Cinema: Sexy Por Acidente

Pergunte para qualquer mulher em seu círculo de amizades se ela está 100% satisfeita com seu corpo. É provável que você só encontre respostas negativas ou desanimadas. Reflexo de um inalcançável padrão de beleza imposto pela sociedade, as mulheres são desde pequenas acostumadas a pensar que ficariam mais bonitas se tivessem isso ou aquilo diferente. E não importa quão bonitas de verdade elas realmente sejam. A crítica interna é sempre pesada e sempre vem.

Amy Schumer faz comédia desse “dilema” feminino em Sexy Por Acidente (I Feel Pretty), que chega dia 28 de junho aos cinemas brasileiros, com distribuição Paris Filmes. No filme, a atriz interpreta a insegura Renée, que não enxerga sua beleza e acaba ofuscada pela busca de um padrão inalcançável. Visando alcançar tal ideal, Renée começa a fazer spinning para emagrecer, mas é desajeitada e acaba caindo da bicicleta. Na queda, algo muda na sua percepção e ela começa a se enxergar como uma pessoa perfeita, embora por fora não tenha mudado em absolutamente nada.

A relação com o já clássico O Amor é Cego é instantânea. Assim como no filme dos irmãos Farrelly, Renée representa a nossa vontade primal de ser aceita, de estar dentro de um padrão para que possamos ser amadas. No longa de Amy Schumer, no entanto, a questão é tratada com muito mais delicadeza. E se O Amor é Cego usou do humor como ofensa, fazendo piada de pessoas obesas e usando de um humor desagradável que acabou tornando-o datado e politicamente incorreto hoje, o filme de Schumer aponta para outro lado, mirando na aceitação e no amor-próprio.

Em momento algum a personagem de Schumer diz o que mudou em seu corpo para que agora ela se sentisse perfeita. Quando se olha no espelho, o que vemos da personagem é que ela continua sendo exatamente a mesma pessoa. Mas ela se vê como alguém com o corpo ideal e essa sensação lhe dá uma confiança enorme. E é com essa confiança que ela muda completamente sua vida, conquistando um relacionamento amoroso, o emprego dos sonhos e, é claro, se metendo em hilárias confusões.

Sexy Por Acidente causou alguma polêmica quando, no início de sua divulgação, a comunicação visual mostrava Amy Schumer em um “antes e depois” entre gorda e magra. Assistindo ao filme, vemos que a mensagem dessa divulgação era ainda mais sem sentido por destoar por completo da mensagem que o filme nos passa. Houve então uma correção de rota e, antes que essa visão equivocada de “perfeição” fizesse o filme naufragar, os cartazes de “antes e depois” sumiram e deram lugar à Renée como ela é de verdade: um tanto acima do peso na concepção de alguns, mas adorável e divertida.

O filme ainda nos dá o grande privilégio de ver Michelle Williams em um papel de comédia, hilária como a poderosa (e insegura!) gestora de uma famosa marca de cosméticos. É tão bom ver Williams em um personagem leve, sem dramas! A produção também reúne as modelos Naomi Campbell e Emily Ratajkowski, além das atrizes Aidy Bryant (Saturday Night Live), Busy Philipps (Dawson’s Creek, Freaks & Geeks, Unbreakable Kimmy Schmidt) e a super diva Lauren Hutton (Gigolô Americano, Studio 54).

Com um humor leve, que não ofende, mas faz pensar, o que temos com o filme é a mensagem de que confiança e o amor-próprio vêm de dentro, não importando a aparência que você vê no espelho. É claro, essa aceitação é uma construção pessoal que vem com os anos e nos exige muito e não é um filme que vai mudar a nossa cabeça por completo, como um tombo de bicicleta fez com Renée. Mas, de qualquer forma, já é um excelente começo. Afinal, se for para mudar a forma como pensamos, qual o motivo de não fazê-lo com leveza e graça?

Com direção e roteiro de Abby Kohn e Marc Silverstein, produção Wonderland Sound and Vision e Voltage Pictures, “Sexy Por Acidente” tem distribuição brasileira pela Paris Filmes e chega aos cinemas do país nesta quinta, 28 de junho.

Escrito por Tati Lopatiuk

Tati Lopatiuk é redatora e escritora em São Paulo. Gosta de romances em seriados, filmes, livros e na vida. Suas séries favoritas são Girls, The Office e Breaking Bad. Pois é.

Seus livros estão na Amazon e seus textos estão no blog.

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