Em uma realidade em que as vagas disponíveis para os jovens que desejam se tornar médicos é imensamente menor do que os interessados em cursar a faculdade não é difícil comparar a sala de aula com uma arena.
No primeiro ano da faculdade de medicina de Paris milhares de estudantes passam seus dias entre anfiteatros onde assistem aulas disputadas e qualquer mesa onde possam encostar seus livros e computadores e continuar estudando. Ao final dele, em dois dias de prova, seu destino será decidido por sua colocação: apenas os melhores poderão optar por continuar na medicina, os demais escolherão entre odontologia, farmacêutica e obstetrícia (que neste caso se refere única e exclusivamente ao acompanhamento e partos normais).
A chance de tentar novamente é privilégio para poucos e precisa ser aprovada por um comitê da faculdade, o que Antoine (Vicente Lacoste, de Diário de Uma Camareira e Amanda) conseguiu pela segunda vez.
Filho de uma família simples, ele não tem outra chance que não seja a faculdade pública de realizar seu sonho.
Já Benjamin (William Lebghil, de Assim é a vida) segue para a faculdade diretamente do ensino médio para realizar o destino desenhado desde que nasceu: filho de um cirurgião renomado, dois irmãos mais velhos formados em medicina, uma infância de privilégios no lado mais bonito de Paris.
Os dois acabarão lado a lado em seu primeiro dia de aula e isso mudará suas vidas.
Primeiro Ano, drama francês que chega aos cinemas nesta quinta dia 11 de abril, não disfarça às muitas dificuldades enfrentadas por aqueles que resolvem lutar para realizar seu sonho: as aulas lotadas de alunos são caóticas e a velocidade com que os professores explicam as coisas quase impossível de acompanhar. Nos corredores da faculdade, na biblioteca, em suas casas, estudantes lidam com cronogramas malucos que inclui poucos minutos para a comida ou o banho, algumas horas para o sono e nenhum lazer.
Antoine não está disposto a perder essa que é sua última chance e acaba por envolver Benjamim em seus loucos planos para que nada fique sem ser estudado e em sua esperança do futuro brilhante que lhes é reservado.
É nesse ambiente cruel que a amizade dos dois rapazes, que mal falam sobre suas vidas pessoais, se solidifica e é interessante perceber apenas em nuances quem eles são por trás dessa vestimenta de estudantes.
E é com esse material que Thomas Lilti nos prende a uma narrativa que poderia ser cansativa, mas que se revela desafiadora: nos apegamos aos personagens principais e passamos a sofrer tanto quanto eles nos pequenos e grandes fracassos. Sorrimos nas pequenas conquistas, nos decepcionamos com os maus resultados.
Claro que parte desse nosso envolvimento também precisa ser creditado a dupla de atores principais que, apesar de jovens, tem um belo currículo de filmes e séries francesas para apresentar. Enquanto o Antoine de Vincent Lacoste nos convence plenamente de que esse é o único destino possível para ele, William Lebghil consegue demonstrar as frustrações e anseios de Benjamim por algo que nem mesmo o primeiro lugar na seletiva poderia lhe dar.
O filme ilustra muito bem como as chances de sucesso e fracasso de cada estudante dependem não somente de seu próprio esforço, mas de uma gama de fatores muitas vezes além de seu controle: sua estrutura emocional, sua capacidade de absorver conhecimento, sua facilidade em lidar com matérias que pesam mais na prova, tudo que aprenderam antes de entrar naquela imensa sala de aula.
Um filme tocante e envolvente,
Título Original: Première Année
Direção: Thomas Lilti
Roteiro: Thomas Lilti
Elenco: Vincent Lacoste, William Lebghil, Michel Lerousseau
Distribuição: A2 Filmes
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