O cenário é de tirar o fôlego: verde, verde, verde, uma ovelha aqui, uma vaca ali, céu azul, velhas casinhas charmosas com a cara daquela França que nunca muda – é isso que atrai turistas até lá, não é?
Só que bastante coisa mudou. O mundo mudou e agora as famílias de Mile sur Sarthe, que viviam sua vida nessas paisagens criando bois e ovelhas, se vêem a beira da falência, alguns na verdade faliram e apenas esperam que alguém venha lhe tirar o que sobrou.
Entre notícias que dizem que o consumo da carne vai matar todo mundo e a tentativa de se fazer ouvir fechando uma estrada com um protesto que não rende nem dois minutos nos noticiários, o clima geral é de desesperança, ainda que, como todos que passam por algo similar, você enxergue que eles não vão desistir de encontrar algum caminho.
Não que alguém imagine que esse caminho vai passar por toda a população de um vilarejo posando nua para o senhor Newman (Toby Jones).
Se você pensou em Ou Tudo ou Nada ou Garotas do Calendário você acertou. Assim como essas duas comédias do final dos anos 90, Normandia Nua, que chega aos cinemas nesta quinta-feira, dia 31 de janeiro, tem um ar comum (um crítico francês usou o termo doméstico para este), e ainda assim, quando menos espera, você vê você já está completamente envolvido.
Parte de seu sucesso vem de seu elenco, encabeçado pelo sempre ótimo Francois Cluzet (Intocáveis) no papel de prefeito da cidade, que tornam cada um dos personagens tão parecido com alguém que nós mesmos conhecemos e tão interessante como se nunca tivéssemos visto algo assim.
De diferente dos seus antecessores que citei, Normandia Nua não tem muitos momentos de risada solta – os que tem valem a pena, não me interpretem mal -, mas é cheio de momentos de sorrisos de reconhecimento, garante uma ou outra lágrima de canto de olho e garante a sensação de “coração quente” quando os letreiros começam a subir.
O principal da história, na verdade nada tem a ver como quem vai aceitar ou não tirar a roupa, mas o que os motiva, se o espírito do coletivo sobrevive até aos mais difíceis tempos de nossas vidas – e eu aceito de bom grado acreditar que sim.
Ah, detalhe importante: boa parte da história é narrada por Chloe (Pili Groyne), uma adolescente parisiense arrastada para a pequena cidade por seus pais que tentam uma vida nova, com novos valores, abandonando a loucura de cidade, fazendo o próprio pão e correndo ao nascer do sol em meio a mata não alterada. Uma das mais sutis e eficientes alfinetadas nas “mudanças” que o roteiro nos oferece.
Porque tudo muda, o mundo muda, mas a gente sabe que os franceses na verdade gostam das coisas como eles sempre foram, nostalgia que fica clara quando um dos camponeses se levanta e canta a bela Ils Ne Savent Plus, de François Budet (Eles não sabem mais o nome das fontes, Eles não conhecem mais o sabor da água, Eles não sabem mais o grito da corrente, Nas portas dos poços no ar).
Sinopse: Em Mêle sur Sarthe, uma pequena aldeia da Normandia, os agricultores são gravemente afetados pela crise. Georges Balbuzard, o prefeito da cidade, não aceita a difícil situação e decide tentar de tudo para salvar seu povoado. Por obra do destino, Blake Newman, um grande fotógrafo conceitual, que tem por estilo deixar a multidão sem roupas para suas fotos, está passando pela região. Balbuzard vê nesse encontro a oportunidade de salvar sua aldeia, resta saber se a população estará disposta a ficar nua. Do mesmo diretor de “As Mulheres do Sexto Andar” e “Pedalando com Molière”.
Título Original: Normandie Nue
Direção: Philippe Le Guay
Roteiro: Philippe Le Guay, Olivier Dazat
Elenco: François Cluzet, François-Xavier Demaison, Julie-Anne Roth
Distribuição: A2 Filmes
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