Eu tinha pouco mais de 15 anos quando me apaixonei por Gerard Depardieu, o primeiro de uma nada curta lista de franceses não muito bonitos por quem eu me apaixonaria ao longo da minha vida. Assim como os franceses eu tenho essa tendência a amar os azarões considerados perdedores em outras culturas. Além disso ele falava francês.
Ou eu posso simplesmente ter me apaixonado por Cyrano de Bergerac, o homem feio que coloca o amor acima de todo resto, recita longos poemas e é capaz de se sacrificar pela felicidade da mulher que ama e de seu melhor amigo.
A história de Cyrano foi contada pela primeira vez em 1897, é até hoje a peça francesa mais encenada, tendo recebido várias versões para o cinema – incluindo a de 1990 que me apresentou ao personagem e que eu não tenho ideia de quantas vezes assisti, mas foram suficientes para que eu decorasse boa parte de suas falas.
Cyrano Mon Amour, que chega aos cinemas nesta quinta-feira, dia 27 de junho, depois de estrear no Festival Varilux de Cinema, conta a história da história e, principalmente, a história de Edmond Rostand, que não tinha ainda 30 anos quando a escreveu.
Edmond (o ótimo Thomas Solivérès) amargava o fracasso de sua última peça, um drama em poesia, e sua quase falência quando a amiga Sarah Bernhardt (Clémentine Célarié) lhe disse para procurar o ator Constant Coquelin (Olivier Gourmet) para que os dois fizessem uma nova peça.
Coquelin procura uma comédia heroica, Edmond não tem sequer uma linha escrita, mas isso não o impede de mergulhar na empreitada depois de desenhar em sua mente a história de um homem com um nariz enorme que enfrenta a todos com segurança e galhardia (em nada parecido com ele próprio, tímido e inseguro).
Enquanto os produtores fazem suas exigências e escolhem sua atriz principal, o teatro precisa do conserto de um alçapão, sua equipe não acredita que isso possa dar certo – uma comédia em verso? –, Edmond encontrará uma musa inspiradora na nova paixão de seu melhor amigo, um lindo ator, um tanto bronco.
Entre tropeços e frases do texto da peça, Edmond vai escrevendo e reescrevendo sua história e em nenhum momento nós, sua plateia, ficamos entediados. O ritmo de Cyrano Mon Amour é um de seus maiores trunfos, logo depois de um texto envolvente e um elenco inspirado.
Filmado quase que integralmente na cidade de Praga, na República Checa, a produção ainda conta com um belíssimo trabalho de reconstituição de época nas locações e figurinos – ainda temos a transformação física do ator principal para encarnar Edmond.
O diretor e roteirista Alexis Michalik teve o primeiro desejo de fazer o filme em 1999, após a estreia de Shakespeare Apaixonado nos cinemas. Depois de deixar a ideia de lado por algum tempo, Michalik escreveu uma peça, encenada no Palais Royal Theatre. O sucesso dela garantiu que ele conseguisse o orçamento necessário para o filme.
E o filme Cyrano Mon Amour é delicioso. Divertido, emocionante. Ele conta a sua história e ainda nos permite aproveitar mais uma vez da história de Cyrano. Ele nos faz torcer pelo sucesso do grupo como se nós não soubéssemos que tudo deu certo ao final, o que garante os sustos quando algum novo obstáculo aparece.
E você ri gostosamente – “eles estão rindo” diria Leo.
Cyrano Mon Amour (Edmond)
DIREÇÃO: Alexis Michalik
ELENCO: Thomas Solivérès, Olivier Gourmet, Mathilde Seigner, Tom Leeb, Lucie Boujenah, Alice de Lencquesaing, Clémentine Célarié, Igor Gotesman
PAÍS/ANO DE PRODUÇÃO: França/2018
GÊNERO: Comédia/Drama/História
Data de estreia: 26 de junho de 2019