Cinema: Nasce Uma Estrela

Tão talentosa quanto polêmica, Lady Gaga está longe de ser uma unanimidade no gosto do público. Megalomaníaca para alguns, lenda do showbizz para outros, a cantora americana sempre divide opiniões em qualquer projeto que se meta a fazer. Não seria diferente agora, se lançando como atriz de maneira “oficial” (já tinha feito algumas participações em seriados), com o longa Nasce uma Estrela.

No entanto, para além da eventual birra que a controversa cantora possa despertar, é preciso uma dose galopante de cinismo para não se render aos encantos de Stefani Joanne Angelina Germanotta, nome verdadeiro de Lady Gaga, em seu mais novo filme.

Nasce uma Estrela vem sendo divulgado à exaustão nos últimos meses e causando muita expectativa. O fato de ser o terceiro remake do filme também fez a régua para essa versão de 2018 ficar lá em cima. A trama, que já foi protagonizada por ícones como Judy Garland e Barbra Streisand em versões anteriores, soa um pouco datada para nossas mentes idealistas e empoderadas dos anos 2000 e pouco. Ainda assim, é capaz de comover e fazer suspirar. E muito por conta da atuação de Gaga.

Nasce Uma Estrela traz a trágica história de amor entre o experiente músico Jackson Maine (Bradley Cooper) e a desconhecida artista Ally (Lady Gaga). Quando eles se apaixonam, ela está prestes a desistir de seu sonho de se tornar uma cantora de sucesso. Até que Jack a convence a mudar de ideia. No entanto, quando a carreira de Ally começa a decolar, o relacionamento dos dois desanda, à medida que Jack precisa lidar com seus próprios demônios.

Nesse ponto, é preciso lembrar que não só de Lady Gaga é feito Nasce Uma Estrela. O longa, na verdade, só existe por conta da realização de Bradley Cooper, que tomou o projeto para si, assumiu direção e aprendeu a cantar e tocar em ordem de co-protagonizar o filme ao lado de Gaga. Nasce Uma Estrela, a propósito, marca a estreia de Cooper como diretor.

Sobre a direção, é preciso dizer que ela casa perfeitamente com a intensidade da história que se pretende contar. A câmera “namora” tanto Cooper quanto Gaga, em closes de rosto que se alternam, mostrando que o casal de protagonista só vê um ao outro, só tem olhos um para o outro. E, assim, nos apaixonamos também.

Como dito, a história de uma mulher que realiza um sonho pela mãos do homem ao seu lado, que abre mão de outros tantos sonhos pelo mesmo homem, pode parecer datada e até machista hoje. No entanto, a força dessa paixão, que transborda na química entre o casal protagonista, é algo que não pode ser ignorado. É o que torna a história sublime e, portanto, atemporal.

E Lady Gaga como atriz, é realmente boa? Incrivelmente é. Deixando sua famosa canastrice de lado, Gaga não se parece com o ícone pop que é, cuja persona forte se impõe de maneira quase agressiva a cada novo álbum. Pelo contrário, está mais próxima da menina que ela era antes de se tornar o monstro pop que conhecemos hoje. Parece mais a Stefani Germanotta do começo de carreira, obstinada e doce, procurando seu lugar ao Sol e não muito convicta de seu talento. Seu sorriso na telona, a piada com o nariz grande italiano, tudo encaixa com a narrativa que se conta, e Gaga se entrega sem medo, deixando o ego de lado e vivendo Ally como a personagem realmente é. Quando canta, quem vemos é Ally. Não há sombra de Lady Gaga, não há nenhum resquício dos trejeitos de Gaga no palco. É Ally e somente Ally.

E Bradley Cooper, convence como astro pop? Bom, será que ainda resta alguma dúvida sobre a capacidade dele? Em Nasce Uma Estrela, Cooper foge do fácil e decide criar seu próprio Eddie Vedder country, ou algo que o valha, e entrega uma interpretação que funciona e intriga. Sua voz está completamente diferente, lembrando muito o trabalho vocal que Heath Ledger fez para “O Segredo de Brokeback Mountain”: um tom mais grave, seco, que deixa claro nas entrelinhas quanto sofrimento o personagem carrega dentro de si.

Por fim, não podemos deixar de falar dos número musicais. As canções do filme são todas originais e foram compostas por Gaga, Cooper e vários outros artistas, incluindo Lukas Nelson, Jason Isbell e Mark Ronson. Além disso, todas as músicas foram gravadas ao vivo. Não há dublagem, não há jogo de cena. Apenas interpretações vicerais, que nos ajudam a entrar no clima de magnética história de amor que está sendo contada.

Nasce Uma Estrela, dizem, já é material para Oscar. As criticas e ovações que o filme tem recebido ao redor do mundo denotam isso. E se você assistir ao filme, não terá a menor dúvida. Como uma história de amor perdida no tempo, Nasce Uma Estrela nos faz ressignificar o amor, os sonhos e a força que essas duas coisas têm, quando combinadas.

Um clássico que se renova, pelo poder do amor.

O elenco de Nasce uma Estrela também inclui Andrew Silverstein (mais conhecido como Andrew Dice Clay), Dave Chappelle e Sam Elliott. Nasce uma Estrela é produzido por Bill Gerber, Jon Peters, Bradley Cooper, Todd Phillips e Lynette Howell Taylor. Ravi Mehta, Basil Iwanyk,Niija Kuykendall, Sue Kroll, Michael Rapino e Heather Parry são Produtores executivos. O roteiro é de Eric Roth e Bradley Cooper & Will Fetters. Colaboram com Cooper nos bastidores o diretor de fotografia indicado ao Oscar Matty Libatique (“Cisne Negro”), a desenhista de produção Karen Murphy, o editor três vezes indicado ao Oscar Jay Cassidy (“Trapaça”, “O Lado Bom da Vida”, “Na Natureza Selvagem”) e a figurinista Erin Benach.

A Warner Bros. Pictures apresenta, em associação com a Live Nation Productions, em associação com a Metro-Goldwyn-Mayer Pictures, uma produção Jon Peters/Bill Gerber/Joint Effort, Nasce uma Estrela. Com lançamento previsto para 11 de outubro de 2018, o filme será distribuído mundialmente pela Warner Bros. Pictures, uma empresa da Warner Bros. Entertainment.

Escrito por Tati Lopatiuk

Tati Lopatiuk é redatora e escritora em São Paulo. Gosta de romances em seriados, filmes, livros e na vida. Suas séries favoritas são Girls, The Office e Breaking Bad. Pois é.

Seus livros estão na Amazon e seus textos estão no blog.

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