Meninas, Ari Aster fez de novo. E fez ainda melhor.
Para quem acompanhou a estreia do roteirista norte-americano como diretor em Hereditário, a sensação de vivenciar o horror em uma atmosfera artística e até poética ainda deve estar bem fresca na memória. Recebido com elogios e surpreendendo a crítica, o filme serviu para colocar Aster no mapa dos novos talentos do gênero de terror.
E se ali a gente achava que já tinha ido longe no quesito de se apavorar com uma história densa em simbolismos e belezas sombrias, Midsommar chega como a nova obra do diretor capaz de levar esse medo a outro patamar, nos mostrando que sempre é possível ver as relações humanas por um olhar inesperadamente perturbador.
Isso porque Midsommar, assim como seu percursor Hereditário, fala antes de tudo de questões familiares e de afeto. No entanto, vale dizer que um não é continuação do outro: são diferentes exercícios de Ari Aster para mostrar a sua visão do terror – e como ele pode estar presente até nas coisas mais belas.
Em Midsommar, conhecemos Dani (Florence Pugh) e Christian (Jack Reynor), namorados cujo relacionamento está em crise constante. Após uma tragédia familiar brutal envolvendo Dani, o casal é convidado a se juntar a outros três amigos em uma viagem para um festival de verão único em uma remota vila sueca. Em uma escalada rápida, o que parecia ser apenas uma temporada divertida de férias acaba tomando um rumo sinistro, a medida que o grupo vai se aprofundando nos rituais celebrados pela comunidade daquele vilarejo.
Em cenas ensolaradas de natureza idílica, sorriso bondosos e uma promessa aberta de paz, o que temos é um conto de fadas macabro, onde cada cena bonita esconde uma escuridão submersa em pavor prestes a tomar seu lugar. Como em uma dança, cada integrante do grupo de amigos vai descobrindo segredos doentios sobre o festival e sobre si mesmo, o que vai subindo de tom em um crescendo que nos coloca no centro do medo a cada novo confronto. Com cenas absurdamente gráficas de violência envelopadas na enganadora atmosfera onírica da paisagem sueca, vemos nosso coração se apertar de medo e pavor ao mesmo tempo que tudo na tela é bonito, limpo, amoroso e bom. É essa ambiguidade de Midsommar que mais perturba: tudo ali é lindo, tudo ali é devastador.
O simbolismo de cada elemento presente nos rituais é um presente a mais para quem vai ao cinema: estar atento aos detalhes, sentir o estômago revirar a cada um deles e esperar pelo pior se surpreendendo a cada vez que o limite é ultrapassado. Em Midsommar, Ari Auster prova que veio para ficar e que seu jeito de contar uma história de terror é infinitamente mais perturbador do que dar sustos na escuridão: Aster faz tudo às claras, diante dos seus olhos.
MIDSOMMAR – O MAL NÃO ESPERA A NOITE
EUA | 2019 | 147 minutos | Terror
Título original: Midsommar
Direção: Ari Aster
Elenco: Florence Pugh, Jack Reynor, Will Poulter, Willian Jackson Harper
Roteiro: Ari Aster
Distribuição nacional: Paris Filmes
Produção: A24
Com distribuição nacional da Paris Filmes, Midsommar: O Mal Não Espera a Noite estreia nos cinemas brasileiros no dia 19 de setembro. Antes disso, nos dias 13 e 14, pré-estreias pagas devem acontecer nos principais cinemas do país.