Cinema: Simonal

Em uma indústria que funciona em ciclos, o gênero da vez para a temporada 2018/2019 parece ser a biografia musical, como você já deve ter percebido. Depois de ajudar a lotar as salas de cinema conferindo longas que homenagearam Queen e Elton John, por exemplo, surge agora a oportunidade do público honrar da mesma forma seus ídolos nacionais. Tendo esse cenário como contexto, Simonal, obra cinematográfica de viés documental, chega aos cinemas nessa quinta (08).

Grande (e polêmico) nome da música brasileira, a obra de Wilson Simonal já foi revista em musicais, séries de TV (nem sempre tendo o devido protagonismo) e também em documentários (aliás, o documentário brasileiro de maior público até hoje: Simonal: Ninguém Sabe o Duro que Dei, de 2009). Agora é a vez de contar essa história em filme, com a dramaticidade que ela merece.

Em uma obra que mescla imagens e vídeos de arquivo com produção original, Simonal, o filme, conta a história de Simonal, o cantor que saiu da pobreza e comandou as maiores platéias do Brasil. Dotado de um recurso vocal assombroso e domínio de palco excepcional, Simonal conseguiu transformar suas inseguranças da infância em grandes conquistas na idade adulta.

Uma vez no topo, passa a se sentir invencível: exibe a sua riqueza e gosto por carrões e mulheres; faz propaganda de multinacionais; e se recusa a defender um discurso engajado contra a ditadura. Até que resolve ameaçar seu contador quando se vê com problemas financeiros, graças a seus gastos descontrolados, e acaba vendo seu nome envolvido com o Dops. Começa então a derrocada de uma das maiores vozes que o Brasil já ouviu.

Com elenco estrelado, vale notar a bela atuação do Leandro Hassum, que convence no papel de Carlos Imperial, apesar de ser uma versão mais fit, diria-se, do notório produtor. Mas o filme destaca-se mesmo atuação gigante de Fabrício Boliveira, que já tinha mostrado a que veio em Faroeste Caboclo (2013). As escolhas para a apresentação desse potencial todo, no entanto, podem trazer algum gosto agridoce: o filme opta por trazer as performances musicais dubladas, além de usar vídeos antigos de Simonal para determinados momentos, o que pode confundir um pouco o espectador mais novo, deixando dúbio quem é o Simonal de quem estamos falando ali, de fato.

A parte isso, no que se trata de enredo, o filme cumpre com maestria sua missão, trazendo um bom retrato do ídolo caído que foi Simonal. Sem perder tempo com endeusamentos, focando no aspecto humano do herói, Simonal nos entrega um retrato já quase esquecido da nossa história, mostrando da glória à derrocada todos os passos e os erros que fizeram de Simonal o artista único que ele foi.

E sempre será, não vem que não tem.

Com distribuição nacional da Downton Filmes, Simonal chega aos cinemas brasileiros nessa quinta (08).

SIMONAL
BRASIL | 2019 | 105 minutos | Biografia, Drama, Musical
Título original: Simonal
Direção: Leonardo Domingues
Elenco:  Fabrício Boliveira, Ísis Valverde, Leandro Hassum, Laura Figueiredo, Caco Ciocler
Roteiro: Leonardo Domingues, Victor Atherino
Produção: Renata Paschoal, Carlos Diegues
Distribuição nacional: Downtown Filmes

Escrito por Tati Lopatiuk

Tati Lopatiuk é redatora e escritora em São Paulo. Gosta de romances em seriados, filmes, livros e na vida. Suas séries favoritas são Girls, The Office e Breaking Bad. Pois é.

Seus livros estão na Amazon e seus textos estão no blog.

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