Cinema: Um Ato de Esperança

Neste momento penso em pouquíssimos atores que tenham tido coerência absoluta com as escolhas dos projetos com que se envolveram em sua carreia. Emma Thompson com certeza é uma dessas pessoas: mesmo quando escolhe um filme que seria apenas divertido, ele tem alguma mensagem, alguma profundidade.

Então eu não esperava nada diferente de Um Ato de Esperança, longa que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, dia 21 de março, contando a história de Fiona Maye (Thompson), uma juíza da Alta Corte Britânica que se depara com a difícil tarefa de escolher entre obrigar um garoto de 17 anos a aceitar uma transfusão de sangue essencial para seu tratamento contra o câncer ou respeitar a decisão dele e de sua família de negar o tratamento por conta de suas crenças religiosas.

Além de lidar com esta difícil decisão, Fiona enfrenta problemas com seu marido Jack (Stanley Tucci), que cobra o preço da ausência dela na relação por conta de seu trabalho.

Seja motivada por sua crise pessoal – que na verdade vai além do casamento, sendo um questionamento sobre suas decisões pessoais até aqui – Fiona toma a irregular e inesperada decisão de ir ao hospital conversar com o jovem Adam (Fionn Whitehead, de Dunkirk) e entender sua real motivação pela negativa do tratamento.

Fiona e Adam, então, passarão a refletir por seus dilemas pessoais, mas Adam tentará encontrar apoio, abrigo e respostas na juíza que passa a admirar.

O roteiro, uma adaptação de Ian McEwan de seu livro A Balada de Adam Henry, traça paralelos não somente entre os dilemas de seus personagens principais, mas também entre os vereditos de Fiona e seu casamento, um trabalho cuidadoso para tecer os pequenos detalhes de uma vida.

A Fiona de Thompson é intensa e ao mesmo tempo vulnerável. A atriz tem sido repetidamente elogiada por sua performance aqui e eu não consigo encontrar outro adjetivo que não seja soberba (e não posso não pensar que ela não ganhou estatuetas do Oscar o bastante). Suas expressões e olhares, seus silêncios e ausências, tudo nos demonstra o quanto a juíza se sente fragilizada e cansada.

Já o Jack de Tucci é um homem a procura de uma forma de retomar algo perdido, mas que não mudou o sentimento que tem por sua esposa. Ele se sente só em seu casamento – em um de seus vereditos Fiona fala, em paralelo, “O coração de Michael é normal e sustenta a vida dos dois” – e precisa de um sinal de que não é isso.

Enquanto Adam é um adolescente que sai da certeza absoluta oferecida por uma religião de regras rígidas para um estado em que nada mais é certo ou garantido, em que nenhuma resposta é fácil. E talvez ele simplesmente não estivesse preparado para esse peso.

Ainda que seu desfecho possa ser incompleto e despertar sentimentos ambíguos na audiência, acompanhar a reflexão destes dois personagens ao longo do filme mexe conosco de forma como poucas obras o fazem.

UM ATO DE ESPERANÇA
EUA – Inglaterra | 2017 | 105 min. | Drama
Título Original: The Children Act
Direção: Richard Eyre
Roteiro: Ian McEwan
Elenco: Emma Thompson, Stanley Tucci, Fionn Whitehead
Distribuição: A2 Filmes

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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