Não sei se já comentei por aqui (me repito se o fiz), mas preciso exaltar essa fase em que os filmes mais “maduros” ganham espaço nas salas, sejam eles obras independentes, sejam eles apostas acertadas de grandes estúdios como essa da Sony Pictures no longa Gloria Bell, que chega aos cinemas nesta quinta, dia 28 de março.
A chegada de tais filmes, que começou há mais ou menos quatro anos, reflete tanto o quanto o mundo mudou – quando se vive até os 100 anos nada mais adequado do que mostrar que pessoas acima dos 50 continuam tendo vidas ricas, completas, divertidas e emocionantes – como também abrem espaço para atores e atrizes na faixa etária recebam roteiros interessantes ao invés de passarem a ser simplesmente a mãe ou pai do personagem de um filme.
Julianne Moore é Gloria Bell, mulher bem sucedida, com dois filhos adultos, um neto, um bom relacionamento com seu ex-marido, amigos divertidos, que, longe de viver qualquer síndrome do berço vazio, vive uma vida plena e encontra prazer na dança. Melhor: na música.
O roteiro de Sebastián Lelio, que também dirige e produz, é muito feliz em demonstrar o quanto a música é importante para Gloria, destacando em alguns momentos, a silenciando em outros.
Sim, Gloria sente falta de ter alguém com quem dividir a vida, mas isso não a impede de curtir todo o resto. A grande verdade é que ela está tão de bem com suas escolhas que apenas gostaria de ter alguém com quem dividir estes momentos.
E esse alguém acaba por aparecer em uma de suas noites de dança: Arnold, interpretado pelo ótimo John Tortur.
A partir daí o roteiro foge do lugar comum, em que a mulher é sempre a parte carente da relação, aquela que some na relação, e mostra bem como, se neste mundo a vida pós 50 pode ser rica, ela também exige mais maturidade.
Ao acompanhar a relação dos dois, do encontro causal ao romance que envolve família e amigos, o roteiro passa longe das explicações desnecessárias ou de flashbacks “enche linguiça” e nos entrega a personagem de forma plena: podemos não ter visto o que ela viveu em seu passado, mas temos a certeza de que, hoje, Gloria é a melhor versão de si mesma.
Ainda que nem todos os momentos sejam felizes, ainda que corações se partam, ainda que em alguns momentos a gente se sinta só, esse reconhecimento de quem se é e o que não se quer para si na vida faz toda a diferença.
Então não acredite que Gloria Bell é um filme menor. Ele, com maestria, nos lembra da importância de coisas triviais e pequenas conquistas. Ele é, de certa forma, poético.