Cinema: Moonlight – Sob a Luz do Luar

“Uma hora você tem que decidir quem será. Não deixe que decidam por você.”

A frase acima é dita por Juan (Mahershala Ali, de House Of Cards, excelente aqui) para Little (Alex R. Hibbert) no “primeiro ato” desta obra.

Moonlight – Sob a luz do luar nos conta a história de Chiron em três atos.

Ainda criança ele é chamado de Little (Alex R. Hibbert) pelo colegas, que fazem pouco de sua pequena estatura, de seu jeito de andar, de suas óbvias dificuldades em encará-los. O cenário é o subúrbio de Miami, a mãe de Little, Paula (Naomie Harris), sustenta o vício em cocaína como pode, e é difícil imaginar um futuro em que a vida dele vá além disso.

Ironicamente ele encontrará algum conforto quando Juan entra em sua vida. O homem que vende drogas para sua mãe é o único a lhe estender a mão, deixando que Little fuja por algumas horas para a casa em que ele mora com a namorada Teresa (Janelle Monáe).

É Juan que explica a Little sobre como a pele negra parece azul sob a luz do luar e lhe ensina a nadar. Nos momentos em que os dois estão juntos esquecemos como Juan ganha sua vida, e o efeito disso na vida do próprio Little, e acreditamos que o menino pode fazer para si um destino diferente daquele que parece a única opção disponível.

Na adolescência, o segundo ato, Chiron (Ashton Sanders) é um adolescente que, infelizmente e realmente, não conseguiu ultrapassar as barreiras de sua vida. Continua com medo dos colegas, continua buscando alguma fuga na casa de Teresa e sua mãe nunca esteve pior.

É o momento em que nos lembramos da frase com que abri este texto e pensamos: será que Chiron poderá decidir realmente?

O terceiro ato nos traz um Chiron mais forte fisicamente, ele agora atende por Black (Trevante Rhodes), mas que não abandonou seus trejeitos, ainda poucas frases de apenas três palavras e tem uma tristeza no olhar que te assusta.

Ashton Sanders e Trevante Rhodes fazem um trabalho magistral ao manterem a essência do menino ainda que ele cresça e mude, ainda que os atos das pessoas a sua volta – sua mãe, Juan, Teresa, o amigo Kevin (Jaden Piner, Jharrel Jerome e André Holland) e o rapaz Terrel (Patrick Decile) – deixem suas marcas.

Resumir Moonlight como a história do amadurecimento de Chiron seria reduzir o que vemos na tela e a forma como isso nos toca. Entendam bem, não falamos de um dramalhão que abusa de situações para que nos importemos com seu personagem principal. Ainda que os problemas que ele enfrenta possam passar longe de nossa realidade – a pobreza extrema, a dificuldade de se encontrar sexualmente, o abuso por parte de amigos e da própria mãe – você não fica indiferente, o que você vê na tela são seres humanos lutando para encontrar algum sentindo e alguma felicidade.

Mérito que atribuo tanto aos atores quanto a direção precisa: não existem sobras, discursos “educadores”, lágrimas de crocodilo, cada cena, cada sequência, apresenta exatamente o pedaço da história que precisa ser contado. Uma história contada usando os recursos que fazem do cinema o que ele é: as cores, dos cenários e vestuário; os planos de cena, algumas vezes câmeras na mão, algumas vezes planos abertos; a trilha sonora, que passa até por Caetano Veloso.

Uma daquelas idas ao cinema que faz com que você saia apenas depois dos letreiros subirem, sensibilizado, pensativo. Não é sobre gostar do filme, mas sobre se deixar tocar por ele.

 

Moonlight conquistou indicações para o Oscar 2017 nas categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz Coadjuvante (Naomie Harris), Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali), Fotografia, Direção, Edição, Trilha Sonora e Roteiro Adaptado e chega aos cinemas brasileiros no próximo dia 23 de fevereiro.

Escrito por Simone Fernandes

Formada em contabilidade, sempre teve paixão pela palavra escrita, como leitora e escritora. Acabou virando blogueira.

Escreve sobre suas paixões, ainda que algumas venham e vão ao sabor do tempo. As que sempre ficam: cinema, literatura, séries e animais.

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