Cinema: Suprema

O ano é 1956 e Ruth Bader Ginsburg (Felicity Jones) é uma das únicas 9 mulheres presentes entre os 500 alunos do primeiro ano da faculdade de direito de Harvard. Enquanto ela caminha com seus saltos entre centenas de homens em ternos cinzas ouvimos a música que fala sobre os feitos dos 1000 Homens de Harvard (Ten Thousand Men Of Harvard).

Foi assim que Mimi Leder (uma diretora de filmes de ação como The Peacemaker e Deep Impact ) escolheu iniciar Suprema (On The Basis Of Sex) filme biográfico que conta a história de Ruth Ginsburg, segunda mulher a chegar à Suprema Corte dos EUA e, com certeza, a que mais chama atenção por suas posições liberais.

Antes que o fato de ser uma diretora de filmes de ação o desanime de assistir Suprema, é importante lembrar que Leder também dirigiu episódios de The West Wing e ER e isso sim é importante: duas séries em que os diálogos do roteiro são muito importantes e recheados de termos técnicos.

Tal experiência com certeza contou a favor neste projeto: sim, são muitos os termos jurídicos e as discussões sobre a melhor forma de apresentar uma petição ou fazer uma defesa oral, mas eles não assustaram sua diretora nem devem assustar a audiência (adoro quando um diretor parte do princípio que a audiência tem inteligência e não nos enche de explicações chatas). Em dado momento se fala da importância de um contrato bem feito, em outro sobre as minúcias das consequências de um determinado veredito para todo um sistema legal. E tudo isso pode ser sim tão empolgante quanto a possível queda de um cometa na Terra em um filme de ação.

Suprema não é, somente, um drama jurídico. Ele narra um importante cruzada no sistema legal e um casamento baseado em companheirismo. Ele fala sobre uma sociedade machista – exemplificada em dado momento em uma cena em que as novas alunas são humilhadas pelo reitor da universidade (Sam Waterston) – e sobre o mundo que muda antes das leis, em uma cena simples em que Jane Ginsburg (Cailee Spaeny) enfrenta uma situação intimidante na rua surpreendendo sua mãe.

(Jane que, como sua mãe, se tornaria advogada e professora)

Ao escolher focar no primeiro caso de discriminação baseada no sexo defendido por Ruth – defendendo um homem processado pela Receita Federal por ter deduzido as despesas com a cuidadora de sua mãe do imposto a pagar enquanto a lei dizia que apenas uma mulher ou um homem viúvo poderia fazê-lo – o roteiro acerta pois pode aprofundar sua história, o que não poderia se optasse por contar toda a vida da hoje juíza, e retratar melhor a forma como o mundo olhava para uma mulher.

Mulher, mãe, esposa, advogada. Se Marty Ginsburg (Armie Hammer, excelente no papel) apoiava incondicionalmente sua esposa, dividia com ela responsabilidade em casa e na educação da filha, Ruth teve que enfrentar muita oposição fora de casa. Algumas vezes teve de enfrentar até mesmo seus aliados: Mel Wulf (Justin Theroux) é o personagem que melhor exemplifica a condescendência com que muitas vezes uma mulher é tratada e que mesmo os homens mais progressistas tem seus problemas em lidar com mudanças.

“Porque fomos derrotados há cem anos, não significa que agora não possamos tentar ganhar” — disse o Atticus.

O sol é para todos, Harper Lee

Além de tudo isso, Suprema também nos mostra como Ruth Ginsburg soube olhar para o futuro e, com isso, mudar a forma como a defesa de casos de discriminação sexual eram abordados e decididos pelo tribunal superior: ela se tornou um símbolo da luta pelos direitos iguais e hoje, aos 85 anos, ainda é referência, inclusive para as gerações atuais.

 

Com Kathy Bates (Louca Obsessão) e Justin Theroux (A Garota no Trem), Suprema estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 14 de março de 2019, com distribuição da Diamond Films.

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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