológica é a mais difícil (e é a que pode se tornar um tanto incômoda ao longo do filme): Brittany passou sua vida sendo a gorda divertida da turma. Aquela que nunca tem um namorado sério, mas sempre serve de quebra galho aos rapazes na falta de uma garota com quem eles queira realmente se relacionar.
E nenhum julgamento é mais cruel que o próprio: Brittany faz grandes amigos, Seth (Micah Stock) e Catherine (Michaela Watkins), em sua jornada, mas mesmo com eles não é capaz de baixar o muro, tentando bancar a forte enquanto acredita que todos a olham com pena.
Também em sua vida amorosa Brittany encontra dificuldades em se encaixar: ainda que perceba ser olhada de outra forma, ainda acredita que ninguém tem interesse de verdade em um relacionamento com ela, mesmo quando a afeição é escancarada como acontece com Jern (Utkarsh Ambudkar), rapaz também sem grandes objetivos na vida com quem acaba dividindo a casa.
A escolha de Collaizo em focar nas barreiras emocionais da personagem é outro acerto: a preparação para uma maratona está longe de ser algo rápido ou cheio de reviravoltas – ainda que o filme nos reserve algumas – e o desafio fica bastante claro nesta abordagem.
Mas o maior mérito de A Maratona de Brittany reside, sem sombra de dúvida, no conjunto: Bell entrega uma personagem completa por quem torcemos imensamente; o roteiro nos faz rir e chorar de uma cena para a outra de forma natural e sincera; e, se é do tipo “fell good”, o filme não tem medo de mostrar que se trata mais de dois passos para frente e um para trás do que uma caminhada sempre em frente.
Paul Collaizo escreveu o roteiro inspirado na história de sua amiga Brittany O’Neill, que decide correr uma maratona quando tem uma crise existencial aos 27 anos de idade, cansada das noitadas de bebida e da falta de perspectiva no futuro.
Após conseguir um lugar na maratona de Nova Iorque de 2012, Brittany se vê com uma contusão que a impediria de correr. Porém a maratona acaba sendo cancelada por conta do furacão Sandy e ela ganha uma nova chance em 2014, o que lhe dá tempo se recuperar.
Brittany conta que terminar a maratona foi o dia mais feliz da sua vida (mesmo que ela tenha se casado um mês antes da prova). E ela pode não ter repetido o feito, mas sempre está lá torcendo por estranhos e chorando como uma tola. E ela continua correndo.
Mais ou menos como nós ficamos ao final do filme. Muito recomendado, mesmo que você nunca tenha colocado um tênis de corrida em sua vida.
A Maratona de Brittany estreia nos cinemas brasileiros em 24 de outubro e também está em exibição na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que começou no último dia 17.