Jeannette Walls (vivida de forma precisa por Brie Larson) é uma mulher bonita e bem sucedida. Jornalista de uma grande revista americana (final dos anos 80, começo dos 90), ela está prestes a se casar com um homem bonito e também bem sucedido, vivendo em um grande apartamento decorado daquela forma clássica que adultos que tiveram sua vida planejada desde sempre decoram.
Só que Jeannette está longe de ter tido sua vida planejada desde o primeiro instante: filha de Rex, um homem de enorme imaginação e alcóolatra (vivido por Woody Harrelson), e de Rose Mary, uma artista (Naomi Watts) que acredita que quadros são mais importantes que comida para os filhos, ela passou a primeira parte de sua vida indo de uma casa abandonada para outra, tomando banho em piscinas públicas, fugindo para não pagar a conta do hospital, algumas vez dormindo ao ar livre e ficando sem comer por dias.
Seus pais viviam uma vida excêntrica, em grande parte por causa do vício de Rex, mas também porque queriam fugir para longe da onde cresceram, uma dessas cidades pequenas e frias do interior dos EUA onde a decadência parece tomar conta de toda vizinhança, e essa fuga parece mais importante que qualquer outra coisa.
Principalmente querem fazer as coisas do seu jeito, tomar o destino nas próprias mãos e provar seu valor. Só que a visão romântica desta vida de aventuras dura muito pouco frente à amostra de realidade que O Castelo de Vidro nos entrega – longa que estreia nas salas nacionais amanhã, dia 24 de agosto.
Baseado no best-seller de mesmo nome, o filme intercala o presente de Jeannette, no início dos anos 90, e seu passado. Os dois arcos são muito bem trabalhados e se seria mais fácil apenas julgar Rex e suas decisões, bem, Woody Harrelson torna este julgamento bem mais difícil e entrega uma das melhores atuações de sua vida.
O ator, na verdade, enfrentou seus próprios demônios no passado: seu pai foi preso por assassinato quando ele ainda era criança e acabou morrendo na prisão e é descrito por Harrelson como um homem que “lutava contra a leveza e a escuridão.”
O filme é perfeito ao desenhar a relação entre a menina Jeannette (e vale destacar o trabalho das duas jovens atrizes que interpretam o crescimento da personagem) e Rex: é fácil reconhecer o olhar apaixonado de uma menina por seu pai, que acredita que ele será capaz de qualquer coisa, que se esquece do que deu errado agora há pouco. Sabe aquela magia do beijo de uma mãe que tira a dor de um machucado no joelho de seu filho? Ao longo do crescimento de Jeannette essa magia precisa acontecer várias vezes
Só que, justamente por ser usada vezes demais, essa magia vai perdendo a força ao longo dos anos – também porque Rex é capaz de uma crueldade ímpar quando percebe ter suas atitudes ou valores questionados – e vemos Jeannette sendo forçada a amadurecer antes do tempo, ela se torna uma sobrevivente e, pelo menos nesta visão, ela e os irmãos criam um laço capaz de fazê-los fugir dali.
O segundo arco, no tempo presente, mostra como, ao fugirmos, muitas vezes não escolhemos o que queremos, apenas buscamos o exato oposto daquilo que nos assusta. O quanto, ao decidirmos nos afastar de alguém de todo modo, essa pessoa ainda dita nossas reações e vazios.
O filme, dirigido por Destin Daniel Cretton (Temporário 12), acerta nas trocas entre os dois arcos, construindo os personagens principais com cuidado e permite que tomem seus espaços a medida que crescem – algo fundamental para as trocas entre pai e filha -, sendo uma pena o fato das vidas dos demais não serem mais exploradas (o que nos impediria de sair do cinema no mesmo dia, eu sei).
Além disso, a escolha das locações que se tornam o cenário desta história intensa e da trilha sonora acabam por embrulhar cuidadosamente esse “pacote”.
Nos lembrando que até podemos achar estar no controle das coisas, mas a vida é mais o resultado do que nos acontece que qualquer outra coisa.
Sinopse – O Castelo de Vidro
Crônica das aventuras de uma família excêntrica, resiliente e intrigante, “O Castelo de Vidro” apresenta uma notável história de amor incondicional. A vencedora do Oscar®, Brie Larson dá vida o best-seller mais recente de Jeannette Walls, que, influenciada pela natureza alegremente selvagem de seu pai profundamente disfuncional (Woody Harrelson), encontrou a determinação ardente de criar uma vida bem sucedida em seus próprios termos.
Ficha técnica
Direção: Destin Daniel Cretton
Roteiro: Destin Daniel Cretton, Andrew Lanham
Elenco: Brie Larson, Woody Harrelson, Naomi Watts, Max Greenfield, Sarah Snook, Robin Bartlett